Metade das famílias portugueses tem dificuldades em pagar serviços de saúde

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Da Redação
Com Lusa

Quase metade das famílias portuguesas teve dificuldade em pagar serviços de saúde em 2016, segundo dados da autoridade estatística europeia (Eurostat), divulgados nesta sexta-feira, que referem que a maioria da União Europeia paga estas despesas com facilidade.

Segundo os resultados do Eurostat, em Portugal houve, nesse ano, 47,4% dos lares que sentiram dificuldade em ter acesso aos serviços de saúde devido aos elevados custos, tendo Portugal ficado, ainda assim, abaixo dos 50%, ao contrário de países como a Grécia, Hungria ou Itália.

As estatísticas apontam que 7,7% das famílias portuguesas (quase uma em cada 10) tiveram “muitas dificuldades” para cobrir estes custos e 13,4% sentiram “dificuldades moderadas”.

Mais de uma em cada quatro famílias tiveram “algumas dificuldades”, refere o Eurostat.

Ainda assim, em Portugal, mais de metade das famílias (52,2%) consideraram não ter dificuldade em pagar os serviços de saúde, com um quinto dos lares (19,6%) a referir ser “muito fácil”.

Em 2016, a maioria dos lares (71%) da União Europeia conseguia pagar os custos de serviços de saúde com facilidade, sendo que 22% tinham mesmo “muita facilidade”.

Os restantes 29% dos lares reportaram algumas dificuldades, com 4% a dizerem ter “muita dificuldade” para aceder a estes serviços.

O país onde se registraram mais dificuldades foi a Grécia, onde 90% das famílias disseram ser complicado cobrir estes custos, seguida da Hungria, onde três quartos das famílias (74%) sentem que a saúde tem um peso demasiado grande nas despesas.

No Chipre, a percentagem de famílias com dificuldades para pagar o acesso à saúde foi de 72% enquanto na Letónia foi de 64%, na Eslováquia de 61% e na Itália de 56%.

Mais de 80% dos lares em sete Estados-membros referiram conseguir pagar serviços de saúde com facilidade, com o máximo a registar-se na Finlândia (87%) e países do Norte da Europa como o Reino Unido, a Alemanha, a Suécia e a Dinamarca a registaram todos percentagens superiores a 80%.

Os dados do Eurostat incluem tanto os serviços de saúde públicos como os privados e os custos passam, por exemplo, por preços das consultas, tratamentos e receitas prescritas, mas também exames e tratamentos dentários.

Os dados divulgados marcam o Dia Internacional da Saúde, neste sábado.

Estratégias e valorização

Uma avaliação de peritos internacionais considerou que o sistema de saúde português precisa de “estratégias a longo prazo” para combater as consequências da crise financeira nas famílias portuguesas, de reverter a centralização então iniciada e ainda de profissionais mais incentivados.

O relatório Health System Review Portugal, elaborado por peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa e do Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde, foi apresentado em Lisboa, na presença do ministro da Saúde, que solicitou a elaboração do documento.

De acordo com o relatório, o sistema de saúde português necessita de “estratégias de longo prazo para enfrentar as consequências para a saúde da privação familiar, desemprego e pobreza infantil que foram exacerbadas durante a crise financeira”.

Outra consequência da crise que os especialistas internacionais gostariam de ver revertida é a centralização que se registra desde então.

Segundo Hans Kluge, especialista em saúde pública e representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) neste trabalho, Portugal não está sozinho num conjunto de problemas que assolam outros países, como o envelhecimento da população e as comorbilidades.

O especialista alertou para as “dramáticas” consequências de doenças como a obesidade e a hipertensão, tendo deixado alguns elogios à forma como o sistema de saúde tem encarado problemas com o álcool e o tabaco.

 

Sobre a crise financeira e o impacto do programa de intervenção da troika, o acadêmico Charles Normand, professor universitário irlandês, referiu que “Portugal pode estar orgulhoso”. “Os problemas poderiam ter sido maiores sem a intervenção da troika”, disse.

Os autores do documento sublinham que as dificuldades financeiras ainda são um entrave no acesso de alguma população aos serviços de saúde.

Outro sinal que o documento deixa vai no sentido da necessidade de investimento nas infraestruturas, o que poderá passar pelo recurso às parcerias público-privadas.

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