Da redação com Lusa
Mais de 230 médicos do Serviço Nacional de Saúde aposentaram-se este ano até maio, dos quais 131 eram especialistas em medicina geral e familiar, revelou a ministra portuguesa da Saúde.
Segundo disse Marta Temido aos deputados da comissão parlamentar de Saúde, ouvida nesta quarta-feira, em 2019 aposentaram-se 409 médicos, no ano passado foram 653 e, até maio deste ano 231.
“É uma circunstância que é fruto do que são os direitos do trabalhadores, pelo decurso do seu exercício profissional”, disse a ministra, sublinhando que o Governo tem trabalhado para inverter a situação, tentando abrir mais vagas e “garantido que não há nenhum médico que queira ser contratado que fique por contratar”.
A este propósito, disse ainda que, aproveitando o mecanismo que permite a contratação de médicos aposentados, estão hoje a trabalhar com o Serviço Nacional de Saúde mais 346 médicos aposentados.
Sobre os dados dos utentes sem médicos de família, a ministra sublinhou a duração do ciclo de formação destes profissionais de saúde e sublinhou: “a demografia médica reflete a demografia da sociedade em geral”.
“Não é surpresa nenhuma este volume de aposentações, pois sabia-se que ia confluir para os anos que estamos a viver”, afirmou.
Para contrariar a saída de médicos, a ministra apontou a aposta na abertura de mais vagas especializadas e para medicina geral e familiar: “É uma opção política, não é por acaso”.
“Apesar de sabermos que não vamos, com muita probabilidade, reter todos os médicos [para as vagas do concurso que o Governo autorizou abrir no início do mês], como a taxa retenção nesta área é de 86%, se aplicarmos taxa semelhante aos 459 postos de trabalho abertos, iremos ficar com 395 médicos [medicina geral e familiar]”, afirmou.
E acrescentou: “Se atribuirmos uma lista media de utentes de 1.650 a cada um, iríamos recuperar [e conseguir ter mais] 650 mil portugueses com médicos de família”.
A este propósito, a ministra sublinhou que nos primeiros cinco meses do ano houve mais 75.000 inscritos no Serviço Nacional de Saúde.
Segundo revelou, o custo com encargos com pessoal nos primeiros cinco meses do ano cresceu 190 milhões de euros, dos quais 60 milhões representam encargos com remunerações.
Homenagem
Também neste dia 07, o parlamento entregou o Prêmio Direitos Humanos 2020 à Convenção Nacional de Saúde, pretendendo assim homenagear “todos os profissionais de saúde”, segundo o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.
Na cerimônia de entrega deste prêmio, na Sala do Senado da Assembleia da República, Ferro Rodrigues afirmou que o objetivo foi homenagear “todos os profissionais de saúde, todos, e de todas as áreas” envolvidos no combate à covid-19 com “sacrifício pessoal, abnegação, dedicação e empenho”, numa “ação diária assente nos valores do humanismo e da solidariedade”.
A Convenção Nacional de Saúde surgiu há três anos em resposta a um repto do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para que fosse criado “um pacto” para este setor, e apresentou um programa intitulado “Agenda da Saúde para a Década”, a favor de uma “articulação virtuosa” do SNS “com os setores social e privado, que potencie ganhos em saúde para todos”.
O presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Luís Marques Guedes, deputado do PSD, que presidiu ao júri do Prêmio Direitos Humanos 2020, declarou também que o parlamento quis distinguir “todos os profissionais de saúde”, através da Convenção Nacional de Saúde, “pela forma abnegada, nobre e incansável como se têm dado e batido, com evidentes riscos próprios, no tratamento e na proteção da dignidade e das próprias vidas humanas de milhares de cidadãos atingidos pela covid-19”.
Luís Marques Guedes acrescentou que “foi esse o entendimento unânime do júri”, composto pelos deputados Cláudia Santos, do PS, Fernando Negrão, do PSD, Beatriz Gomes Dias, do Bloco de Esquerda, António Filipe, do PCP, Telmo Correia, do CDS-PP, Inês de Sousa Real, do PAN, e André Ventura, do Chega, e que o presidente da Assembleia da República aceitou.