Da Redação
Com Lusa
A ministra da Saúde afirmou nesta quarta-feira ser inevitável que Portugal entre “dentro de horas ou dias” na fase de mitigação da doença Covid-19, quando se verifica a transmissão comunitária da infecção.
“É inevitável que entremos dentro de horas ou dias” na fase de mitigação, porque “a dinâmica da situação epidemiológica está a ser muito rápida”, afirmou Marta Temido na Comissão Parlamentar de Saúde, em resposta ao deputado do Bloco de Esquerda Moisés Ferreira.
A audição da ministra no parlamento decorreu no dia em que o número de infeções em Portugal subiu para 59 casos face aos 41 registados na terça-feira, o maior aumento diário desde o início da epidemia.
“Tínhamos um conjunto significativo de contatos em vigilância pelas autoridades de saúde, que têm feito um papel notável como foi perceptível em casos acontecidos no Porto e em Coimbra, com o apelo das autoridades de saúde à mobilização social para a identificação de eventuais contatos em eventos que juntaram volumes significativos de pessoas e que tiveram entre eles um caso confirmado”, observou Marta Temido.
Segundo a ministra, a definição de caso de Covid-19 foi alterada na terça-feira pela DGS, explicando que, a partir de agora, passa a ter em conta não só a situação epidemiológica e clínica, mas também a situação de outros síndromes que possam ser, à partida, identificados como a nova doença.
“Todos os países estão a fazer, no fundo, este processo à medida que avançamos no combate ao surto”, afirmou.
O deputado Moisés Ferreira advertiu para as dificuldades da Linha SNS 24 e da Linha de Apoio ao Médico.
“Continua a haver alguns relatos de muitas horas de espera para atendimento da Linha de Apoio ao Médico e compreendemos que isto é um problema”, disse o deputado, acrescentando que esta situação atrasa a triagem e a sinalização das pessoas para fazerem o teste, o que pode fazer com que “existam pessoas que podem estar contagiadas e que não são devidamente triadas”.
Durante a audição regimental, a ministra foi questionada pela deputada do CDS-PP Rita Bessa se as escolas iam encerrar e se as férias da Páscoa vão ser antecipadas devido à epidemia, lembrando que esta decisão já foi tomada em alguns países.
Apesar de ter remetido a decisão para a reunião do Conselho Nacional de Saúde, que se realiza hoje à tarde, Marta Temido disse que “não são medidas simples” e que é preciso ponderar os efeitos que esta decisão pode significar.
A ministra disse ser um facto que, por exemplo, a Grécia já tomou esta decisão, tendo um cenário parecido com Portugal.
“Temos conversado muito entre ministros em Portugal e com os nossos congêneres e o ministro da Educação está a acompanhar essa possibilidade e os impactos que podem ter de ser minimizados noutras áreas”, disse Marta Temido.
A ministra referiu que há “muitas crianças cuja refeição única é na escola e o deixar de ter este ritmo precisa de precaução”, mas que se pode colmatar a trabalhar com outras redes como as autarquias e IPSS para garantir que “ninguém fica desprovido de uma substância básica por estar em isolamento.”
Também é preciso garantir resposta aos idosos e mais vulneráveis, “daí os contatos com as misericórdias, no sentido de ver como se podem usar esses recursos para melhor responder com coisas simples como pão, leite, gêneros essenciais”, apontou.
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.300 mortos em mais de cem países e territórios
O número de infectados ultrapassou as 120 mil pessoas, com casos registrados em 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 59 casos confirmados.
A região Norte continua a registrar o maior número de casos confirmados (36), seguida da Grande Lisboa (17) e das regiões Centro e do Algarve (três cada)
O boletim divulgado pela Direção-Geral da Saúde assinala também que há 83 casos a aguardar resultado laboratorial e 3.066 contatos em vigilância, um aumento face aos 667 divulgados na terça-feira.
No total, desde o início da epidemia, a DGS registrou 471 casos suspeitos
O Conselho Nacional de Saúde Pública (CNSP) reúne-se hoje para discutir medidas de contenção do surto de Covid-19, incluindo a possibilidade de antecipação das férias escolares da Páscoa.
As medidas já adotadas em Portugal para conter a epidemia incluem, entre outras, a suspensão das ligações aéreas com a Itália, a suspensão ou condicionamento de visitas a hospitais, lares e prisões, e a realização de jogos de futebol sem público.