Neste mês de agosto a revista portuguesa “Observa Magazine” em sua edição nº 20, traz o conhecido dirigente associativo de Santos, o Conselheiro do CCP José Duarte de Almeida Alves, que falou sobre o associativismo e atual situação das associações no Brasil. Muito ligado ao Conselho das Comunidades Portuguesas – Conselho Mundial – ele diz que é hora de repensar o associativismo e defendeu que as entidades muito próximas repensem o momento e façam fusões para se manterem.
Por José Duarte de Almeida Alves
É nas dificuldades que ficamos mais fortes e aprendemos a transpor os obstáculos.
O mundo todo foi surpreendido por algo tão pequeno e invisível a olho nu, mas que está a causar incontáveis problemas à humanidade, problemas que nós nunca imaginávamos vivenciar. Problemas, desde o mais grave, que é perda de milhares de vidas humanas, passando pelo desemprego, que causa miséria e fome, até às coisas aparentemente mais simples, mas que na verdade, vêm assumindo graves consequências, como a depressão (que por vezes termina em suicídio), doenças não curadas, em face da própria situação de calamidade no sistema de saúde, e até a falta de perspectiva do término desta pandemia, provocada pela Covid-19, gerando incertezas a todos os segmentos da sociedade e nos próprios governos.
Nós, que estamos ligados a entidades sociais e culturais, como é o caso do Centro Cultural Português, fundado há mais de 124 anos, e objeto da fusão de duas entidades ligadas à Comunidade Portuguesa – o Centro Português de Santos e a Sociedade União Portuguesa – devemos preocupar-nos não somente com nossas atividades profissionais e pessoais, mas também, com a entidade que representamos. Pois, o isolamento social que vivemos no momento, com as restrições a reuniões, festas e demais eventos que impliquem aglomerações, determinadas pelos autoridades competentes (Municipais, Estaduais e Federal), causa dificuldades financeiras sem precedentes nessas entidades, que suportam despesas enormes com a manutenção de prédios, salários, encargos sociais, e que dependem quase exclusivamente desses mesmos eventos, agora interditados, uma vez que o valor arrecadado com as mensalidades dos sócios é insuficiente para cobrir tais despesas.
Antes da mencionada fusão entre o Centro Português de Santos, e a Sociedade União Portuguesa, víamos o primeiro (Centro Português) numa difícil situação financeira, levando em conta que o prédio histórico de estilo neomanuelino, cuja construção foi iniciada no fim do século XIX, exigia (como até hoje exige) uma manutenção que implica elevadíssimos custos com restauração, que não era feita, pois, corria-se o risco daquele lindo prédio acabar por se deteriorar, de forma irreversível.
Diante desse quadro, as Diretorias de ambas as entidades uniram-se, por um acordo de aproximadamente 20 anos, com o propósito de unir as forças, chamando a maioria das demais entidades de Santos com o propósito de unir todas elas numa só entidade, baseado no princípio de que “a união faz a força”.
Não foi possível unir todas as associações, pois, não é um processo fácil, mas as Diretorias do Centro Português de Santos e a da Sociedade União Portuguesa reuniram-se em assembleia e deliberaram, por fusão, unir as duas entidades, formando o atual Centro Cultural Português.
A partir de então, o prédio do Centro Histórico de Santos recebeu a manutenção que precisava, com várias intervenções, e atualmente, estamos a desenvolver obras de restauro no salão anexo ao prédio histórico, de modo que possamos nele promover as nossas festas e demais eventos.
É bom salientar que, após essa fusão, restauramos por completo o espaço do nosso teatro, o qual recebeu o nome do principal benfeitor contemporâneo da nossa entidade, Armênio Mendes, que infelizmente, não pôde participar da sua reinauguração, pois nos deixou antes, de modo que só nos restou prestar-lhe uma homenagem póstuma, na presença da família. A crise social que se instalou em grande parte do mundo, inclusive, no Brasil, ainda antes da atual pandemia da Covid-19, permitiu que a Diretoria do Centro Cultural Português pudesse antever sérios problemas de caixa em nossa entidade, de modo que decidimos aceitar a proposta que a Santa Casa de Santos nos fez, de locar nosso prédio da Av. Ana Costa, onde realizávamos todos os nossos eventos sociais, inclusive, aluguel do salão, geradora de uma renda para fazer face às despesas, a qual, obviamente, deverá ser complementada pelas festas e eventos que passaremos a realizar no salão anexo, que está sendo preparado para esse efeito.
Mas o que assistimos, infelizmente, é que outras entidades não estão em boa situação financeira e económica, por conta da pandemia. Claro que estamos a falar de entidades luso-brasileiras, que levam aos seus associados as lembranças de Portugal através da comida, da música e das danças, além de trazer à memória as datas comemorativas e festas de Portugal, como a festa das vindimas, Fado, Santoínho, Dia de Portugal, Revolução dos Cravos, etc.
Quando se trata de entidades de cidades diferentes e distantes, fica evidente que a união entre elas se torna inviável. Mas, quando as entidades estão relativamente próximas umas das outras, essa diversidade acaba por dividir as forças, ao invés de somar ou multiplicar, sendo muito comum a realização de festas diversas nos mesmos dias, ou dias muito próximos, o que prejudica as duas entidades.
Daí que, levando em conta que teremos que aprender a conviver com um “novo normal”, seria interessante – como necessário – que as entidades se fortalecessem, unindo-se, procurando encontrar pontos de convergência, colocando a cultura luso-brasileira, como bandeira para as negociações dessa mesma união.
Fruto de uma abnegada dedicação e empenho de todos os que deram o seu importante contributo, temos hoje, um clube que se orgulha do seu passado (Centro Cultural Português e Sociedade União Portuguesa), e que tem os olhos postos no futuro, dispondo hoje de um património de referência, através do enorme esforço e colaboração dos vários presidentes, diretores, associados e amigos, que em boa hora decidiram realizar esta fusão.
Ainda há muita coisa a ser feita, nesta entidade que tanto exalta a cultura portuguesa, confraterniza entre brasileiros e lusitanos, e portanto, não iremos parar por aqui, muito especialmente na conquista de novos associados e diretores jovens, que num futuro próximo possam dar continuidade ao trabalho iniciado ao longo de décadas, pelos nossos abnegados antepassados. É o nosso próximo grande desafio!
Finalizando, na nossa modéstia opinião, fazemos aqui um apelo para que todas as entidades que passam atualmente por dificuldades em preservar o seu património material e imaterial, é agora, mais do que nunca, o momento de começarem a pensar, seriamente, em dar esse passo, reconquistando a alegria e o futuro das nossas associações luso-brasileiras.
Por José Duarte de Almeida Alves
Dirigente associativo de Santos, Conselheiro do CCP, para a revista portuguesa “Observa Magazine” na edição de Agosto.
Dirigente associativo de Santos, Conselheiro do CCP, para a revista portuguesa “Observa Magazine” na edição de Agosto.