A Campanha da Fraternidade iniciada na semana passada nos chamou para uma reflexão sobre a vida no planeta, isto é, sobre a situação do meio-ambiente e conseqüentemente, faz um alerta sobre o problema do aquecimento global, do desmatamento, da poluição, enfim, todas as agressões que a Terra vem sofrendo por parte da humanidade, especialmente nos últimos 200 anos, quando amadureceu a chamada Revolução Industrial na Europa e o sistema capitalista mostrou-se estruturado.
Jamais o planeta havia sido tão violentado por um modo de produção conforme passou a ser a partir de então. E essa violência se faz em nome do lucro, não apenas uma diferença justa entre os custos de produção mais o ganho, seu prêmio para que se consiga manter o negócio funcionando e progredindo. Nada disso. O que se vê é uma valorização do lucro que vai além dos limites morais, extrapola, e entra no campo da plena ganância. Da grande acumulação, acontecendo nas mãos de poucos endinheirados. Tanto que pesquisas como a do World Watch Institute mostram: 16% das pessoas realizam 78% do consumo no mundo. E um mundo que, apesar das crises, não pára de ter crescimento na produção, significando o uso continuo e ampliado de recursos, de matéria prima.
O professor de economia de Columbia e conselheiro especial das Nações Unidas para as Metas do Milênio, Jeffrey Sachs, aponta que com a economia mundial crescendo a 4-5% ao ano, estamos num caminho para dobrar de tamanho em menos de vinte anos. Os 70 trilhões de dólares da economia mundial serão 140 trilhões, antes de 2030, e 280 trilhões antes de 2050, em caso de extrapolarmos as taxas de crescimento de hoje. Nosso planeta não suportará fisicamente esse crescimento econômico exponencial. Quer dizer, se por um lado há indícios de decréscimo da pobreza no mundo – embora em 2009, só nos EUA, a pobreza atingisse 43,6 milhões de pessoas (14,3% de sua população) e existam 920 milhões de famintos no planeta, segundo a FAO –, por outro lado, com melhora no poder aquisitivo, mais pressão sobre o consumo existe. Então, é preciso se repensar o modelo sob todos os aspectos, equilibrando ainda mais o poder de compra (porque, repito, ainda há uma grande concentração nas mãos de poucos), mas educando o consumo, criando responsabilidades sobre isso. Na visão de Sachs é importante se criar um paradigma de cooperação social e política, tanto no interior dos países, como internacionalmente, buscando fontes renováveis de energia, agricultura sustentável e taxação sobre a renda dos mais ricos. Não é possível mais se conviver com excessos como o que vimos presenciando: poucos concentrando tanta riqueza e consumindo tanto em detrimento da maioria.
Na última semana, o milenar Japão, país que foi violentamente agredido em 1945 com duas bombas nucleares – em um verdadeiro crime humanitário – sofreu dos maiores abalos sísmicos de sua história e, com isso, colocou em xeque seu sistema nuclear. As usinas tiveram explosões e liberaram elementos tóxicos, altamente nocivos às pessoas e à natureza. Água, ar e alimentos, tudo sendo contaminado. Uma prova que a propalada segurança atômica não é tão real assim. E, para quê isso tudo? Para sustentar o modelo econômico contemporâneo.
Nós precisamos com urgência, isto sim, pensar em energia alternativa e renovável, não poluente. O grande acidente na Ucrânia, em Chernobyl, 1986, já havia alertado a comunidade internacional para os riscos desse uso. Mesmo um país reconhecidamente destacado em sua tecnologia e educação como o Japão mostra que o sistema não é confiável. Em 15 de março o jornal britânico The Guardian publicou matéria dizendo que o governo japonês ocultou problemas com sua indústria nuclear, incluindo acidentes/ segurança e alto custo na produção. Aliás, o país não tem inclusive, um local adequado para o armazenamento do lixo atômico. E é bom lembrar que o Japão é a 3ª economia mundial hoje, tendo 54 reatores nucleares funcionando a todo vapor. E, para concluir: a usina japonesa que entrou em colapso foi construída sem planejamento para tremores acima de 7,9 graus na escala Richter. Considerando-se que o Japão é um país em constantes atividades de movimentação geológica, ou seja, terremotos sucessivos, isso parece mais uma brincadeira arriscada com a vida na Terra que os tecnocratas realizam. Este sistema que vivemos precisa, urgente, ser revisto e transformado em nome da paz e do equilíbrio social e ecológico.
São Paulo, 16 de março de 2011.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.