Nos últimos anos tem-se assistido em Portugal ao encerramento de um conjunto significativo de livrarias, muitas delas antigos espaços culturais de eleição, de encontro, de convívio e de cidadania. O fecho de portas, nos últimos anos, da Aillaud & Lellos, da Book House, da Bulhosa Livreiros e da Pó dos Livros em Lisboa, ou da Leitura na cidade invicta, são apenas alguns destes tristes exemplos que têm pautado o panorama cultural nacional.
A evolução e a crise do mercado, acentuada com a atual situação de pandemia, a concorrência de grandes cadeias, a forte pressão nas rendas do mercado imobiliário, a falta de apoios ou a alteração do modo de ler, que já não se cinge exclusivamente a ler o livro em papel, são alguns dos motivos que estão na base do encerramento destes estabelecimentos culturais ameaçados de extinção.
Este fenómeno de empobrecimento da vida cultural não é um exclusivo do país, tendo-se igualmente acentuado nos últimos anos no seio das comunidades portuguesas. Longe vão os tempos em que a Livraria Lusófona, do editor João Heitor, foi durante mais de duas décadas um espaço singular na difusão da língua e cultura portuguesa a partir do Quartier Latin em Paris. Uma triste sina de desaparecimento que atingiu também nos tempos mais recentes a antiga livraria Orfeu, sediada em Bruxelas, propriedade do ativista cultural Joaquim Pinto da Silva, cujo desiderato visava promover as culturas portuguesas e galega no coração da Europa. Assim como, a Livraria Camões, em Genebra, do emigrante e livreiro natural do Porto, António Pinheiro, uma genuína embaixada literária de Portugal em terras helvéticas.
Com mais ou menos dificuldades, subsistem ainda algumas livrarias disseminadas pelas comunidades portuguesas, que como no território nacional, vão resistindo aos ventos da extinção, teimando em funcionar como polos agregadores e difusores da cultura e língua lusa. Como é o caso da Livraria – die portugiesische & brasilianische Buchhandlung em Berlim, a Luso Livro em Zurique, a Livraria Portuguesa de Macau, um espaço incontornável da portugalidade no Oriente, e a La petite portugaise, uma renovada livraria portuguesa em Bruxelas que pretende divulgar a cultura lusófona.
A prossecução cultural destes espaços no seio das comunidades portuguesas, demandam neste sentido o apoio resoluto das instâncias competentes do Estado Português ao nível da política cultural externa do país, que não podem olvidar a missão destas livrarias, verdadeiras embaixadoras da língua, cultura e expressão lusófona. Como asseverava o político e escritor Philip Stanhope, conde de Chesterfield, uma “livraria é uma preciosa catacumba onde estão embalsamados e imortalmente conservados os espíritos dos mortos que não morrem”.
Por Daniel Bastos
Escritor português