Da Redação
Com Lusa
O ministro da Defesa Nacional de Angola, Salviano Sequeira, elogiou a cooperação que Portugal tem prestado na formação de militares angolanos, através de um programa-quadro que será prolongado até 2021, falando mesmo numa “sã e profícua parceria”.
O general Salviano Sequeira discursou, na sede do Ministério da Defesa Nacional, na cidade alta, em Luanda, no início da 17.ª reunião bilateral luso-angolana no domínio da Defesa, na presença do homólogo português, José Azeredo Lopes, que iniciou esta segunda-feira uma visita oficial de cinco dias a Angola.
Para o ministro angolano, a participação de Portugal em projetos de cooperação com Angola no domínio da formação “tem sido de grande valia, sendo a língua comum facilitadora dessa cooperação”.
“A este nível existe um programa-quadro a partir do qual se desenvolvem projetos específicos, com cursos técnicos em Portugal e Angola e esta área de cooperação tem decorrido de forma satisfatória, uma vez que ela está sendo implementada de forma articulada e coerente, o que é compensador para os dois países”, sublinhou Salviano Sequeira.
Acrescentou ter a “plena certeza” que a “sã e profícua parceria” entre os militares dos dois países “se desenvolverá ainda mais com a assinatura do nosso programa quadro, para o quadriénio 2018-2021”: “Certos de que Angola e Portugal vão continuar a criar este caminho juntos, uma vez que o caminho do progresso se faz com relacionamentos saudáveis”.
Ao intervir na abertura das conversações, o ministro da Defesa Nacional de Portugal sublinhou o nível da cooperação militar alcançado nos últimos anos entre os dois países. Contudo, realçou que este acordo de cooperação no domínio da Defesa “prevê a cooperação nas áreas das indústrias da defesa e militares e nas áreas da investigação”, aspetos que continuam por realizar.
“Sabemos que esse desiderato não teve ainda a concretização que ambos desejaríamos”, apontou, referindo que as Forças Armadas são criadoras de conhecimento e da indústria de defesa.
“Portugal iniciou este ano a revisão da sua Lei de Programação Militar e sabemos como é difícil definir aquilo de que vamos precisar, porque aquilo de que vamos precisar, as nossas necessidades, depende de um mundo cada vez mais volátil, com ameaças cada vez mais imprevisíveis e onde o conceito tradicional de capacidade já não nos dá aquela tranquilidade e estabilidade temporal de que beneficiávamos. Estou por isso a falar das comunicações, na vigilância marítima, nos fardamentos, nos produtos químicos e farmacêuticos, nas ações de desmilitarização, na desminagem, entre muitas outras que poderão ser um terreno para um trabalho profícuo entre os nossos dois Estados”, destacou Azeredo Lopes.
O ministro Azeredo Lopes é o primeiro governante português a visitar Luanda depois de na quinta-feira o Tribunal da Relação de Lisboa ter decidido – conforme pretendia o Governo angolano – remeter para Luanda o processo que envolvia o ex-vice-Presidente da República de Angola, Manuel Vicente.
Na cerimônia, o ministro português disse igualmente que o “relacionamento ao nível da Defesa e das Forças Armadas tem constituído uma das constantes mais sólidas, mais institucionais e mais leais da cooperação entre Portugal e Angola”.
“Acredito que é chegado o momento de alcançarmos este relacionamento e essa cooperação a um novo patamar, passando do nível técnico ao militar, para aquilo que tem designado por cooperação no domínio da defesa e cuja implementação se apoia em programas verdadeiramente inovadores com benefícios mútuos e partilhados, porque esta é a definição de cooperação, tem que ser vantajosa e benéfica para cada uma das partes nela envolvidas”, disse.
Nos últimos três anos, no âmbito do programa-quadro vigente, Portugal prestou formação e assessoria a militares das Forças Aramadas Angolanas, desde logo através da Marinha, mas também em conjunto com a academia militar do Exército e no processo de criação e edificação da Academia da Força Aérea nacional.
Para Azeredo Lopes, os dois países podem agora criar condições para no futuro participarem “conjuntamente numa qualquer missão de paz, humanitária, no quadro de uma das organizações internacionais” de que são membros, e “num quadro evidentemente multilateral”.
Visita surpresa
O ministro da Defesa português também foi recebido de surpresa pelo Presidente de Angola, João Lourenço, e à saída da audiência disse que os dois países partilham uma amizade e cooperação, que não é perturbada por “incidentes”.
Da agenda oficial divulgada pelo Ministério da Defesa português constava apenas que o ministro José Azeredo Lopes iria ter um encontro privado com o seu homólogo, general Salviano de Jesus Sequeira, seguido da 17.ª reunião bilateral luso-angolana no domínio da Defesa.
O convite para a audiência com João Lourenço não constava assim do programa e, após a abertura da reunião bilateral, Azeredo Lopes reuniu-se com João Lourenço num breve encontro.
À saída, em declarações aos jornalistas, o ministro da Defesa português declarou que Angola e Portugal partilham uma relação de “história comum, de amizade e de cooperação, que evidentemente não é perturbada por pequenos incidentes”.
O governante português considerou excelentes as relações entre os dois países no domínio da defesa, área em que “sempre trabalharam muito bem”.
Segundo Azeredo Lopes, do chefe de Estado angolano leva para o Governo de Portugal “uma mensagem de amizade e de normalidade”.
“As relações entre os dois países são tão históricas, tão antigas, que evidentemente a minha presença é um convite que me foi endereçado pelo ministro da Defesa de Angola, há bem mais tempo do que factos recentes têm sido notícia, isso significa normalidade, o reiterar de uma relação de amizade, que traduz na circunstância de eu ter convidado o ministro da Defesa de Angola em retribuição a esta visita”, referiu o ministro.
Para Azeredo Lopes, as relações entre os dois países “nunca foram interrompidas”, porque “entre amigos e povos que se amam e se respeitam”.
Pode sempre “haver aqui e ali um ou outro percalço, uma ou outra divergência (…), mas prevalece sempre aquilo que são os laços históricos e a grande amizade e a grande relação que existem entre os nossos dois países”, sublinhou.
Durante a sua estada em Angola, o governante português cumpre uma agenda de trabalho iniciada com a abertura das conversações da 17ª reunião bilateral luso-angolana na Defesa, tendo como ponto mais alto a assinatura, na quinta-feira, do novo Programa-Quadro para 2018-2021.
Azeredo Lopes vai igualmente realizar visitas à Escola Superior de Guerra, Academia Naval, três projetos de cooperação técnico militar no Lobito, província de Benguela, à Brigada de Forças Especiais e à Escola de Fuzileiros Navais.