Maranhão sedia encontro de escritores de língua portuguesa

Arquivo / Agualusa

Da Redação

Entre os dias 19 e 21 de novembro, São Luís do Maranhão será palco de um encontro inédito que reunirá quatro grandes escritores de língua portuguesa em atividade. Estarão na capital maranhense o moçambicano Mia Couto, os angolanos José Eduardo Agualusa e Ondjaki e a historiadora brasileira Mary del Priore. O evento terá lugar no Convento das Mercês e faz parte do projeto Conversações de Além-Mar, que recentemente, em sua quarta edição, trouxe a São Luís o escritor cabo-verdiano Joaquim Arena.

Nas palavras do advogado e escritor Alexandre Lago, um dos idealizadores do projeto, o Conversações de Além-Mar tem como principal objetivo a aproximação das literaturas de língua portuguesa e sua maior disseminação pelos diversos países que falam o idioma, em especial o Brasil. “Nos incomodava e continua incomodando muito o fato de nós, brasileiros, desconhecermos escritores e escritoras dos demais países de língua portuguesa, como Timor Leste, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique e mesmo de Portugal, como também o fato de escritores desses países desconhecerem a literatura brasileira contemporânea”, observa Lago, um estudioso da literatura lusófona.

“Com exceção de nomes já celebrizados”, diz ele, “praticamente não conhecemos esses autores, sendo que eles também desconhecem a nossa produção literária atual”. Além de palestra e interação com o público, está prevista sessão de autógrafos e reuniões. Alexandre Lago faz questão de frisar, no entanto, um aspecto importante do Conversações de Além-Mar, que é o fato de o projeto não ficar limitado a encontros em auditórios e lançamento de obras.

“Em suas passagens por São Luís, os nossos convidados visitam instituições culturais, como bibliotecas e casas de cultura, trocam experiências com nossos escritores, conversam com gestores e visitam autoridades. Enfim, formam vínculos e pontes importantes para o crescimento da literatura lusófona, incluindo, bom que se diga, a produzida no Maranhão”, diz Lago, lembrando, por exemplo, que a partir da vinda desses escritores muitos são os trabalhos de dissertação de mestrado que surgem nas universidades, estudando suas obras.

O encontro é uma realização do Instituto Casa do Autor Maranhense e da Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB) que tem como uma das missões institucionais a promoção e a divulgação do patrimônio histórico e cultural das culturas ibero-americanas e lusófonas, bem como a promoção da amizade e do intercâmbio cultural entre seus povos. Sendo assim, o evento coaduna com tal propósito que busca incentivar o diálogo entre as nações de língua portuguesa, reforçando os laços culturais que unem esses países e valorizando a riqueza literária e histórica que emerge dessas tradições.

PROGRAMAÇÃO

Terça-feira (19), às 18h

Sessão Solene em homenagem aos 35 anos do Instituto Internacional da Língua Portuguesa
Homenageados:
José Sarney
Mário Soares (In Memoriam)
José Aparecido de Oliveira (In Memoriam)

Quarta-feira (20), às 19h

Diálogo com os escritores Mary Del Priore e Ondjaki
Mediação: Bruno Tomé (Academia Ludovicense de Letras) e Bruna Castelo Branco (jornalista)

Lançamento dos livros:
Segredos de uma Família Imperial (Mary Del Priore)
Bom dia, Camaradas (Ondjaki)

Quinta-feira (21), às 19h

Diálogo com os escritores Mia Couto e Agualusa
Mediação: Ceres Costa Fernandes (Academia Maranhense de Letras) e Adonay Moreira (escritor)

Lançamento dos livros: A cegueira do Rio (Mia Couto)
Mestre dos Batuques (Agualusa)

Biografia dos autores

MARY DEL PRIORE – Nascida no Rio de Janeiro em 1952, Mary Lucy Murray del Priore formou-se em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Continuando sua formação, concluiu seu Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo. Foi então que saiu do Brasil para defender o título de Pós-Doutorado pela École des Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris, no ano de 1996. A historiadora lecionou História do Brasil Colonial na Universidade de São Paulo e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Atualmente, é professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), em Niterói. Além disso, atua como colaboradora em periódicos nacionais e internacionais. Tem diversos livros publicados.

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA – José Eduardo Agualusa nasceu na cidade do Huambo, em Angola, a 13 de dezembro de 1960. Estudou Agronomia e Silvicultura. Viveu em Lisboa, Luanda, Rio de Janeiro e Berlim. É romancista, contista, cronista e autor de literatura infantil. Os seus romances têm sido distinguidos com os mais prestigiados prêmios nacionais e estrangeiros, como, por exemplo, o Grande Prêmio de Literatura RTP (atribuído a Nação Crioula, 1998). Também os seus contos e livros infantis foram merecedores de prêmios, como o Grande Prêmio de Conto da APE e o Grande Prêmio de Literatura para Crianças da Fundação Calouste Gulbenkian, respetivamente. O Vendedor de Passados ganhou o Independent Foreign Fiction Prize, em 2004, e, mais recentemente, o romance Teoria Geral do Esquecimento foi finalista do Man Booker Internacional, em 2016, e vencedor do International Dublin Literary Award (antigo IMPAC Dublin Award), em 2017.

MIA COUTO – Antônio Emílio Leite Couto é um escritor moçambicano, nascido em 5 de julho de 1955, na cidade de Beira. Trabalhou como jornalista durante quase 10 anos, porém ingressou na Faculdade de Biologia e, posteriormente, tornou-se professor universitário, profissão que concilia com a sua carreira de escritor. Assim, em 1983, publicou seu primeiro livro de poesias, Raiz de orvalho. Já seu primeiro romance — Terra sonâmbula — foi publicado, em 1992, com grande sucesso de público e crítica. Ganhador do Prêmio Camões em 2013, Mia Couto é um autor da literatura contemporânea, e suas obras são caracterizadas, principalmente, pelo resgate da tradição cultural moçambicana por meio de uma linguagem marcada por neologismos. Recentemente Mia Couto foi agraciado com o Prêmio FIL de Literatura em Línguas Românicas 2024, destacando-se por sua inovação linguística e abordagem sobre a África.

ONDJAKI – O poeta e escritor africano Ndalu de Almeida, popularmente conhecido como Ondjaki, nasceu na cidade de Luanda, capital angolana, em 1977. Sua trajetória artística passa também pela atuação teatral e pela pintura. É também cineasta e autor de roteiros cinematográficos. Após realizar seus primeiros estudos na sua terra natal, obteve a licenciatura em Sociologia na capital portuguesa. Em 2000 o poeta conquistou a segunda posição no concurso literário angolano António Jacinto, e lançando seu primeiro volume de poesias, Actu Sanguíneu. Integra antologias publicadas no Brasil, no Uruguai e em Portugal.

Lançamentos e autógrafos

SEGREDOS DE UMA FAMÍLIA IMPERIAL – Mary Del Priore mergulha na trajetória íntima e pública dos Orléans e Bragança após a Proclamação da República nos anos de exílio na Europa. Mary Del Priore explora a história de perto, entre os relatos e registros oficiais, em busca da representação dessa família como realmente eram. O que os tornava humanos para além do que os tornava realeza ante os dilemas de uma Monarquia em declínio.

A CEGUEIRA DO RIO – Moçambique, 1914. Às vésperas da eclosão da Primeira Guerra Mundial, Alemanha e Portugal disputam o território à margem do rio Rovuma. Com o ataque germânico ao posto de Madziwa e a morte de dezenas de soldados africanos, a região se transforma em um verdadeiro campo de batalha. É a partir desse caso ― inspirado em um evento real ― que correm as águas desta história. Ameaçados pelo poderio alemão e subjugados pela colonização portuguesa, os povos de Moçambique encontram amparo naquilo que é impossível de se apagar: sua própria língua.

MESTRE DOS BATUQUES – Neste romance o escritor angolano José Eduardo Agualusa discute questões de identidade e de pertencimento, subvertendo estereótipos e ideias predefinidas, ao mesmo tempo em que expõe os crimes e contradições do processo colonial português no continente africano.

BOM DIA, CAMARADAS – Uma Luanda dos anos 1980 com professores cubanos, escolas entoando hinos matinais e jovens de classe média é o cenário de Bom dia, camaradas. Do universo do romance também fazem parte as lembranças dos cartões de abastecimento, as desigualdades sociais e os conflitos entre modernidade e tradição. Através do olhar lírico de um garoto, o leitor é levado a uma Angola que acabou de se tornar independente e é obrigada a repensar as regras sociais e a questionar as causas da desigualdade. Ondjaki nos conduz aos pequenos acontecimentos do cotidiano que mostram como é preciso mais que um decreto para que as mudanças de fato aconteçam.

O encontro internacional de escritores de língua portuguesa, acontece às 19h nos dias 19 a 21 de novembro, no Convento das Mercês – Rua da Palma, 502, Desterro.

Mia Couto. Arquivo/Foto UnB

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