Jornalismo, militância e a perda de credibilidade

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Por Ronaldo Andrade

“Nunca foi tão necessária e importante a figura do jornalista. Mas é preciso fazer a opção entre o jornalismo e o ativismo. O profissional tem que decidir se vai ser um ativista de suas causas pessoais e ideológicas ou se vai ser um jornalista da sociedade que o remunera, buscando isenção, independência e não fazendo disso um ativismo político. Se ele quer fazer ativismo, e é legítimo, não pode ser no jornalismo, mas em um partido político, sindicato ou outras entidades”.
Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (Jornal A Tribuna (Santos / SP), em entrevista à jornalista e editora-chefe Arminda Augusta. Caderno Brasil, página B3, 17/11/2019).

Este artigo se direciona especificamente ao Jornalismo Político. À Direita ou à Esquerda, alguns profissionais (?) de comunicação – militantes partidários / ideológicos travestidos de analistas – distorcem e deturpam a informação, relativizando-a e contextualizando-a até caber em seu próprio ponto de vista e na narrativa que lhe convém.

Na realidade, não são os fatos que devem se adequar às preferências de quem escreve, e sim o contrário: a verdade deve nortear o trabalho do Jornalismo, mesmo com toda a carga de subjetividade que o uso da palavra ‘verdade’ é empregado, o que demonstra por si o tamanho do desafio da prática jornalística.

O profissional de comunicação tem sua preferência política, religiosa, clubística. Quem trabalha na área sabe, quem não trabalha também: imparcialidade jornalística é um mito. Honestidade, porém, não é: obrigatória, deve ser usada sem moderação, funcionando como freio para as predileções pessoais do jornalista, fazendo com que a função de informar seja, ao menos, mais próxima da isenção o tanto quanto possível.

Caso o jornalista ou veículo decida tomar posição por um lado ou outro, que informe de maneira clara e direta para que o público tome conhecimento e assim fazer sua análise com todas as informações disponíveis sobre a mesa.

O Jornalismo, é preciso destacar, também sofre ataques, de várias autoridades e partidos políticos, como prova a postura agressiva que muitas vezes caracteriza o tratamento que, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro dispensa à imprensa.

Desnecessário por desrespeito aos profissionais, à liturgia do cargo e à pacificação do ambiente político, já profundamente polarizado e desgastado, tal comportamento denota certa ausência de inteligência emocional e falta de visão estratégica do presidente: soubesse utilizá-la, certamente traria benefícios e menor dor de cabeça – a si e ao país. O ambiente político / econômico agradeceria.

Os veículos de comunicação, notadamente os da chamada ‘grande imprensa’, sofreram com o advento das redes sociais profundo baque na forte influência que tinham perante a sociedade: a veiculação de notícias, que antes vinha “de cima para baixo”, com pouca ou quase nenhuma contestação, agora pode ser realizada por qualquer pessoa que, munida de um simples celular, pode produzir conteúdos e colocar em xeque as informações publicadas por jornais, revistas, emissoras de TV, sites, etc.

Desta forma, o público passou a perceber as contradições no discurso de imparcialidade dos órgãos de imprensa na produção de notícias, identificando os interesses políticos, ideológicos e financeiros dos veículos, gerando um distanciamento que fez com que a credibilidade jornalística sofresse grande abalo.

Por isso é fundamental, contra as fake news e as chamadas desinformações, o papel do Jornalismo; este, entretanto, para que tenha a credibilidade assegurada – essencial ativo para a manutenção e fortalecimento de sua atuação para a boa prática jornalística – deve se pautar pela honestidade em respeito ao leitor / ouvinte / telespectador, principal objetivo dos veículos de comunicação. “O resto é sombra de árvores alheias” (Fernando Pessoa).

 

Por Ronaldo Andrade
Jornalista, fotógrafo e escritor. Correspondente do Jornal Mundo Lusíada na Baixada Santista desde 2007.                Servidor público. Pós-graduado em Política e Relações Internacionais (Fundação Escola e Sociologia de São Paulo / SP) e em Gestão Pública Municipal (Universidade Federal Fluminense / RJ).

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