Marega disse ter-se sentido humilhado e não podia continuar em campo, processo instaurado

Reprodução/Instagram

Da Redação
Com Lusa

O jogador do FC Porto Moussa Marega disse, em declarações à rádio RMC, que não podia permanecer em campo depois dos insultos racistas de que foi alvo no estádio do Vitória de Guimarães, e confessou ter-se sentido humilhado.

“Não podia ter continuado naquele relvado. Com os insultos que recebi, com os gritos de macaco, isso não era possível. Foi uma grande humilhação para mim. Como é que eu podia ter continuado a jogar quando as pessoas se estão a rir da cor da tua pele?”, questionou Moussa Marega, nas declarações feitas à rádio francesa.

O jogador do FC Porto confessou “ter vivido um domingo difícil”, mas contou que “voltou a sorrir com todas as mensagens de apoio que recebeu, e que lhe deram esperança, e, sobretudo, quando reviu o filho”.

Marega vestiu a camisa do Vitória de Guimarães na época 2016/17, por empréstimo do FC Porto, razão pela qual se diz “mais chocado com os insultos provenientes de adeptos do seu anterior clube”.

“Sempre que jogo em Guimarães não celebro os gols que marco ao clube, por respeito, e aplaudo os seus adeptos no final”, disse Marega, autor do gol da vitória do FC Porto no estádio Municipal de Guimarães.

No domingo, numa publicação na sua conta oficial na rede social Instagram, Marega já se tinha dirigido aos adeptos como “idiotas”, contestando ainda o comportamento da equipe de arbitragem, liderada por Luís Godinho.

“E também agradeço aos árbitros por não me defenderem e por terem me dado um cartão amarelo porque defendo minha cor da pele. Espero nunca mais encontrá-lo em um campo de futebol! Você é uma vergonha!”, escreveu então o maliano.

Em Portugal as reações de condenação ao que se passou em Guimarães têm-se multiplicado, provenientes das mais diversas instituições, quer a nível político quer a nível desportivo.

A Procuradoria-Geral da República, que mandou instaurar um inquérito aos acontecimentos, tendo o assunto sido comentado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, Primeiro-Ministro, António Costa, até à Federação Portuguesa de Futebol e à Liga Portuguesa de Futebol Profissional, além de vários clubes a título individual.

No domingo, em Guimarães, durante um jogo da 21.ª jornada da I Liga de futebol entre o Vitória de Guimarães e o FC Porto, o atacante maliano dos ‘dragões’ Moussa Marega abandonou o jogo, após ter sido alvo de cânticos e insultos racistas por parte de adeptos da equipe minhota.

Vários jogadores do FC Porto e do Vitória de Guimarães tentaram demovê-lo, mas Marega mostrou-se irredutível na decisão de abandonar o jogo, tendo acabado por ser substituído, numa altura em que os ‘dragões’ venciam por 2-1, resultado com que terminou a partida.

Processo

A Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) instaurou um processo contraordenacional na sequência do incidente. “No âmbito das suas competências, a APCVD irá determinar responsabilidades que estejam em causa, tendo em conta os insultos e discriminação racial de que foi alvo o jogador Moussa Marega”, refere em comunicado.

No documento divulgado, a APCVD revela que no ano de 2019 “registrou 15 processos contraordenacionais, dos quais resultaram, até ao momento, a aplicação de três interdições de acesso a recinto desportivo” relativamente a atos de discriminação racial.

A Autoridade acrescentou que, no total, em “mais de meio milhar de processos concluídos decidiu-se pela aplicação da medida de interdição de acesso a recinto desportivo a quase uma centena de adeptos” e indicou também que “solicitou um parecer vinculativo” à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR).

“Quando haja indícios de discriminação de qualquer natureza, a APCVD solicita à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial a emissão de parecer vinculativo sobre a natureza discriminatória das respetivas práticas, devendo ser remetidos os respetivos ao Ministério Público com vista à eventual instauração de procedimento criminal”, pode ler-se.

O organismo ainda condena “veementemente os incidentes registrados” e assegura que será feito “um trabalho rigoroso para apurar as responsabilidades”.

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