Da Redação
Com Lusa
A ministra da Saúde de Portugal admitiu neste dia 17 que todo o sistema de Saúde, incluindo Serviço Nacional de Saúde (SNS), setor social e privado e estruturas de retaguarda, está próximo do limite.
“Estamos a pôr todos os meios que existem no país a funcionar, mas há um limite e estamos muito próximos do limite. E os portugueses precisam de saber disso”, afirmou Marta Temido à saída de uma reunião no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Em declarações aos jornalistas, a ministra da Saúde referiu os dados mais recentes da Direção-Geral da Saúde, que revelam 10.385 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas e um novo recorde no número de internamentos, para sublinhar a gravidade da situação epidemiológica no país.
“É um sinal de elevada preocupação”, afirmou, reforçando que a saúde está “numa situação de extremo esforço.
Temido afirmou ainda que a capacidade de resposta à pressão acrescida sobre os hospitais devido à covid-19 é em detrimento de outras patologias e, por isso, é tão importante travar o agravamento da situação.
“Sempre que temos de internar um doente por covid-19, é outro ato de saúde que tem de ser diferido”, disse quando questionada sobre o despacho publicado esta semana que prevê a suspensão “de atividade cirúrgica programada de prioridade normal ou prioritária”.
Esse despacho, acrescentou, “é aquilo que podemos conquistar em termos de tempo”, sem compromisso clínico para os doentes.
Em concreto sobre os doentes oncológicos, a ministra da Saúde disse que está a ser feito um esforço para resolver a situação desses doentes transferindo-os ou para hospitais do mesmo grupo de saúde privado, no caso das parcerias público-privadas, ou para hospitais do Instituto Português de Oncologia (IPO).
“Aquilo que é desejável é que consigamos trabalhar em rede, sendo que isso é difícil, mas vamos continuar a apostar nessa linha”.
Também neste domingo, a ministra da Saúde considerou que a mentalidade das pessoas é que mudou, sublinhando que as regras do confinamento são semelhantes as de março, e apelou à responsabilidade individual para ajudar os profissionais de saúde.
Na saída de uma reunião no Hospital Garcia de Orta, em Almada, Marta Temido admitiu que viu com preocupação a forma como os portugueses se comportaram no primeiro fim de semana, desde que entrou em vigor o novo confinamento geral.
“E não vale a pena dizer que são as exceções que justificam os comportamentos. O número de exceções que temos hoje é semelhante ao de março; a mentalidade das pessoas, a reação das pessoas é que é diferente”, considerou.
A ministra da Saúde foi mais longe, referindo que parece haver até um “menor incomodo face aos óbitos, face aos internamentos, face aos contágios” e isso, acrescentou, “não é compatível” com o combate à pandemia
Recordes
Portugal contabilizou hoje 152 mortes relacionadas com a covid-19 nas últimas 24 horas, e 10.385 novos casos de infecção com o novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
O boletim epidemiológico da DGS indica ainda que estão internadas 4.889 pessoas, mais 236 do que no sábado, das quais 647 em cuidados intensivos, ou seja, mais nove, novos máximos em ambos os casos.
Desde o início da pandemia, em março de 2020, Portugal já registrou 8.861 mortes associadas à covid-19 e 549.801 infeções pelo vírus SARS-CoV-2, estando hoje ativos 134.011 casos, mais 5.846 do que no sábado.
Colapso
No sábado, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, considerou “absolutamente insustentável” a situação vivida atualmente em Portugal na prestação de cuidados de saúde.
“É absolutamente insustentável o que se está a passar na prestação de cuidados, é uma situação dramática. Acho que é essa a descrição possível”, afirmou o médico em declarações à agência Lusa, lembrando que, “infelizmente os alertas dos hospitais e de todos os envolvidos não são de agora, [já vêm] até antes do Natal”.
No dia em que Portugal contabilizou dois novos recordes diários relacionados com a pandemia – 166 mortes e 10.947 novos casos de infecção em 24 horas – alguns hospitais alertaram estarem em ruptura.
O Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, apresentava um total de 169 doentes com covid-19 internados, dos quais 18 em cuidados intensivos, com a unidade hospitalar a admitir um “cenário de pré-catástrofe”, caso a situação se mantenha.
O diretor do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Daniel Ferro, disse que o hospital de Santa Maria está em “sobre esforço” e que a adaptação aos picos de atendimento “tem limites”, estando a trabalhar além da capacidade instalada.
Para o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, “não é surpreendente que haja de fato pressão”.
Embora o país esteja no início de um novo confinamento, “a realidade é que na prática, olhando para a rua e vendo o que se vai passando, há de fato uma grande mobilização das pessoas na rua, etc.” e “acaba por ser difícil combater a pandemia com esta situação”, considerou.