Da Redação com Lusa
O ministro português dos Negócios Estrangeiros comparou hoje a morte do opositor russo Alexei Navalny à do general Humberto Delgado, durante o Estado Novo, indicando que a União Europeia (UE) aguarda informação sobre as causas para avançar com sanções.
“Não temos dúvidas nenhumas que Navalny morre porque o regime que Putin criou levou à sua morte, da mesma maneira que Humberto Delgado morre por causa do regime liderado por Salazar em Portugal”, declarou João Gomes Cravinho.
Falando à imprensa portuguesa em Bruxelas três dias depois do anúncio da morte de Alexei Navalny e após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, o chefe da diplomacia portuguesa apontou que a União ainda está “a procurar recolher informação sobre o que se passa [porque] as autoridades russas ainda não libertaram o corpo de Navalny”.
“Quando recebermos informação concreta de pessoas diretamente responsáveis pela morte de Navalny ou pelo tratamento dado a outros presos políticos na Rússia, serão sancionados, mas ainda não temos esses elementos”, assinalou, quando questionado sobre eventuais medidas restritivas a aplicar, ideia já mencionada pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Os chefes da diplomacia da UE receberam hoje em Bruxelas a mulher do opositor russo Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, para enviar uma mensagem de apoio comunitário à luta pelos direitos humanos.
“Tivemos um momento em que pudemos prestar homenagem a Alexei Navalny e ouvir uma voz muito poderosa e corajosa da sua mulher”, disse João Gomes Cravinho à imprensa portuguesa.
Depois de Josep Borrell ter anunciado, ao início do dia, que o regime de sanções para violações dos direitos humanos vai ser renomeado para homenagear Alexei Navalny, o governante português indicou que o alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança “tem a concordância” dos 27 ministros, para que o nome deste ativista “seja perpetuado”.
Alexei Anatolievitch Navalny, 47 anos, cuja morte foi anunciada na sexta-feira, era o principal opositor do regime do Presidente russo, Vladimir Putin.
Hoje, os chefes da diplomacia da União Europeia debateram ainda a guerra na Ucrânia causada pela invasão russa, em fevereiro de 2022, com uma conversa por videoconferência com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba.
Ainda nas declarações aos jornalistas portugueses, João Gomes Cravinho destacou a “grande urgência de fornecer as munições de que a Ucrânia tem necessidade”.
Investigação
A UE exigiu à Rússia que permita uma investigação internacional independente às circunstâncias da “morte súbita” de Alexei Navalny.
“A Rússia deve permitir uma investigação internacional independente e transparente sobre as circunstâncias desta morte súbita. A UE, em estreita coordenação com os parceiros, não poupará esforços para responsabilizar a liderança política e as autoridades russas, e para impor consequências pelos seus atos, nomeadamente através de sanções”, disse o alto representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, citado em comunicado.
O chefe da diplomacia europeia disse que a UE “está indignada com a morte do político da oposição russa Alexei Navalny, cuja responsabilidade recai, em última instância, sobre o Presidente [da Rússia] Vladimir Putin e as autoridades russas”.
“Alexei Navalny teve a coragem de regressar à Rússia após uma tentativa de assassinato com recurso ao agente neurotóxico ‘Novichok’, que está proibido pela Convenção sobre as Armas Químicas e da qual a Federação da Rússia é um Estado-parte”, acrescentou Borrell.
O opositor ao regime de Putin estava “a cumprir várias penas com motivações políticas numa colónia penal na Sibéria com condições rigorosas” e a UE considerou que foi transferido para este estabelecimento prisional para ficar isolado do resto do mundo.
“O acesso a Alexei Navalny por parte da família estava restringido. Os seus advogados têm sido assediados e três deles encontram-se em prisão preventiva desde outubro de 2023”, referiu.
Para os 27, a “morte inesperada e chocante de Alexei Navalny é mais um sinal da intensificação da repressão sistemática na Rússia”.
Borrell apelou à libertação “imediata e incondicional” de todos os “presos políticos, incluindo Yuri Dmitriev, Vladimir Kara-Murza, Ilya Yashin, Alexei Gorinov, Lilia Chanysheva, Ksenia Fadeeva, Alexandra Skochilenko e Ivan Safronov”.
Alexei Navalny, um dos principais opositores de Vladimir Putin, morreu a 16 de fevereiro, aos 47 anos, numa prisão do Ártico, onde cumpria uma pena de 19 anos.
Destacados dirigentes ocidentais, a família e apoiantes do opositor responsabilizam o presidente russo, Vladimir Putin, pela sua morte.