Itaipu e Portugal fecham acordo e reforçam relação entre Mercosul e União Europeia

“Portugal não exporta apenas vinho e azeite, que são muito bons. Portugal também é capaz de inovação, de desenvolvimento, de produzir tecnologias que se convertem em exportações de serviços altamente qualificados”, disse Paulo Portas.

 

Da Redação

Portas_ItaipuFozPR

A Itaipu Binacional e o Centro para a Excelência e Inovação na Indústria do Automóvel (CEIIA), de Portugal, formalizaram em 14 de março, em Foz do Iguaçu (Paraná), uma parceria para desenvolver no Brasil e na América Latina sistemas de gestão de energia para abastecimento, gestão de frota e compartilhamento de veículos elétricos.
A cerimônia contou com a presença do vice-primeiro-ministro de Portugal, Paulo Portas, que classificou a parceria como um “casamento de competências”. Segundo ele, a aproximação de Itaipu e CEIIA fortalece a relação comercial entre o Mercosul e a União Europeia.
Também assinaram o documento o diretor-geral paraguaio de Itaipu, James Spalding; a diretora financeira executiva de Itaipu, Margaret Groff – que representou o diretor-geral brasileiro, Jorge Samek; e o diretor-presidente do CEIIA, José Rui Felizardo.
A solenidade teve ainda a presença do secretário de Energia de Portugal, Artur Trindade; do embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Ribeiro Telles; e do diretor de estudos econômicos, energéticos e ambientais da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Amílcar Gonçalves Guerreiro – entre outras autoridades do Brasil, Paraguai e Portugal.
“Esse ato representa um casamento entre o que os portugueses sabem fazer muito bem, com instituições altamente reconhecidas, nas áreas de mobilidade elétrica, redes inteligentes e energias renováveis, e um país (Brasil) que tem escala continental”, disse Paulo Portas.
No evento, Margaret Groff apresentou o projeto “Laboratório de Mobilidade Inteligente de Nova Geração”, com ações programadas para até 2020. Também foram assinados acordos de cooperação entre o CEIIA e a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (FPTI), do Brasil e do Paraguai, e uma carta de declaração para o desenvolvimento da mobilidade elétrica inteligente.

Know-how
A expectativa de Itaipu Binacional, que desenvolve desde 2006 o Programa Veículo Elétrico (VE), é aproveitar a experiência do CEIIA na área de gestão de mobilidade. Em Portugal, a empresa implantou uma rede com 1.300 eletropostos (para recarregar a bateria do veículo elétrico), distribuídos em mais de 40 cidades. É a maior rede de eletropostos do mundo.
O sistema permite a comunicação entre veículo, fontes de abastecimento e centrais de informação, tornando disponível, em tempo real, dados como localização, quilômetros rodados, potência, carga e até identificação do condutor e as condições do tráfego urbano.
Novos modais de transporte poderão ser integrados ao sistema – como ônibus, Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e bicicletas elétricas, entre outros –, permitindo, inclusive, a cobrança de uma tarifa única de mobilidade, como ocorre hoje com as faturas de energia elétrica ou de telefone.
Margaret explica que o esforço é para transformar o modelo atual de mobilidade, fazendo com que o veículo deixe de ser apenas uma propriedade para se tornar um serviço. “Trata-se de um novo paradigma, podendo servir de referência para políticas públicas”, afirmou.
Paulo Portas disse que a parceria representa um “ato fundador para exportação e internacionalização de serviços e tecnologias avançados”. “Quando se fala em exportações, Portugal não exporta apenas vinho e azeite, que são muito bons. Portugal também é capaz de inovação, de desenvolvimento, de produzir tecnologias que se convertem em exportações de serviços altamente qualificados”, disse.

Cronograma
A primeira fase do projeto prevê a implantação de sistemas de controle e monitoramento nos veículos elétricos e eletropostos de Itaipu e também nas cidades de Brasília e Curitiba – que receberão modelos elétricos durante a Copa do Mundo de Futebol.
Na segunda fase, serão desenvolvidos modelos de compartilhamento de veículos e a instalação, em Itaipu, de um laboratório com eletropostos inteligentes, similar a outro existente em Portugal. Essa fase começa já no fim deste ano, com ações previstas até os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Na terceira fase, a ideia é fomentar a indústria para que transforme essa nova tecnologia em produtos para os mercados do Brasil, Paraguai e de toda a América Latina – incluindo a produção de um veículo elétrico inteligente, com os novos conceitos de tecnologia incorporados.

Relações UE-Mercosul
O documento firmado entre a Itaipu e o CEIIA é um passo concreto no estreitamento de relações comerciais entre Brasil, Paraguai e Portugal, e deverá contribuir para viabilizar outras parcerias no âmbito do Mercosul e da União Europeia.
Na avaliação de Paulo Portas, a relação entre os países vive um momento propício para acordos de cooperação. O ano de 2013, por exemplo, foi de recorde de negócios portugueses no Brasil. Segundo a Câmara Portuguesa de Comércio, Portugal investiu 1,8 bilhão de euros no ano passado em bens e serviços no Brasil, número quase 6% superior a 2012.
Portas contou que esteve presente na apresentação da presidente Dilma Rousseff em Bruxelas, em fevereiro (na ocasião, o Brasil firmou um acordo denominado Plano de Ação para Competividade e Investimentos, com ênfase em cooperação tecnológica, integração de cadeias produtivas e internacionalização de companhias europeias e brasileiras nos dois continentes), e lembrou que Portugal foi um importante aliado do Brasil na disputa com o México pelo comando da Organização Mundial do Comércio (OMC).
“É um momento oportuno não apenas para a cooperação entre governos e empresas, mas também entre universidades e instituições de pesquisa, como neste acordo entre Itaipu e CEIIA. É um acordo que trará melhores tecnologias de transporte, com impactos positivos sobre a economia, o meio ambiente e a qualidade de vida”, afirmou o ministro.
O secretário de Energia de Portugal, Artur Trindade, reforça o caráter prático do acordo, como continuidade do que foi acertado em Bruxelas. “Não é um protocolo de intenções. Trata-se de um compromisso de trabalho”.
O principal diferencial, segundo Trindade, está no fato de se tratar de um projeto de mobilidade inteligente, indo além da simples montagem de veículos elétricos. “Significa pensar em uma transição para a utilização em larga escala de veículos elétricos, com a pesquisa de redes de distribuição de energia e sistemas de carregamento, bem como de tecnologias de telecomunicação embarcadas nos veículos. Tudo isso tendo como prerrogativas a maior utilização de fontes renováveis de energia e o emprego do conceito de smart grid”, resumiu o secretário.
Ele destacou, também, que Portugal é o segundo país, entre os 28 integrantes da União Europeia, com maior utilização de fontes renováveis de energia. Como o Brasil emprega essas fontes em larga escala (cerca de 80% da eletricidade consumida no País), Trindade disse acreditar que ambos os países podem se beneficiar dessa experiência e assumir posições de liderança no cenário internacional.
Por conta de todas essas implicações tecnológicas, a cooperação entre Itaipu e CEIIA é de grande importância para a nova política industrial brasileira, na opinião do diretor da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Otávio Silva Camargo. Para ele, parcerias desse tipo têm o potencial de alavancar novas cadeias produtivas e tecnologias. Pensando nisso, o governo está elaborando um novo capítulo do regime automotivo que deverá ser apresentado ainda neste ano, com incentivos para a fabricação desses veículos. “Não somente os elétricos puros, mas também os híbridos elétricos a gasolina e a etanol”, completou Camargo.
O potencial da parceria como vetor de desenvolvimento também é o enfoque da Empresa de Planejamento Energético (EPE). Segundo Guerreiro, no cenário nacional que a empresa visualiza até 2050, é necessário preparar e capacitar as cadeias produtivas automotivas para essa transição. “O veículo elétrico certamente virá e precisamos estar prontos para as novas necessidades que virão com ele.”
A Itaipu Binacional é a maior usina de geração de energia limpa e renovável do planeta e foi responsável, em 2013, pelo abastecimento de 16,9% de toda a energia consumida pelo Brasil e de 70% do Paraguai. Em 2013, superou o próprio recorde mundial de produção e estabeleceu a marca de 98.630.035 megawatts-hora (98,63 milhões de MWh).

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