Da Redação
A pesca marinha e interior contribuem de maneira crucial e crescente para a segurança alimentar, nutricional e de subsistência. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, destaca, no entanto, que o setor está atualmente num importante momento de decisão.
A agência diz que apesar de sucessos significativos, há uma tendência geral decrescente na proporção de peixes marinhos capturados dentro de níveis biologicamente sustentáveis, especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Ao mesmo tempo, a pesca interior é profundamente afetada pela crescente demanda por peixes de água doce.
Para discutir a questão, a agência da ONU realiza até esta quinta-feira em Roma, na Itália, o Simpósio Internacional sobre Sustentabilidade Pesqueira. Um dos participantes do evento foi o ministro do Mar de Portugal, Ricardo Serrão Santos, que falou sobre as maiores dificuldades enfrentadas pela área.
“Um dos grandes desafios é combater o estigma das pescarias ilegais, não reportadas e não regulamentadas, que ainda representam uma grande percentagem. Por outro, diminuir aquilo que são as perdas nas pescarias e as perdas com desperdícios que ainda se fazem e que representam de acordo com dados da própria FAO, cerca de 35% dos alimentos que são tirados do mar. Isso é um dos estigmas que é preciso resolver. Se de fato queremos contar com o mar como fornecedor de recursos alimentares também temos que geri-lo melhor no âmbito dos novos modelos de econômica circular, de uma gestão mais sustentável de recursos com melhores modelos de avaliação e melhor predição.”
Exploração Excessiva
O ministro acredita que uma das questões é quanto à exploração excessiva dos recursos marinhos, que cria problemas graves ao abastecimento dos alimentos a nível internacional, local e regional.
Nesse sentido, o representante destaca que existem sinais positivos de estoques bem geridos e que foram recuperados, com controle e fiscalização adequados.
No entanto, Serrão aponta que uma grande quantidade de recursos pesqueiros está sendo explorada com um rendimento máximo acima do sustentável. De acordo com a FAO, enquanto a população humana cresce 1,5% ao ano desde 1960, o consumo de proteína do peixe aumenta 3%.
“Nós sabemos que as populações costeiras são extremamente dependentes dos alimentos do mar, não só para nutrientes como também para terem acesso às proteínas. Se não fizermos uma gestão correta e não combatermos também alguns estigmas como as pescas ilegais, não regulamentadas e não reportadas estaremos desperdiçando muito daquilo que um oceano saudável pode nos dar.”
Lusófonos
O ministro do Mar em Portugal enfatizou ainda a importância do setor pesqueiro para os países lusófonos e suas áreas costeiras.
“Na próxima semana vamos ter uma reunião de ministros das pastas relacionadas com o mar e com as pescas em Cabo Verde, no âmbito da Semana dos Oceanos que ali decorre. A pesca é uma questão muito importante nos países lusófonos e espero que desenvolvamos uma maior cooperação entre todos os países lusófonos no sentido de alinharmos políticas que estejam também alinhadas com a década para o desenvolvimento sustentável para melhoramos as questões, não só da pesca como do processamento do pescado, da segurança do trabalho dos pescadores e da troca de valores.”
Em 2020, Portugal sediará em Lisboa a Conferência da ONU sobre Oceanos. Serrão destacou que o evento abordará temáticas como a da pesca e muitas outras, na busca de posições comuns de apoio do uso sustentável dos oceanos e da biodiversidade.