Da Redação com Lusa
Portugal já se mostrou disponível para acolher “alguns migrantes” que chegam à ilha italiana de Lampedusa, no âmbito do mecanismo de solidariedade da União Europeia, segundo o Governo, observando a situação de “grande pressão” em Itália.
“Portugal, já no passado, assumiu um compromisso no âmbito do mecanismo voluntário de solidariedade [europeu]. Temos sempre expressado a nossa solidariedade e a disponibilidade para acolher migrantes quando estas situações ocorrem”, disse o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Tiago Antunes.
Falando à imprensa portuguesa em Bruxelas no final de um Conselho de Assuntos Gerais, que decorreu dias após o anúncio europeu de um novo plano para enfrentar a emergência migratória na União Europeia (UE), o governante acrescentou: “Perante a grande pressão que está a ocorrer ou quando há algum naufrágio, a nossa atitude é sempre de solidariedade e de disponibilidade para acolher, no quadro desse mecanismo voluntário de solidariedade”.
O secretário de Estado não avançou números, reiterando: “Naturalmente já manifestamos a disponibilidade para acolher algumas pessoas”, adiantou.
Para Tiago Antunes, “há desafios muito grandes” na questão migratória, sendo “preciso acabar com o negócio dos traficantes de seres humanos” e “criar canais regulares e seguros de migração”.
No passado domingo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou, em Lampedusa, um plano de ação para enfrentar a imigração irregular e afirmou que “a Itália pode contar com a União Europeia”, na sequência da chegada de mais de 10.000 migrantes àquele local – mais do que a população da ilha italiana mais próxima de África – em apenas três dias.
O plano de ação, com 10 pontos, inclui expandir missões navais da UE no Mediterrâneo ou criar uma nova, repatriamentos mais rápidos de pessoas cujos pedidos de asilo forem rejeitados e corredores humanitários para chegadas legais.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, tomou posse há quase um ano e, desde então, tem defendido que se abandonem as disputas sobre a distribuição de imigrantes entre os países europeus e se concentrem esforços em travar as saídas através de acordos com países africanos.
Por isso, um dos compromissos mais esperados pelo Governo italiano foi o último dos pronunciados por Ursula von der Leyen, que apelou para a aceleração da aplicação do acordo migratório que Bruxelas assinou com a Tunísia em julho passado e que inclui ajuda financeira em troca de medidas de contenção da imigração.
Ainda assim, Ursula von der Leyen também apelou aos países da UE para que aceitem transferências voluntárias, uma fonte frequente de discórdia.
No imediato, a UE enviará especialistas para ajudar a gerir e registar o elevado número de imigrantes que chegam a Itália.
Desde o início do ano estima-se que mais de 127 mil imigrantes desembarcaram em Itália, quase o dobro do mesmo período de 2022.
Oposto
Já o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, afirmou hoje que França “não acolherá migrantes procedentes de Lampedusa (Itália)”, insistindo na “posição de firmeza” do seu país.
“Se acolhermos mais pessoas, não vamos travar um fluxo que ultrapassa a nossa capacidade de integração”, sustentou Darmanin, em declarações ao canal TF1, argumentando que “é necessário combater” a imigração ilegal e que “a solução é europeia”.
O ministro francês esteve na segunda-feira em Itália para se reunir com o homólogo italiano, Matteo Piantedosi, para falar da crise migratória causada pela chegada de cerca de 11.000 pessoas em embarcações, na semana passada, à ilha italiana de Lampedusa.
“Se são perseguidos, o dever de França e de outros países é acolhê-los, mas não é esse o caso da maioria”, sublinhou.
Em contrapartida, Darmanin afirmou ter dito a Itália que França poderá ajudar repatriando os migrantes procedentes de países com os quais Paris mantém boas relações.
O governante francês confirmou que foram enviados mais 200 polícias para reforçar os 150 que controlam a fronteira com Itália, especialmente no posto de Menton, que está a ser alargado.
E recordou que os agentes franceses desse posto fronteiriço recusaram a entrada a cerca de 30.000 pessoas desde o início do ano.