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Por Adelto Gonçalves
Uma profunda discussão sobre a presença e a representação da mulher enquanto escritora e personagem no romance brasileiro dos últimos 45 anos – é o que traz o livro Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea, organizado pelas professoras Regina Dalcastagnè e Virgínia Maria Vasconcelos Leal, da Universidade de Brasília (UnB), que reúne textos de mais 12 pesquisadoras de diferentes universidades.
Para justificar cientificamente os textos, a obra traz o resultado de um mapeamento feito pelo Centro de Estudos em Literatura Brasileira da UnB nos períodos de 1965-1979 e 1990-2004 que mostra que, apesar de toda a evolução da condição feminina, a literatura – ou, ao menos, o romance – continua a ser no Brasil uma atividade predominantemente masculina. Na maioria, os escritores são homens brancos e de classe média, que desempenham atividades profissionais como jornalistas, professores universitários, roteiristas e tradutores.
Essa barreira, porém, vem sendo superada passo a passo com a emersão de romancistas e contistas notáveis como Stella Florence, Adriana Lisboa, Lívia Garcia-Rosa, Cíntia Moscovich e Elvira Vigna, que, publicando seus livros por editoras de prestígio, alcançaram sucesso de público, ao lado que outras que já conquistaram o seu lugar, como Lygia Fagundes Teles e Marilene Felinto. Sem esquecer Conceição Evaristo, a grande romancista afro-descendente do Brasil de hoje.
Essa luta por um espaço na cena cultural brasileira é discutida em ensaios bem escritos e fundamentados que oferecem olhares diversos e complementares sobre gênero e mulheres, relacionando-os com outras categorias como classe, nacionalidade, orientação sexual e etnia.
Sobre as autoras: Regina Dalcastgnè é doutora e professora titular de Literatura da UnB, editora da revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de autora de A garganta das coisas: movimentos(s) de Avalovara de Osman Lins e Entre fronteiras e cercado de armadilhas: problemas de representação na narrativa brasileira contemporânea, entre outros. Para a Editora Horizonte, preparou o livro Ver e imaginar o outro: alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporânea (2008).
Virgínia Maria Vasconcelos Leal é doutora pela UnB e pesquisadora do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea. Participou dos livros Formas e dilemas na representação da mulher na literatura brasileira contemporânea, Alguma poesia: ensaios sobre literatura brasileira contemporânea e Imagens & diversidade sexual: estudos da homocultura.
Deslocamentos de gênero na narrativa brasileira contemporânea traz ainda textos das pesquisadoras Adelaide Calhman de Miranda, doutoranda na UnB, Bruna Paiva de Lucena, mestranda na UnB, Cíntia Schwantes, professora da UnB, Cláudia de Lima Costa, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Edma Cristina de Góis, jornalista e doutoranda na UnB, Ermelinda Maria Araújo Ferreira, da Universidade Federal de Pernambuco, Norma Telles, professora aposentada da Pontifícia Universidade Católica, de São Paulo, Rita Terezinha Schmidt, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sandra Regina Goulart Almeida, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Simone Pereira Schmidt, professora da UFSC, Susana Moreira de Lima Bigio, da UnB, e Tânia Regina Oliveira Ramos, da UFSC.
