Da Agencia Lusa, Portugal
O investigador Moisés Fernandes defendeu quarta-feira em Lisboa que o Fórum Macau, uma iniciativa do governo chinês, se vai tornar na verdadeira Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), garantindo a “efectiva ligação entre todos os espaços lusófonos”.
“Estou cada vez mais convencido que esta vai ser a verdadeira CPLP”, disse Moisés Fernandes numa conferência que proferiu quarta-feira ao fim da tarde no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A conferência, subordinada ao tema “Macau como plataforma da China para a Lusofonia”, resultou de uma parceria conjunta da Associação dos Amigos do Arquivo Histórico-Diplomático, do MNE, e do Instituto Confúcio, da Universidade de Lisboa.
Moisés Fernandes, que é director do Instituto Confúcio, salientou que enquanto a CPLP “é muito política, diplomática e protocolar”, o Fórum Macau “vai mais além”, contemplando as relações económicas e comerciais.
O Fórum Macau surgiu em 2003, numa iniciativa do governo chinês, com a organização do executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), para intensificar a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa.
A pujança do Fórum Macau e o seu sucesso são demonstrados pelo crescimento superior a 700 por cento das trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa entre 2002 e 2007, em que passou de 6,52 mil milhões de dólares (4,2 mil milhões de euros) para 46,35 mil milhões de dólares (30,1 mil milhões de euros).
Todavia, reconheceu, quando se considera unicamente o ano de 2007, verifica-se que, de entre os oito Estados que fazem parte da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) 99 por cento das trocas comerciais são reservadas a três países: Brasil (64 por cento), Angola (30 por cento) e Portugal (cinco por cento).
Os restantes países da CPLP, à excepção de São Tomé e Príncipe, totalizam apenas um por cento do total das trocas comerciais com a China.
São Tomé e Príncipe tem apenas estatuto de observador no Fórum Macau por manter relações diplomáticas com Taiwan, com o qual a China mantém um diferendo de soberania.
Moisés Fernandes acredita que a prazo tanto Moçambique, a Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe – “neste caso quando começar a exploração de petróleo”, considerou – “virão a ser muito importantes para a China”.
“Outro país que vai ser muito importante é Timor-Leste, porque tem gás e petróleo, recursos naturais que a China precisa cada vez mais para manter os seus níveis de crescimento e desenvolvimento”, sustentou.
Moisés Fernandes é de opinião que no caso de Timor-Leste “existem duas complicações: a instabilidade interna e a preponderância da Austrália”.
“Aqui pode haver, nos próximos anos, uma grande convergência entre a China e Portugal para se diluir a hegemonia australiana em Timor-Leste”, considerou.
Aquele investigador acrescentou que outros países do Sudeste Asiático, como a Indonésia e a Malásia, poderão convergir com Pequim e Lisboa para contrariar a influência de Camberra. “Isto abre as portas a Portugal”, acentuou.
Nesta estratégia chinesa, em que as “elevadas taxas de crescimento económico têm contribuído para uma crescente dependência de recursos naturais estrangeiros”, o papel de Macau é “fundamental” e “compensa o facto de não ser uma praça financeira como é Hong Kong”, salientou Moisés Fernandes.
“Enquanto se mantiverem os elevados índices de crescimento económico da China, o interesse pelos países de língua portuguesa vai permanecer”, destacou, frisando que “por razões históricas e geoculturais, Macau é de facto uma plataforma privilegiada para a canalização dos interesses chineses nos países de língua portuguesa, e o contrário também”.
A este respeito, Moisés Fernandes deu o exemplo da grande procura que existe na China para a aprendizagem da língua portuguesa, em que, face à falta de capacidade de resposta das sete universidades públicas chinesas, Macau surge como a solução, “como o mais importante centro de aprendizagem da língua portuguesa”.
“Anualmente, mais de oito mil chineses de Macau e da China continental têm vindo a inscrever-se nos cursos de língua portuguesa na Região Administrativa Especial de Macau”, concluiu.