Jorge Sampaio critica a União Europeia por “egoísmos nacionais” em premiação

Mundo Lusíada
Com agencias

Jorge Sampaio. Foto: ONU/Ryan Brown
Jorge Sampaio. Foto: ONU/Ryan Brown

O ex-presidente português Jorge Sampaio criticou a União Europeia (EU) por ter revelado uma “impotência decisória”, quebra de confiança, e “egoísmos nacionais”, durante a cerimônia de homenagem em Lisboa, em 27 de julho, pela atribuição do Prêmio Mandela da ONU.

“Neste mundo preocupado por um diferente alinhamento de hierarquias de poder e da emergência de novas inseguranças, percebemos com desalento que a União Europeia, onde antes íamos buscar conforto (…) tem relevado nos últimos anos uma impotência decisória que parece marca maior da sua política externa”, afirmou Jorge Sampaio.

O ex-Presidente da República vincou também que a UE “tem revelando no seu seio, o que será mais grave para o futuro do projeto europeu, uma divisão e uma evidente quebra de confiança entre os seus membros, em que os antigos valores de solidariedade e respeito mútuo surgem trocados pelo arremesso público de anátemas, humilhações e pela imagem notória de fraturantes egoísmos nacionais”.

Jorge Sampaio foi homenageado em Lisboa, após ter recebido o Prêmio Nelson Mandela da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo trabalho que desenvolveu em prol dos ideais defendidos pela organização, numa cerimônia em que assinalou também que a violência marca este século.

“Carregamos já nestes seus primeiros anos um cortejo de indescritíveis violências, situações de terror múltiplo e geograficamente disperso, crises econômicas e financeiras demolidoras de um desejável progresso social, com preocupantes efeitos e uma grande descredibilização da ação política”, prosseguiu.

O evento, na Fundação Calouste Gulbenkian, contou com a presença do fundador do PSD Francisco Pinto Balsemão, o secretário-geral do PS, António Costa, o líder da bancada parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, ou a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal. Também os antigos ministros da Saúde, Maria de Belém, Leonor Beleza e António Correia de Campos não faltaram, assim como os atuais ministros da Economia, António Pires de Lima, e da Saúde, Paulo Macedo.

O constitucionalista Jorge Miranda, o candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa, o dirigente do Livre/Tempo de Avançar Rui Tavares, e o antigo líder do PSD Luís Marques Mendes também marcaram presença.

Sampaio aproveitou também para exprimir o “agradecimento a todos os que, em Portugal e fora dele, têm favorecido o sucesso do programa de assistência acadêmica a estudantes sírios”, que lançou “perante o drama humanitário inimaginável que esfacela o país”.

Revelando que o seu nome foi proposto para a atribuição do prémio à sua revelia, o antigo enviado especial da ONU na luta contra a tuberculose, agradeceu as “palavras excessivas” e dedicou o galardão a todos aqueles que sempre o ajudaram. “É impossível que um português possa ter este prêmio e não pensar no seu país e naquilo que o seu país pode tirar disso”, declarou aos jornalistas.

Obrigação coletiva e Lusófonos
Antes em Nova York, Sampaio recebeu o prêmio na sede da ONU em 24 de julho. No discurso, o ex-presidente de Portugal disse que “o mundo tem a obrigação coletiva de proteger os indefesos, defender os direitos humanos e os que estão sofrendo em zonas de guerra, em risco ou os que estão em situações vulneráveis”.

Sampaio citou as palavras de Nelson Mandela para dizer que não precisa ser dessa forma. O ex-líder sul-africano disse que “A maior glória em viver não está em nunca cair, mas sim em levantar cada vez que caímos”.

O ex-presidente dedicou o prêmio à Portugal e aos portugueses afirmando que eles são “fortes, generosos, resilientes, tolerantes, mente aberta e cooperativos. Sampaio disse também que estava orgulhoso com o fato de “metade” do primeiro Prêmio Mandela falar português e fez uma homenagem a todos os países lusófonos. Ele citou então o Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste.

Além de Sampaio, a outra vencedora do Prêmio Mandela foi Helena Ndume, uma oftalmologista da Namíbia. Ndume tem trabalhado no tratamento da cegueira e de doenças relacionadas à visão, tanto na Namíbia como em outros países em desenvolvimento.

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