Lista do Patrimônio Mundial conta com 21 novos sítios, dois deles em Angola e Brasil

Cais do Valongo, Rio de Janeiro. Foto Oscar Liberal/ Iphan

Mundo Lusíada
Com agencias

O Comité do Patrimônio Mundial da UNESCO, reunido em Cracóvia, na Polônia, encerrou os seus trabalhos, tendo aprovado 21 novos monumentos na lista do Patrimônio Mundial, que passa a contar com 1.073 sítios de interesse da humanidade.

Do Brasil, foi classificado o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, ligado ao tráfico de escravos. Angola figura pela primeira vez na lista, com o centro histórico da cidade de Mbanza Congo, na província do Zaire, assim como a Eritreia, com a inscrição do centro histórico da sua capital, Asmara, localizada a 2.000 metros acima do nível médio das águas do mar.

Mbanza Congo, situada a 570 metros de altitude, a antiga capital do Reino do Congo “revela, mais do que em qualquer outro local na África subsaariana, as profundas mudanças causadas pela introdução do cristianismo e a chegada dos portugueses à África central”, segundo o comité.

Asmara, que foi uma fortificação colonial italiana, é, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), “um exemplo excecional do urbanismo modernista precoce, no início do século XX, e sua aplicação num contexto africano”.

Entre as paisagens naturais classificadas na reunião em Cracóvia, no sul da Polónia, contam-se o Parque Nacional de Los Alerces, na Argentina, Qinghai Hoh Xil, na China, e a zona montanhosa de Dauria, na Mongólia e na Rússia.

A lista do Patrimônio Mundial da UNESCO passa ainda a contar com a paisagem cultural do povo Khomani, na África do Sul, as grutas e a arte do período glaciar na cordilheira de Jura, na região alemã da Suávia, a região dos templos Sambor Prei Kuk, na provincia cambodjana de Kampong Thom, a ilha chinesa de Kulangsu, que inclui mansões de estilo europeu, e onde não circulam nem carros nem bicicletas, e a comuna de Taputapuatea, na Polinésia Francesa, na Oceânia.

Passaram também a fazer parte desta lista as fortificações da antiga República Veneziana, do século XV ao XVII, nas costas da Croácia, Montenegro e Itália, a região de Kujataa, na ilha dinamarquesa da Gronelândia, a cidade de Ahmedabad, antiga capital de Gujarat, na Índia, e atualmente sede do distrito, a cidade de Yazd, no Irão, a ilha japonesa de Okinoshima, a Cidade Velha de Hebrón, na Palestina, a cidade polaca de Tarnowskie Góry e respetivas minas, no condado de Tarnogórsk, a região montanhosa dos Lagos Ingleses, no noroeste do Reino Unido, a Catedral da Assunção, na ilha-cidade de Sviyazhsk, na Rússia – que se destaca pelas suas cinco cúpulas douradas em forma de bolbo, tendo no seu interior frescos do século XVI -, e ainda as ruínas da cidade helénica de Afrodisias, atualmente na cidade turca Cária.

A reunião decidiu ainda alargar a área de classificação de alguns sítios, nomeadamente, as florestas primitivas de faias nos Cárpatos e noutras regiões europeias, designadamente Albânia, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Eslovénia, Espanha, Itália, Roménia e Ucrânia.

Foi também alargada a classificação a edifícios representativos da Bauhaus, escola de “design”, artes plásticas e arquitetura na década de 1920, na Alemanha, com a inclusão de projetos construídos em Weimar, Dessau e Bernau, na Alemanha, o Complexo W-Arly-Pendjari, nas repúblicas do Benin e do Burkina Faso, antigo Parque Natural do Níger, e ainda o centro histórico em redor da Catedral de Estrasburgo, em França.

O Centro Histórico de Viena passa a fazer parte da Lista do Patrimônio Mundial em Perigo, enquanto a Cidade Velha de Hebron/Al-Khalil, na Palestina, foi simultaneamente inscrita na Lista do Patrimônio Mundial e na de Património em Perigo, que passa assim a contar com 54 sítios.

O Comitê do Patrimônio Mundial aprovou igualmente a saída da lista do Patrimônio Mundial em Perigo do Parque Nacional de Simien, na Etiópia, do Mosteiro de Ghélati, na Geórgia, e do Parque Nacional de Comoé, na República da Costa de Marfim.

A candidatura “Lisboa Histórica, Cidade Global”, por seu turno, foi incluída na lista indicativa a Patrimônio Mundial, pela UNESCO. Para a câmara da capital este é “o primeiro passo” para uma proposta a Patrimônio da Humanidade.

No Rio
O Sítio Arqueológico Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, faz parte dos novos atrativos turísticos, históricos e culturais da cidade localizados na região conhecida como Porto Maravilha. A área foi revitalizada para os Jogos Olímpicos Rio 2016.

O local integra o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, que estabelece marcos da cultura afro-brasileira na Região Portuária, ao lado do Jardim Suspenso do Valongo, Largo do Depósito, Pedra do Sal, Centro Cultural José Bonifácio e Cemitério dos Pretos Novos.

O Cais do Valongo é o mais destacado vestígio do tráfico negreiro no continente americano. O título de patrimônio da humanidade representa o reconhecimento de um período marcante da história da humanidade. O local, que estava encoberto por outras obras do antigo porto, é o maior símbolo material da escravidão no Brasil.

O reconhecimento da Unesco coloca o Cais do Valongo no mesmo patamar de Hiroshima, no Japão, e do Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, classificados como locais de memória e sofrimento da humanidade, ambos da II Guerra Mundial. Os países membros da UNESCO também reconheceram o valor universal e excepcional do Cais do Valongo como exemplo da violência contra a humanidade representada pela escravidão. Ao mesmo tempo, o local é símbolo de resistência, liberdade e afirmação dos negros do Brasil e do mundo.

A partir de 1774, o desembarque de escravos no Rio foi concentrado na Praia do Valongo, com mercado de escravos, casas de comércio, um cemitério e um lazareto. Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, o tráfico havia se intensificado e as ruínas atuais resultam das obras realizadas a partir de 1811. O tráfico foi desativado por pressão da Inglaterra em 1831. A “lei para Inglês ver” não teria sido cumprida e o tráfico continuou até 1850. Já a escravidão só foi abolida 30 anos depois.

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