Pela quinta vez, neste agosto que finda, fomos confrontados com a morte de bombeiros em serviço.
Faleceu esta manhã no combate a um incêndio em Tondela, no Caramulo, a bombeira Cátia Pereira Dias, da Corporação de Bombeiros de Carregal do Sal. Neste mesmo combate ficaram feridos elementos da GNR e outros bombeiros, dois destes com gravidade.
Ainda hoje, quatro bombeiros sofreram queimaduras, dois deles também com gravidade, num incêndio em Vila Nova de Foz Côa; e noutro incêndio, em Valença, um bombeiro sofreu ferimentos graves.
Na madrugada do dia 27, faleceu Bernardo Figueiredo, pertencente à Corporação de Bombeiros do Estoril, que ficara gravemente ferido num incêndio também no Caramulo. Neste mesmo incêndio e na mesma operação, praticamente ao lado de Bernardo Figueiredo, faleceu a bombeira Ana Rita Pereira, da Corporação de Alcabideche.
No início do mês falecera o bombeiro António Nuno Ferreira, de Miranda do Douro, e no dia 15 de agosto o bombeiro Pedro Rodrigues, da Covilhã, ambos também no combate operacional.
Vários outros bombeiros têm ficado feridos em serviço, alguns com gravidade que inspira cuidados.
Não é o primeiro ano em que há bombeiros tombados em serviço, prova do risco efetivo da missão que abraçaram.
Mas não podemos deixar que as mortes de bombeiros em incêndios florestais se transformem numa realidade habitual.
Tem sido muito grande a pressão dos incêndios florestais deste mês de agosto, com ocorrências, área ardida, reacendimentos e duração dos fogos que relembram os piores anos.
Esta pressão tem sido também a causa de outras vítimas. Em Queirã, Vouzela, feriu-se gravemente o Presidente da Junta de Freguesia. Um funcionário morreu num acidente de trabalho quando recuperava a rede elétrica danificada no incêndio de Góis. E houve um atropelamento mortal na Madeira causado pelo despiste de uma viatura militar que se deslocava para um incêndio.
Todas estas dramáticas situações humanas merecem o nosso profundo respeito e pesar. Devemos venerá-las humildemente, com a discrição, a seriedade e a proximidade que cada um destes dramas pessoais reclama. Devemos fazê-lo sem outro objetivo que não seja o de honrar o exemplo singular de dignidade e abnegação de quem – sem nada pedir em troca e na flor da idade adulta – doou a sua vida ou a sua integridade física na ajuda voluntária aos demais.
Por razões várias, conhecidas e infelizmente reincidentes, os incêndios florestais deste mês de agosto têm sido especialmente duros para bombeiros e populações. E a pressão não está ainda debelada. Há de chegar o tempo dos balanços e da análise serena dos factos, de modo a colher lições efetivas e concretas para o futuro.
Envio aos bombeiros portugueses e demais agentes de proteção civil uma palavra de agradecimento pelo desempenho notável que têm demonstrado e de coragem para a missão que ainda têm pela frente. Faço-o também às populações, que têm sabido encontrar forças para enfrentar as chamas e ajudar os bombeiros.
Por Aníbal Cavaco Silva
Presidente da República Portuguesa
Lisboa, 29 de agosto de 2013