Da Redação
Com Lusa
A Livraria Solidária, promovida por uma associação sem fins lucrativos e cujas receitas irão reverter para projetos culturais e de desenvolvimento comunitário, abre portas na sexta-feira na freguesia de Carnide, em Lisboa.
O projeto nasceu de “uma vontade coletiva”: a realização do “sonho de construir uma Livraria Solidária” que servisse de “chapéu para um conjunto de outras atividades, de promoção de leitura e desenvolvimento local”, contou à Lusa Paulo Quaresma, da Boutique da Cultura, numa visita ao espaço.
Numa vivenda na rua General Henriques Carvalho, situada entre o centro histórico e a Igreja da Luz, ultimam-se por estes dias os preparativos para a inauguração do projeto da associação cultural sem fins lucrativos Boutique da Cultura, em parceria com outras duas associações de Carnide, a Crescer a Cores e a Azimute Radical.
O financiamento inicial surgiu através do programa BIP-ZIP (Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária) da Câmara Municipal de Lisboa – a Livraria Solidária foi um dos projetos apoiados na edição de 2017 – e o edifício pertence à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com quem a Boutique da Cultura fez um contrato de arrendamento.
“Agarrámos este edifício, fizemos as obras de recuperação e agora vai transformar-se numa casa de livros”, disse o responsável.
Quando a Lusa visitou o local, vários voluntários dividiam-se entre duas salas a catalogar centenas de livros, que colocavam em prateleiras divididos por temas e ordem alfabética.
A partir de sexta-feira estarão “mais de cinco mil livros à disposição de qualquer pessoa, que pode comprá-los a um preço muito acessível – entre um e cinco euros – e a receita reverte a 100% para projetos culturais ou de desenvolvimento comunitário na freguesia”.
“Quem vem comprar aqui livros tem um benefício pessoal, consegue livros muito mais baratos, e ao mesmo tempo sabe que está a ajudar para o desenvolvimento de projetos na área cultural”, referiu Paulo Quaresma.
Além disso, “liberta da ‘subsídiodependência'”, cria-se “uma forma criativa de ter financiamento para [se] poder desenvolver outros projetos culturais aqui na freguesia”, disse.
Um dos projetos associado à livraria são as Leituras ao domicílio.
“Isto não é um projeto apenas para idosos, são pessoas com mobilidade reduzida ou em risco de isolamento. É algo muito amplo, pode ser, por exemplo, uma criança com pais que não sabem ler ou escrever e se ache que faz sentido ir lá alguém contar histórias, pode ser um senhor que aos 50 anos teve um AVC, uma situação provisória, e vá alguém durante uns tempos ler o jornal, como pode ser um idoso em isolamento”, explicou Paulo Quaresma.
A Boutique da Cultura recebeu inscrições de “dezenas de pessoas interessadas em serem voluntários” neste projeto e um primeiro grupo já está a receber formação.
“Estamos já a fazer formação com os primeiros 25 voluntários, que vão depois criar uma relação com um beneficiário. Vão a casa das pessoas ler e estar, se calhar no início vão sobretudo ouvir, mas depois vão começar a ler para as pessoas e assim ajudar a quebrar algum possível isolamento”, referiu.
Os beneficiários serão sinalizados por uma rede de parceiros: Santa Casa, Junta de Freguesia de Carnide, PSP e Gebalis.
“Ninguém vai bater às portas e dizer ‘sou um contador de histórias, venho contar histórias’. Há uma sinalização e na primeira vez que o contador entra na casa da pessoa vai entrar com alguém da associação, com o facilitador que faz a ligação e o acompanhamento aos voluntários e com a PSP”, esclareceu.
Os outros projetos passam pela realização, uma vez por mês, de Serões de conto, que decorrerão “em sítios improváveis, pode ser dentro de uma esquadra, uma padaria ou um talho”, e por haver “em alguns locais da freguesia, sobretudo perto de paragens de autocarro, livros que estão disponíveis para as pessoas levarem gratuitamente trocando por outro”.
Além disso, os livros doados à Livraria Solidária que não estejam em condições “também têm valor e serão aproveitados”.
“Vamos avançar com um projeto de reciclagem de papel. Vamos arranjar algumas pessoas que estão desempregadas ou reformadas e formá-las, para que, a partir do livro velho, transformem e façam produtos em papel que possam ter valor e ser vendidos”, adiantou.
Antes que todos estes projetos se realizem – “arrancam em março” – há um “primeiro passo importante” a dar: a inauguração da livraria, na sexta-feira às 18:30 (horário local).