Mau tempo provoca mais de 6 mil ocorrências em Portugal, Rio Douro transbordou

O nível da água do Rio Douro, na zona da Ribeira no Porto está a atingir margem em consequência do mau tempo provocado pela depressão Elsa, 20 de dezembro de 2019. RUI MANUEL FARINHA / LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

Mais de 6.200 ocorrências foram registradas em Portugal continental desde quarta-feira na sequência do mau tempo, que provocou até ao início da manhã desta sexta-feira 70 desalojados, dois mortos e um desaparecido, segundo a proteção civil.

Num balanço feito as 09h, o comandante Paulo Santos, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), explicou que foram registradas 6.237 ocorrências desde quarta-feira, com os distritos do Porto, Viseu e Lisboa a serem os mais afetados pelo mau tempo provocado pela passagem da depressão Elsa.

O responsável destacou como ocorrências principais as quedas de árvores, movimentos de terras, inundações e quedas de estruturas. Foram ainda ativados o plano municipal de emergência da Mealhada e o plano distrital especial de cheias de Coimbra.

“Há um ligeiro desagravamento, porém as ocorrências irão aumentar durante o dia pois naquelas estradas onde as quedas de árvores não afetaram ninguém, de manhã, quando as pessoas começarem a sair de casa, vão encontrar obstruções”, afirmou Paulo Santos.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) tem hoje sob aviso laranja (o segundo mais grave) doze distritos de Portugal continental e a costa norte da Madeira devido sobretudo à agitação marítima.

Leiria, Santarém e Portalegre estão sob aviso laranja também devido às previsões de precipitação forte, entre as 12:00 e as 15:00 nos dois primeiros casos e entre as 12:00 e as 18:00 no caso de Portalegre.

Ainda, uma parte do teto do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, cedeu devido ao mau tempo. O MAAT vai fechar para obras e só reabre em 27 de março.

O IPMA alertou também para os efeitos de uma nova depressão, denominada Fabien, que atingirá Portugal no sábado, explicando que o Norte e o Centro serão as zonas do país mais afetadas, estando previstos intensos períodos de chuva e fortes rajadas de vento.

A nota do instituto refere ainda que haverá “vento forte de sudoeste”, prevendo-se que as rajadas atinjam valores de 90 quilômetros por hora no litoral norte e centro e 120 quilômetros por hora nas terras altas.

“A agitação marítima associada ao Fabien irá também fazer-se sentir na costa ocidental, em especial no litoral norte”, acrescenta.

Contudo, prevê-se que os efeitos da depressão Fabien não apresentem em Portugal continental a mesma intensidade do que os da tempestade Elsa, “em particular em termos de vento e com mais significado em termos de precipitação”. O IPMA prevê uma melhoria gradual do estado do tempo a partir de domingo.

Rio Douro

As inundações em zonas ribeirinhas do rio do Douro, no Porto e Vila Nova de Gaia, deverão persistir ao longo do dia e no sábado, devido à necessidade de descargas das barragens, segundo Autoridade Marítima.

Em conferência de imprensa realizada numa das zonas atingidas, em Miragaia, no Porto, o comandante Cruz Martins, da Capitania do Douro, disse que, depois da preia-mar, verificada às 09:30, a maré começou a vazar.

“Nessa altura, iremos incrementar a descarga de barragens porque é necessário descarregar toda a água acumulada”, afirmou.

Deste modo, a nível da água – “que na zona de Miragaia atingiu 80 centímetros e é provável que chegue a um metro, antes de descer” – poderá voltar a subir.

“É expectável que durante todo o dia de hoje e o dia de amanhã [sábado] tenhamos situações pontuais de alagamentos nestas zonas que já estão identificadas. As populações estão prevenidas para estas ocorrências”, alertou.

Cruz Martins disse que a descarga de barragens no Douro está a ser coordenada entre entidades portuguesas e espanholas e “no sentido de provocar o mínimo de inundações”.

“Se não houvesse esta coordenação, provavelmente o nível de água já estaria em dois ou três metros”, acrescentou.

O comandante recordou que as águas do Douro não atingiam as zonas ribeirinhas destas duas cidades vizinhas desde 2006.

O rio Douro transbordou nesta sexta-feira e inundou zonas ribeirinhas do Porto e de Vila Nova de Gaia, como zonas pedonais e o Areinho e a Afurada.

Também o rio Douro galgou as margens no Pinhão, concelho de Alijó, distrito de Vila Real, e entrou em quatro bares da zona ribeirinha.

O rio Tâmega já subiu em Chaves 3,13 metros acima do caudal normal, inundando uma área “bastante significativa” e condicionando o trânsito automóvel em vários pontos da cidade, diz fonte da Proteção Civil.

Por volta das 10:00 o rio que atravessa a localidade do distrito de Vila Real continuava a subir, mas com menos intensidade, agora a “um centímetro por hora”, face aos 10 centímetros por hora que se registraram durante a noite.

“Temos já uma área inundada bastante significativa, atingindo níveis das cheias de 2010”, explicou o comandante da Proteção Civil municipal, Sílvio Sevivas.

Voos

A ANA – Aeroportos de Portugal aconselhou os passageiros a verificarem a situação dos seus voos junto das companhias aéreas antes de irem para o aeroporto de Lisboa, porque pode haver atrasos devido ao mau tempo.

“O mau tempo e consequente regulação – aumento de espaçamento entre as aterragens e descolagens de aeronaves – induziu um acumulado de atrasos que agora se faz sentir no Aeroporto de Lisboa, podendo as companhias aéreas optar pelo cancelamento pontual de voos”, refere a ANA numa nota enviada à agência Lusa.

Segundo o órgão, foi cancelado um voo da companhia aérea Easyjet Europe com partida prevista para as 17:00, com destino a Paris, e um voo com partida prevista para as 18:30 com destino a Kiev, na Ucrânia, da companhia aérea Wizz Air Hungary.

Na quinta-feira, o mau tempo cancelou oito voos da companhia aérea açoriana SATA, sendo quatro ligações inter-ilhas e quatro do arquipélago com o exterior, afetando cerca de 1000 passageiros.

Da Azores Airlines, que opera de e para fora do arquipélago, foram canceladas as ligações Boston/Terceira (divergiu para o Porto), Terceira/Porto, Lisboa/Horta, Lisboa/Santa Maria/Ponta Delgada.

Da SATA Air Açores, que opera entre as ilhas do arquipélago, foram afetadas as ligações entre Graciosa/Terceira (divergiu para Ponta Delgada) Horta/Flores/Horta, Terceira/Flores/Terceira e Terceira/Graciosa.

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