[Atualizado 11/06]
Da Redação com Lusa
Manifestantes antifascistas e nacionalistas envolveram-se em confrontos junto ao Padrão dos Descobrimentos, neste 10 de junho em Lisboa, e obrigaram à intervenção de agentes da PSP para pôr fim aos incidentes.
A Unidade Especial da Polícia foi obrigada a intervir perto das 18:00 sobre manifestantes de ambos os lados para os separar, constatou a Lusa no local. Depois de separar os dois grupos a PSP usou momentaneamente bastões sobre estes manifestantes.
Os confrontos ocorreram após cerca de meia hora de provocações mútuas entre os dois movimentos que se encontravam separados por poucos metros. Além de cânticos, houve arremesso de balões com tinta, tochas e potes de fumo.
Na sequência dos incidentes, a PSP alargou o perímetro de segurança, afastando também turistas que se encontravam no local.
Após uma fase mais calma e sem incidentes das concentrações dos dois grupos, os elementos da manifestação nacionalista acabaram por deixar o local pelas 19:00. Foi já depois da saída destes elementos que se registou nova intervenção policial desta vez sobre alguns manifestantes antifascistas com bastonadas.
Questionado pela Lusa sobre a operação mobilizada para o Padrão dos Descobrimentos e a escalada de tensão que acabou por levar a alguns confrontos entre manifestantes, o porta-voz da PSP explicou que “é sempre difícil manter o equilíbrio” entre o direito à manifestação e a segurança, “ainda mais numa zona turística”.
“Terá havido um foco de tensão e arremesso de alguns objetos. Para evitar que escalasse para a desordem generalizada, interviemos e alargámos o perímetro de segurança. Temos de manter um equilíbrio entre liberdade e segurança. Enquanto a segurança não foi colocada em causa, demos espaço à liberdade; quando foi colocada em causa, separámos os grupos”, afirmou o subintendente Sérgio Soares.
Assegurou também que houve apenas um “uso momentâneo e regulado” dos bastões pela PSP sobre os dois grupos de manifestantes.
Confrontado com os poucos metros que separavam as duas manifestações antagónicas antes de se registarem os confrontos e as razões para a PSP não ter imposto logo desde o início um maior afastamento, o porta-voz explicou que tal não foi feito para a PSP não ser acusada de condicionar o “direito constitucionalmente consagrado de manifestação”.
crítica
Neste dia 11, a dirigente do SOS Racismo Joana Cabral criticou a ação da PSP na gestão das manifestações nacionalista e antifascista em Lisboa, considerando que as duas ações não podem ser geridas do mesmo modo.
O que “nos preocupa é perceber que a atuação da polícia tem estado de alguma forma mais musculada, mais forte e mais vigorosa” na gestão das manifestações dos movimentos antifascistas ou pró-Palestina e, “infelizmente, a intervenção da polícia parece-nos desproporcional”, porque “não há histórico de violência” por parte dos movimentos antifascistas, afirmou a dirigente da organização não-governamental (ONG).
Perto do Padrão dos Descobrimentos, para onde estavam agendadas as manifestações, a dirigente frisou que existiu “um contingente de polícias maior junto dos manifestantes antirracistas”.
“Até poderíamos dizer que os agentes estavam a tentar proteger esses manifestantes, mas a verdade é que, quando os confrontos se iniciaram, há vários manifestantes do grupo dos antirracistas que são agredidos com bastonadas e infelizmente nós não vemos a mesma resposta na contenção dos outros grupos de manifestantes”, afirmou a dirigente.
Mas “mais do que discutir este incidente isolado, aquilo que nos preocupa é continuar a problematizar a forma como a polícia atua em função daquilo que é a cor dos corpos no espaço público ou a posição ideológica das pessoas que se organizam”, acrescentou a responsável, recordando que tem vindo a ser estudada a “infiltração de forças da extrema-direita nas polícias”.