Por Ígor Lopes
Aos 63 anos de idade, o escritor angolano José Eduardo Agualusa prepara-se para participar em mais um evento literário internacional. Entre os dias 28 e 30 de novembro, estará na primeira edição do Festival Literário Internacional da Paraíba – Fliparaíba, em João Pessoa, nordeste do Brasil.
A sua apresentação acontece durante a mesa “Harmonia e Sustentabilidade. Territórios da Palavra, Nossas Histórias e Identidades”, sábado, dia 30 às 16h, ao lado de José Manuel Diogo, responsável pelo evento, e Rui Tavares, investigador e deputado à Assembleia da República portuguesa.
A viver hoje no norte de Moçambique, José Eduardo Agualusa sublinha que “estes encontros são sempre interessantes para um escritor, na medida em que são uma possibilidade de contactar o público, de ouvir os nossos leitores”.
“A minha expetativa é escutar o que os meus leitores têm para dizer sobre os livros. E também é uma oportunidade para estar com outros escritores, alguns dos quais são meus amigos, que estarão presentes neste encontro”, disse.
Neste festival no nordeste brasileiro, Agualusa irá apresentar o seu novo romance: “Mestre dos Batuques”, no qual o autor expõe os crimes e contradições do processo colonial português no continente africano. A obra foi recentemente lançada em Portugal e no Brasil.
Sobre a organização do festival numa zona descentralizada das grandes cidades brasileiras, Agualusa considera que este tipo de evento “tem sido muito importante no Brasil para a formação de leitores” e também para a “sofisticação desses mesmos leitores”.
“Ou seja, não só criam leitores novos, como ajudam a tornar os leitores mais sofisticados. Isto nota-se pelas perguntas, por exemplo. Quando se abre espaço às perguntas, percebe-se que essas perguntas vão ficando mais profundas, mais interessantes. Portanto, acho que este tipo de festivais ajuda, sobretudo, a formar leitores”, afirmou.
Sobre a literatura lusófona, este escritor, nascido em Huambo, principal cidade da região central angolana, avalia que “o universo literário da língua portuguesa, neste espaço da língua portuguesa, (…) tem vindo a diversificar-se, ou seja, há cada vez mais propostas diferentes a todos os níveis, o que é um sinal de maturidade destas literaturas”.
“Evidentemente, não falo do caso português, nem do caso brasileiro, que são literaturas mais antigas, mas isto nota sobretudo nas literaturas de Moçambique, de Angola, de Cabo Verde. Existem hoje propostas muito diversas, propostas literárias muito diversas, portanto talvez é a riqueza. Se eu tivesse que definir numa palavra, diria isso, a riqueza, a diversidade”, defendeu Agualusa, que não esconde a influência da sua formação em angola no seu trabalho literário.
“A língua portuguesa é importante para mim, a língua portuguesa na sua diversidade, para mim, enquanto escritor, eu uso o português global, o português que se fala em todos os territórios da lusofonia, mas eu sou um escritor angolano, sou angolano, nasci angolano, formei-me em Angola, portanto, o meu olhar sobre o mundo é sempre o olhar de alguém que nasceu naquele território. Ainda que depois a minha vida me tenha levado a muitos outros espaços. A língua portuguesa é importante, sim, mas também é importante essa formação cultural. Tudo isso me transformou, me fez ser aquilo que eu sou hoje”, reiterou.
Este autor africano confessa estar “curioso” em participar na mesa proposta pela curadoria da Fliparaíba, uma vez que acredita ser “interessante participar numa mesa com um autor que não é um autor literário, o Rui Tavares”.
“É um homem da política, é deputado no Parlamento Português. É uma pessoa que eu admiro muito, há muitos anos. Uma pessoa brilhante, inteligentíssima, muito sensata. Estou curioso relativamente à esta mesa, porque é uma mesa um pouco inusitada. Normalmente, partilho mesas com outros escritores, com romancistas, com ficcionistas”, finalizou José Eduardo Agualusa.
Recorde-se que o Fliparaíba terá em destaque as celebrações pelos 500 anos de nascimento de Camões, sob o tema: “Camões 500 – 10 Ideias para um Futuro Descolonizado”. Nomes de vulto da literatura lusófona marcarão presença no evento, com autores provenientes de países, como Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. A ideia é que estes escritores apresentem “perspetivas únicas sobre temas contemporâneos, inspirados na obra de Camões e no desafio de projetar um futuro descolonizado”.
O festival literário, que conecta culturas de Brasil, África e Portugal num “diálogo transformador sobre a língua portuguesa”, correrá no Centro Cultural São Francisco, localizado no Centro Histórico de João Pessoa, estado da Paraíba.