Lisboa disponibiliza “casa temporária” para ajudar autonomização dos sem-abrigo que trabalham

O brasileiro Wiston Dyone durante uma entrevista à Agência Lusa, em Lisboa, 15 de janeiro de 2024. Entre a Gare do Oriente e a estação do Cais de Sodré, passando pelo Rossio, as tendas e pequenos abrigos feitos de cartão aglomeram-se, com imigrantes a ultrapassar o número de portugueses a viver nas ruas, e com todos os que a Lusa abordou sem documentos, embora alguns já tivessem deixado para trás um trabalho no Alentejo. Foto ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Da Redação com Lusa

Um espaço vazio no Bairro do Armador, na freguesia lisboeta de Marvila, foi transformado em “casa temporária”, podendo acolher até 15 pessoas em situação de sem-abrigo que trabalham mas não conseguem aceder a uma habitação.

Designado de “Unidade Municipal de Emprego e Autonomia”, o espaço foi hoje inaugurado pela Câmara Municipal de Lisboa, em parceria com a Crescer – Associação de Intervenção Comunitária, que vai ser responsável pelo projeto, disponibilizando nove quartos, dos quais seis com duas camas, cozinha, sala, lavandaria e casas de banho partilhadas.

“Hoje estamos a abrir aqui um projeto inovador”, afirmou o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), explicando que a ideia é “dar casa” às pessoas em situação de sem-abrigo que já estão a trabalhar, ajudando-as por um período médio de seis meses até encontrarem uma solução habitacional para que “possam ser autônomas”.

O autarca explicou ainda que as pessoas que ficarem neste espaço tem de dar 30% do seu rendimento por mês, mas esse valor é devolvido quando saírem: “Com esse dinheiro já podem pagar uma entrada ou uma caução para um contrato de arrendamento”.

Além do alojamento temporário, o espaço tem uma sala para atendimento e acompanhamento social, acompanhamento psicológico e procura ativa de emprego e/ou de habitação.

O imóvel, gerido pela empresa municipal Gebalis – Gestão do Arrendamento da Habitação Municipal de Lisboa, estava vazio e foi alvo de obras para implementar o projeto, dando dignidade ao espaço para “que as pessoas sintam que estão na sua casa”.

“A habitação tem sido sempre a nossa prioridade, mas juntamente com a habitação temos as pessoas em situação de sem-abrigo”, afirmou Carlos Moedas, destacando o Plano Municipal para a Pessoa em Situação de Sem-Abrigo (PMPSSA), que prevê um investimento de 70 milhões de euros em sete anos, entre 2024 e 2030, com 81 medidas.

O presidente da câmara defendeu que é que preciso “mudar estrategicamente” a resposta às pessoas em situação de sem-abrigo, através da prevenção e da inserção social, considerando que o projeto inaugurado hoje pode ser o início de “um novo ciclo” para responder a esta problemática.

“Espero que noutras partes da cidade possamos continuar este projeto. Vamos continuá-lo seguramente, porque é este o caminho, é a integração através do trabalho e através da habitação”, declarou.

O autarca disse ainda que após a pandemia de covid-19 houve “um aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo”, que afeta também “muitos estrangeiros […], que muitas vezes não têm documentação, e aí há um papel muito importante do Estado central”.

“Não podemos receber imigrantes sem lhes trazer dignidade”, defendeu.

O diretor executivo da associação Crescer, Américo Nave, realçou a importância de “diferenciar as respostas” às pessoas em situação de sem-abrigo, para “não estarem todos nas mesmas respostas”, porque há pessoas que estão a trabalhar, pessoas que não estão a trabalhar, pessoas que têm doença mental ou pessoas que têm comportamentos aditivos.

“Esta resposta vai responder a um grupo muito específico: são pessoas que fazem um enorme esforço para ficarem autónomas”, apontou Américo Nave, referindo que o projeto surgiu porque “muitas pessoas” que estão a trabalhar nos restaurantes da associação Crescer “têm muita dificuldade em ter um teto, de ter uma habitação e têm um esforço enorme para poderem trabalhar diariamente”.

O espaço no Bairro do Armador, na freguesia lisboeta de Marvila, vai começar a acolher pessoas a partir da próxima semana, mas a ocupação será gradual, para que haja tempo de habituação entre as várias partes envolvidas, inclusive uma assistente social e um psicólogo da Crescer, equipa que tem de se preocupar com as questões do emprego, da habitação futura, do acesso à saúde e de “desconstruir todas as barreiras que possam estar a dificultar a autonomia das pessoas”.

A vereadora dos Direitos Humanos e Sociais, Sofia Athayde (CDS-PP), contou que o projeto surgiu após uma visita numa zona com muitas pessoas em situação de sem-abrigo e reforçou que o que se pretende é dar uma pré-autonomia para que, depois, se possam autonomizar.

Presente na inauguração, o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, José António Videira (PS), agradeceu o trabalho do presidente da Câmara de Lisboa e sublinhou que, apesar de serem de cores políticas diferentes, ambos priorizam a resposta às pessoas.

“Foi muito fácil dizer à minha população porque é que vinha para aqui uma unidade de emprego e autonomia. Porque não vêm para aqui os sem-abrigo, vêm para aqui pessoas de carne e osso, que têm de ser acolhidas, que têm de ser integradas, e que tem de haver por parte de comunidade gestos de solidariedade nestes tempos difíceis em que vivemos”, declarou o socialista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fliporto anunciou edição 2025 em Aveiro, Portugal

Por Ígor Lopes Foi encerrada, no último domingo em Olinda, no nordeste brasileiro, a edição 2024 da Festa Literária Internacional de Pernambuco. Um evento que teve lugar no Mercado Eufrásio Barbosa. Esta festa literária atraiu mais de cinco mil pessoas

Leia mais »