Livraria Lello e Time fazem projeto de homenagem aos Nobel da Literatura

Da redação com Lusa

A livraria Lello, no Porto, inaugurou hoje um projeto “inédito” com a revista Time, que destaca autores laureados pela academia sueca que foram capa da revista norte-americana, e uma sala dedicada ao único Nobel da Literatura em língua portuguesa.

“Através deste projeto, pretendemos dar visibilidade aos prémios inerentes à literatura, chamar mais uma vez a atenção para a importância do livro e desenvolver a nossa caminhada e a nossa missão de pôr o mundo inteiro a ler e de valorização do livro”, disse a presidente do Conselho de Administração da Livraria Lello, Aurora Pedro Pinto.

A instalação artística “Livraria Lello X Time: What Makes a Nobel?”, assinada pelo diretor criativo da Time, D.W. Pine, destaca autores que receberam o Nobel, mas também outros que “mereceram honras de primeira página” na Time devido “ao valor ‘nobelizável’ da sua literatura”.

Para D. W. Pine, que hoje se juntou à apresentação do projeto via ‘streaming’, explicou que esta é a primeira vez que o seu trabalho está em exposição e que está expectante relativamente a reação do público.

A instalação é composta por 12 painéis, nos quais constam capas da revista Time, desde Rudyard Kipling, um dos primeiros Nobel da Literatura, a Toni Morrison, galardoada pela Academia Sueca em 1993, bem como outros autores que mereceram destaque de primeira página, como Virgínia Woolf e William Shakespeare.

O painel dedicado a José Saramago, também da autoria da Time, coloca em foco uma das fotos que poderia ter sido selecionada para destaque de primeira página, à semelhança dos estudos que conduzem à escolha de muitos dos rostos que costumam fazer a capa da Time.

O painel está inserido numa sala exclusivamente dedicada a José Saramago, juntamente com uma serie de títulos do autor português, entre os quais quatro livros editados pela Lello.

A Coleção Saramago resulta de uma parceria editorial com a Porto Editora e as ilustrações das quatro obras — “Memorial do Convento”, “Ensaio Sobre a Cegueira”, o “Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “As Intermitências da Morte” — contam com ilustrações de João Maio Pinto.

Na apresentação do projeto, Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, considerou que a homenagem é o arranque das comemorações do centenário do escritor, que se assinala em 2022, e lançou um desafio ao diretor criativo da Time.

“Saramago nunca foi capa da Time. Porque não agora? Eu sou jornalista, se quiser posso dar-lhe motivos”, disse Pilar del Rio, que pretende aproveitar o centenário para dizer: “Ânimo, somos fortes, podemos ler e, se formos seres cultos, instruídos, ninguém pode connosco. Somos invencíveis”.

Também o escritor José Luis Peixoto, Prémio José Saramago, em 2001, considerou o Nobel português “um dos grandes nomes da literatura portuguesa, desde que existe língua portuguesa”.

“Somos contemporâneos de José Saramago e, muitas vezes, pode haver uma certa dificuldade de fazer esse reconhecimento, estando tão ligados à pessoa e até à sua obra, que nos diz tanto e de forma tão direta, mas caminhamos para um ponto em que isso é inquestionável”, disse.

Ainda segundo José Luís Peixoto, “Saramago é um dos autores mais reconhecidos internacionalmente e isso não é por acaso, tem que ver com o facto de a própria literatura aspirar à universalidade, na medida em que, quando ela sobrevive à tradução, é porque ultrapassa o seu idioma, ultrapassa a sua cultura e, no fundo, fala daquilo que a literatura sempre procura falar que é o que não muda e o que não muda é a natureza humana. Aquilo que todos partilhamos independentemente do lugar onde vivemos e até independentemente do tempo em que vivemos”.

“O Premio Literário José Saramago foi o meu Prémio Nobel, independentemente dos prémios que tenha recebido a partir daí e, acredito, independentemente dos prémios que possa vir a receber no futuro. Duvido que possa ter na minha vida um prémio que possa ser mais importante para mim do que foi receber o Premio José Saramago em 2001. Pelo momento em que aconteceu, estava numa situação em que a vida podia seguir vários caminhos e, efetivamente, ter recebido esse prémio mudou, claramente, a minha vida de uma forma que eu, apesar de já ter escrito sobre isso, ainda não sei se sou capaz de compreender completamente”, acrescentou.

A Livraria Lello, inaugurada em 1906, recebeu em 2019, no período pré-pandemia, mais de 1,2 milhões de visitantes e vendeu mais de 700 mil livros.

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