Por Lucélia Fernandes
Para Mundo Lusíada
Há sete meses e meio no país, a atriz Marina Mota, portuguesa nascida em Lisboa, tornou-se uma figura conhecida do público brasileiro ao integrar o elenco da novela “Aquele Beijo”, dirigida por Miguel Falabella e exibida na Rede Globo. O convite para participar da novela partiu do próprio diretor, que chegou até Marina através de amigos em comum.
A gratidão maior por fazer parte da novela vem do assédio nas ruas, habitual em sua terra natal – reconhecida atriz de teatro e televisão que é – mas inédito para ela em terras brasileiras: “quando passo nas ruas as pessoas chamam-me de muitas coisas, a ‘da novela das sete’, a ‘portuguesa’, a ‘Amália’, a ‘mãe do Vicente’, a ‘namorada do Joselito’. É muito bom ser reconhecida, é engraçado, é ótimo. Eu que vim tantas vezes ao Brasil como turista e que desfrutei tanto do meu anonimato. As primeiras reações, confesso, foram de uma certa estranheza, porque enquanto em Portugal estou habituada a ser observada e julgada, aqui estava habituada a ser uma pessoa comum, desconhecida, mas é sempre agradável porque as abordagens são de uma forma carinhosa, muito aconchegante”.
Atualmente ela mora na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e já conta os dias para a exibição do último capítulo da novela, previsto para 13 de abril, quando finalmente retornará a Portugal depois de tanto tempo ausente.
Seus trabalhos no exterior sempre foram pontuais e nunca passara uma temporada tão longa fora de casa. Para matar a saudade ela conta com a internet: “abençoado Skype que me permite falar com todos! Fiquei três semanas sem poder acessar a internet e senti na pele o que os nossos emigrantes sofrem! Fico a imaginar quando a comunicação era apenas por carta… Não tenho sequer capacidade para pensar no que sentiam. Está a ser muito difícil ficar longe pessoas que amo, mas através destas novas tecnologias, falo com eles diariamente”.
No Dia Mundial do Teatro, 27 de março, Marina completou 30 anos de carreira como atriz. A estes, soma-se uma década como cantora, quando fez, inclusive, vários espetáculos para as Comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, até 1982, época em que estreou no Parque Mayer como atriz: “não escolhi esta profissão, a profissão é que me escolheu”, diz Marina.
Atriz cujo aprendizado e formação vem dos palcos do teatro de revista em Portugal, Marina reconhece o desafio que é participar de uma novela, gênero em que pouco atuou (ela participou apenas de uma em Portugal), sendo sua vocação mais voltada para a comédia, tanto no teatro como na televisão.
Ela ressalta a importância de atuar em uma novela exibida em uma das maiores emissoras de televisão do mundo: “os estúdios portugueses são tecnicamente bem apetrechados mas não tem aquela grandeza do Projac. Enquanto atriz eu prefiro o palco porque nada melhor do que sentir a emoção do público. O aplauso é o retorno do nosso trabalho, ao vivo e sem hipóteses de repetição. É uma coisa muito mais genuína. A televisão é muito interessante, é imediatista – pegamos o roteiro, gravamos – mas dá uma visibilidade maior”, conclui.
Fazer teatro no Brasil seria um desafio
Perguntada a respeito de fazer teatro do Brasil, a atriz chama a atenção para o desafio que seria fazer-se entender em um gênero como a comédia: “fazer teatro aqui seria um desafio que eu gostaria de ter. Infelizmente, embora falemos a mesma língua, há distinções incríveis. Há expressões que não são comuns aos dois países e uma coisa que me condiciona enquanto comediante é isso, porque eu, enquanto comediante, gosto muito de viver o meu improviso e nisso estou muito à vontade no português de Portugal. Não domino as gírias e as expressões do Brasil e precisaria articular de uma forma diferente para que as pessoas me entendessem”.
A propósito da crise financeira em que a Europa se encontra, ela explica que não veio para o Brasil por causa da crise, como tem sido a opção de muitos, das mais variadas áreas: “Eu não fugi de Portugal por causa da crise. Eu vim para o Brasil a convite de alguém daqui, que me prestigiou muito. Eu não vim à procura de um novo horizonte, ele surgiu para mim e eu agradeço imenso. Tenho uma grande honra de estar aqui, mas não fugi de lá. Gostaria muito de continuar a partilhar o que eu sei fazer com vocês, porque eu gosto muito da multiculturalidade que o Brasil tem e que em Portugal nós também temos. Essa é uma ponte e que eu gostaria que se mantivesse”.
No Brasil ou em Portugal, Marina diz não fazer muitos planos: “não vou a procura de novos horizontes porque nunca fui muito ambiciosa com a minha profissão. Acho que as coisas foram acontecendo na minha vida e quando surgem as oportunidades eu tento abraçá-las da melhor forma. Hoje não tenho grandes sonhos quanto a fazer isto ou aquilo, obviamente gostaria de continuar a representar e a cantar”. E gosta de fazê-lo, principalmente, no teatro de revista, que lhe permite justamente unir suas duas grandes paixões.
Da outra paixão, o fado, e a propósito de Portugal ser hoje um país com pouca visibilidade, ela ressalta a importância de tal gênero musical ter sido reconhecido, em 2011, como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o que é positivo para mostrar que a música portuguesa não é apenas aquela apresentada por Roberto Leal, artista que ela admira: “atualmente encontro brasileiros que também conhecem e gostam do Madredeus, Mariza, Antonio Zambujo, Camané. Essa reciprocidade é muito positiva que aconteça, já que a música brasileira é muito reconhecida em Portugal”.
A primeira vez de Marina no Brasil foi em 1979. Seu apreço pelo país, desde então, pode ser comprovado através dos muitos carimbos em seu passaporte, das tantas vezes em que desfrutou de férias visitando várias regiões do país, sendo a Amazônia e as Cataratas do Iguaçu as que mais a impressionaram.
Desta experiência, não apenas pela teledramaturgia, mas também pelo tempo passado longe de casa, Marina declara: “levarei sempre comigo do Brasil ou de qualquer outra parte do mundo, as pessoas. O meu objetivo na vida é crescer enquanto ser humano, gosto muito da minha profissão e a respeito muito. Mas o que eu levo daqui são as pessoas maravilhosas com quem cruzei, alguns colegas de profissão, algumas outras pessoas anônimas. O que eu levo daqui são os abraços que eu ganhei. O reconhecimento do público é algo que me dá um prazer imenso mas continuo a gostar muito de ser uma pessoa que ninguém conhece e continuar a ser apenas eu”.