Lusodescendente inaugura exposição que se prolonga nas ruas de Lisboa

A arte de André Saraiva, um mural com mais de 53 mil azulejos pintados à mão e inaugura do em 2016 em Lisboa.

Da Redação
Com Lusa

O artista francês de origem portuguesa André Saraiva inaugurou, na Underdogs, em Lisboa, “André Azul”, exposição que se estende às ruas da cidade, onde serão espalhados tantos painéis de azulejo como os que estão na galeria.

André Saraiva, filho de portugueses, nasceu na Suécia em 1971, passou a adolescência em Paris e atualmente vive e trabalha em Nova Iorque. O artista, e também empresário, começou a fazer ‘graffiti’ em 1985. Já na década de 1990 criou “Monsieur A” (Mr.A), uma personagem de cabeça redonda, olhos em X, com uns traços a fazerem de pernas e um sorriso rasgado, com a qual se tornaria conhecido em todo o mundo.

Nas paredes da Underdogs estão vários painéis em azulejo, de tamanhos diferentes, onde Mr.A e Miss A (a versão feminina) foram pintados à mão por André Saraiva.

A primeira vez que o artista usou azulejos como suporte foi em Portugal, quando criou o mural do Jardim Botto Machado em Lisboa, inaugurado em 2014, “um projeto que durou mais de dois anos”. Nesse mural, com mais de 53 mil azulejos, pintados à mão, desenhou uma “vista panorâmica de uma cidade sonhada”.

Nessa altura, começou “a conhecer a técnica, a aprender e a descobrir que era uma das técnicas mais adaptadas à Arte Pública: dura no tempo, é muito ‘amiga do público’ e as cores duram”, referiu em declarações à agência Lusa.

“Quando faço um mural de pintura, com spray ou qualquer outra técnica, depois de alguns anos até as cores vão embora, no azulejo não”, disse. Além disso, o azulejo “tem uma luz, uma vibração, uma maneira de refletir que é linda”.

Para preparar estes painéis, bem como os que serão espalhados nas ruas de Lisboa, André Saraiva passou “umas semanas a trabalhar com as pessoas da fábrica Viúva Lamego”, as mesmas que o ajudaram com o mural do Jardim Botto Machado.

É um processo que “demora mais tempo, é mais delicado, porque é mais frágil e tem diferentes processos de ir ao forno e sair e fazer correções”, porque algumas “cores quando vão ao forno ficam outras cores”.

Desta vez usou apenas um tom de azul, “que faz referência ao azul dos azulejos [tradicionais] portugueses, mas é um pouco diferente”. “Quando o pinto parece uma cor clara, cinzenta, vai ao forno e fica um azul muito profundo”, explicou.

Azul e cor-de-rosa são as cores que predominam nas obras de André Saraiva, e para esta exposição não teve duvidas em optar pela primeira. “O traço azul por cima do azulejo é das coisas mais lindas, fora ser a cor tradicional do azulejo funciona muito bem, tem lá dentro tantas variações irreais com a luz de tantas maneiras diferentes que funciona e o contraste azul branco é mais doce do que o preto e branco”, partilhou.

Para “André Azul”, mostra composta inteiramente por trabalhos novos, o artista decidiu trabalhar também com mármore cor-de-rosa português. “Utilizo sempre mármore cor de rosa português em todos os lugares que eu faço, nos meus hotéis, nas minhas casas. [Para a exposição] decidimos fazer uns Mr.A em blocos daquele mármore do Alentejo”, referiu.

As peças em mármore ficam apenas dentro de portas, mas os painéis de azulejo vão sair à rua. Não os que estarão em exposição, mas outros.

“O que está apresentado aqui fiz na mesma quantidade, até mais, para expor na cidade, em diferentes sítios, e as pessoas vão ter que passear e descobrir, ou não descobrir porque alguns vão ser escondidos”, contou.

“André Azul”, de entrada livre, estará patente na galeria Underdogs até 16 de junho.

A Underdogs é uma plataforma cultural, fundada pela francesa Pauline Foessel e pelo português Alexandre Farto (Vhils), que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, exposições dentro de portas, no n.º 56 da rua Fernando Palha, um antigo armazém recuperado e transformado em galeria, e a produção de edições artísticas originais.

A plataforma tem também uma loja, na rua da Cintura do Porto de Lisboa, e começou em 2015 a organizar visitas guiadas de Arte Urbana em Lisboa.

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