Por Paulo Guilherme Figueiredo Da Agência Lusa
China e Índia, as duas potências asiáticas que se agigantam na economia mundial, encontraram nos países lusófonos, em particular em Angola e Moçambique, uma importante fonte de matérias-primas de que necessitam para seu crescimento. Angola já é, desde o primeiro trimestre do ano, o maior fornecedor de petróleo da China (688 mil barris diários), à frente da Arábia Saudita, e as petrolíferas Sonangol e Sinopec continuam associadas em diversos outros projetos, como o desenvolvimento do campo petrolífero "Grande Plutônio" (Bloco 18), que tem produção diária prevista de 200 mil barris este ano. O apoio financeiro chinês aos projetos de reconstrução do país é apontado nas estatísticas oficiais como em torno dos US$ 7,9 bilhões, mas o Banco Mundial calcula que só o Fundo Internacional da China tenha um montante total previsto de US$ 9,8 bilhões, sem contar com as duas linhas de crédito disponibilizadas pelo banco chinês de promoção do comércio externo (Eximbank). O investimento chinês em Angola tem sido aplicado principalmente em infra-estrutura, como em outros países da região ricos em recursos naturais – Nigéria é exemplo -, segundo o estudo "Fazer a ponte: o crescente papel da China como financiador de infra-estruturas na África Subsaariana". Segundo os economistas do Banco Mundial que elaboraram o documento, o investimento chinês em linhas ou centrais hidrelétricas na África Subsaariana disparou de US$ 1 bilhão anuais em 2004 para perto de US$ 11,5 bilhões em 2006. "A crescente cooperação Sul-Sul está sendo conduzida por fortes complementaridades entre a China e a África. A procura chinesa por recursos naturais tem paralelo nas reservas petrolíferas e minerais da África, significativas, mas muitas vezes não-aproveitadas. A necessidade urgente de infra-estruturas na África tem paralelo na indústria de construção chinesa, competitiva à escala mundial", afirmou a economista do Banco Mundial Vivien Foster, co-autora do relatório. Apesar de não ter relações diplomáticas oficiais com São Tomé e Príncipe, que reconhece a independência de Taiwan, a China tem a petrolífera Sinopec envolvida na exploração de petróleo no arquipélago lusófono, na zona de desenvolvimento conjunto com Nigéria. Cabo Verde também já manifestou o desejo de ser uma plataforma para trocas comerciais da China na região, e a macaense Geocapital pretende investir nos biocombustíveis em todo o espaço africano lusófono. O grande parceiro comercial da China na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) continua sendo o Brasil. Nos seis primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2007, as exportações chinesas para o Brasil aumentaram 71,7%, para US$ 5,21 bilhões, enquanto as exportações brasileiras para a China cresceram 50,7%, para US$ 7,41 bilhões, segundo estatísticas oficiais. No entanto, o crescimento das trocas comerciais com a China foi superior no conjunto da CPLP: 80,3% nos primeiros quatro meses do ano, para um total de US$ 21,14 bilhões. Índia Um estudo recente do Instituto Real de Relações Internacionais britânico destaca que, além da China, também a Índia procura se implantar na África, em particular na costa africana do Oceano Índico. Em países como Moçambique, o interesse indiano é econômico, mas também estratégico e cultural, devido aos laços históricos e étnicos com as grandes comunidades de origem indiana na região. "Moçambique atrai crescente interesse de investimento por parte dos empresários indianos e está, atualmente, entre os principais destinos de investimentos. Em julho de 2007, a cidade de Maputo foi escolhida para acolher a reunião de 2007 da parceria Índia-África, um sinal de que a classe empresarial indiana vê Moçambique como um ponto de acesso ao mercado da África Austral", adianta o estudo. Por esse motivo, "a expansão econômica e diplomática da China no Oceano Índico é olhada muito de perto pela Índia", que se esforça por manter a China de fora do Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul (IBSA), alegando a falta de fundamentos democráticos do gigante asiático. As empresas indianas demonstram estar particularmente atentas às extensas e praticamente intocadas reservas moçambicanas de carvão. O ministro indiano do Carvão anunciou recentemente no Parlamento a criação de uma joint-venture para compra de ativos no exterior, integrada por empresas estatais de energia e recursos minerais como NTPC, Steel Authority of India, NMDC, Rashtriya Ispat Nigam e Coal India. Entre as empresas que já asseguraram posição na exploração de carvão em Moçambique estão a Bharat Earth Movers e a Global Steel Holdings (grupo Ispat), que comprou dois blocos para a exploração de carvão, com uma área de 30 mil hectares e reservas comprovadas de 70 milhões de toneladas. Em Angola, a abordagem indiana nas licitações de licenças de exploração de petróleo foi, até agora, suplantada pela China, mas a Índia manifesta grandes ambições para o próximo leilão, tendo proposto a Angola uma parceria entre as petrolíferas estatais dos dois países – Sonangol e ONGC Videsh. A proposta indiana, apresentada no final do ano passado ao ministro angolano das Relações Exteriores, João Bernardo de Miranda, envolve também projetos de exploração de petróleo na Índia e nos países de língua oficial portuguesa.
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