Moçambique enfrenta maior tensão militar desde o Acordo Geral de Paz

Da Redação
Com Lusa

Foto Arquivo: Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, durante audiência no Palácio Presidêncial, julho de 2011, em Maputo. ANTÓNIO SILVA/LUSA
Foto Arquivo: Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, durante audiência no Palácio Presidêncial, julho de 2011, em Maputo. ANTÓNIO SILVA/LUSA

A tensão militar causada pelo assalto à base da Renamo, principal partido da oposição em Moçambique, e a incerteza gerada pela fuga do líder do movimento para parte desconhecida está nas manchetes da imprensa moçambicana.

Afonso Dhlakama, alguns colaboradores próximos e a sua guarda pessoal abandonaram, em 21 de outubro, o acampamento onde o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) vivia há mais de um ano, no centro do país, devido a um ataque do exército moçambicano ao local.

Pelo segundo dia consecutivo após a investida do exército a Sandjunjira, os jornais moçambicanos dão destaque à tensão militar mais grave que Moçambique enfrenta desde o Acordo Geral de Paz (AGP) de 1992, que acabou com 16 anos de guerra entre a Renamo e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).

“Não há declaração de guerra no país”, é a manchete do principal diário do país, o Notícias, com a afirmação de Edson Macuácuá, porta-voz do Presidente moçambicano, Armando Guebuza. Edson Macuácuá rejeita a ideia de que o ataque a Sandjunjira sinaliza o reinício da guerra em Moçambique.

O Presidente moçambicano defendeu a necessidade de se manter o diálogo com a Renamo. O tempo, disse Guebuza, “não é apropriado para inimizades, pois o maior perdedor é o povo moçambicano”. O chefe de Estado moçambicano, que falava em Mucheve, no segundo dia da sua presidência aberta em Sofala, acusou a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) pelos recentes confrontos armados, na serra da Gorongosa, também naquela província do centro do país.

A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição em Moçambique, denunciou o acordo de paz que assinou em 1992 com o Governo de Maputo, após a base do seu líder, Afonso Dhlakama, ter sido atacada e tomada pelo exército.  “A atitude irresponsável do comandante em chefe das Forças Armadas pôs termo ao acordo de paz de Roma”, disse então o porta-voz da (Renamo), Fernando Mazanga, referindo-se ao Presidente Guebuza.

Mazanga falava na tarde de segunda-feira, em Maputo, numa conferência de imprensa, na qual confirmou que o exército moçambicano “fustigou e tomou” a residência de Afonso Dhlakama, no centro do país, obrigando-o a abandonar a casa para um local não revelado, onde “está de boa saúde”.

“O objetivo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e do seu Presidente, Armando Guebuza, é assassinar o Presidente Afonso Dhlakama, para subjugarem a vontade dos moçambicanos, pois ele jamais permitiria que os moçambicanos fiquem acorrentados na ideologia de partido único”, acusou Fernando Mazanga.

Apelando para a calma dos moçambicanos, o porta-voz da Renamo declarou que o líder do movimento ainda não “ordenou” a resposta das suas forças à alegada incursão do exército, tendo “autorizado” apenas a retirada da população que vive perto da residência.

Pouco tempo depois, o Governo de Moçambique confirmou o ataque naquela base. Em declarações aos jornalistas, o diretor nacional de Política de Defesa no Ministério da Defesa de Moçambique, Cristóvão Chume, disse que as forças governamentais posicionadas na zona de Sandjudjira “foram atacadas pelos guerrilheiros da Renamo”, portanto houve uma resposta.

Em Portugal
O Governo português acompanha com preocupação a situação em Moçambique, nomeadamente na Gorongosa, e lamenta a perda de vidas humanas, divulgou o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Em nota à imprensa, o ministério “faz votos” para que se regresse rapidamente a um quadro de normalidade e que Moçambique “prossiga no caminho do desenvolvimento econômico e do progresso social”.

O presidente da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique considerou que a escalada de violência que se vive no país “não terá influência nos negócios” e mostrou-se convicto de que a situação “vai resolver-se rapidamente”.

No Brasil
O Ministério das Relações Exteriores disse que o governo brasileiro acompanha com preocupação os incidentes ocorridos e que o “Brasil acredita que a busca de soluções para as divergências entre as partes deve perseverar no caminho do diálogo e da negociação, em quadro de fortalecimento do Estado de Direito, das instituições democráticas e da estabilidade”.

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