Da Redação
As mantas alentejanas sempre foram um bom “remédio” contra o frio, para pastores e não só, e uma jovem empreendedora de Évora, Tânia Costa Neves, está, agora, a transformá-las em casacos e coletes, aliando tradição e modernidade.
“Isto não é uma manta, mas acaba por ser uma manta”, tenta explicar à agência Lusa a empresária e designer, de 34 anos, criadora do projeto LOOM – New Tradition, com peças de vestuário a partir de mantas alentejanas.
A marca quer dar “nova vida” às mantas de lã da região, confeccionadas já em poucos locais, e contribuir para a modernidade de uma peça de artesanato tipicamente alentejana.
“Isto está-se a perder e nós não podemos deixar que se perca. Temos estas mantas em casa para nos taparmos ou como tapetes” e “eu quis, efetivamente, que as pessoas as pudessem vestir” e mostrar “esta preciosidade, porque isto é realmente muito rico”, realça Tânia.
Formada em Design, a criadora do projeto confessa que sempre gostou “de inventar coisas” e de “explorar novos materiais”. Um curso de empreendedorismo estimulou-a a dedicar-se à confeção de roupas, com o burel a ser a primeira escolha.
Mas, porque este é “um material serrano”, com o qual outros já trabalham, a sua atenção virou-se para as mantas alentejanas.
E foi assim que, este ano, “nasceu” a LOOM, com Tânia a assumir que todo o conceito do projeto está inspirado nas mantas que, antigamente, os pastores levavam às costas para se aquecerem.
“Porque não dar-lhes uma nova função e tornar a coisa mais apetecível aos dias de hoje? Não digo para as pessoas andarem com uma manta às costas, mas sim com um casaco”, sugere.
A dar os primeiros passos, a marca tem quatro protótipos, dois casacos, um com riscas às cores e o outro em tom pérola e com padrões azuis, e dois coletes reversíveis, em manta e em burel.
“É tudo matéria-prima portuguesa, tudo feito à mão. É um projeto 100% sustentável, 100% ecológico e 100% português”, destaca.
Os modelos são desenhados por Tânia, que escolhe também as cores da lã, o padrão e o comprimento das mantas que, a seguir, são tecidas por duas tecelãs, de Évora e de Viana do Alentejo.
As peças, depois, ganham forma em parceria com um ateliê de costura de Évora, acrescenta Tânia: “O trabalho delas é fundamental, ajudam-me imenso, até nos alinhavos e nas soluções de remate”.
Quando Tânia lhe “bateu à porta”, Célia Rocha, uma das costureiras, confessa que achou a ideia “um bocado maluca”, mas não demorou muito a ficar convencida.
“A ideia é engraçada e foge um bocado à tendência, que é o burel”, além de que “valoriza algo que é tradicional” e permite obter “peças muito interessantes”, opina.
O projeto já é divulgado no Facebook e “está na calha” uma página de Internet própria, com loja online. O “sonho” de Tânia é internacionalizar a LOOM, por acreditar que terá “mais facilidade em vender” estas peças, que ficam entre os 200 e 300 euros, para o estrangeiro.
Por agora, a empresária marca presença em várias feiras e ainda está a ajustar pormenores e a melhorar as silhuetas dos casacos e coletes, mas sempre com a simplicidade como mote, para fazer “brilhar” a manta.
“São casacos direitos, com linhas muito simples. Quero que transpareça o desenho da manta porque o material é tão nobre que fala por ele mesmo”, enfatiza.