Inverter o declínio demográfico “demora décadas”, diz ministra portuguesa

Da Redação
Com Lusa

A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, afirmou que inverter o declínio demográfico do interior “demora décadas”, mas prometeu que não irá baixar os braços e defendeu que a coesão territorial começa ao nível local.

“Inverter o processo de declínio destes territórios demora décadas, até porque também tivemos décadas de abandono deste território. De abandono, em primeiro lugar, por parte de quem pensa a política pública para o território e, em segundo lugar, também por falta das lideranças locais”, afirmou.

Ana Abrunhosa falava na Covilhã, distrito de Castelo Branco, onde participou numa sessão de balanço do trabalho desenvolvido pelo C4 – Centro de Competências em Cloud Computing, que está sediado na Universidade da Beira Interior e que se dedica à investigação e aproveitamento das potencialidades da computação na nuvem.

Este centro começou a funcionar há um ano e, até agora, a grande dificuldade prendeu-se com a contratação do quadro de pessoal, o que conduziu mesmo a atrasos relativamente ao que estava inicialmente previsto, referiu na sessão o diretor do centro, Hugo Viera.

Esta realidade, referiu Ana Abrunhosa em declarações aos jornalistas, mostra que o problema dos territórios de baixa densidade não está na falta de recursos e sim na dificuldade em atrair pessoas e quadros qualificados.

“O problema não é de recursos. É de pessoas e é da maneira como utilizamos os recursos quando eles chegam”, apontou.

A ministra reiterou que, entretanto, é preciso “gerir o declínio” porque há territórios onde já faltam alguns dos ingredientes que podem ajudar a inverter o declínio demográfico e porque “não é possível importar pessoas por decreto”.

Destacando a sua ligação à região e o conhecimento que tem dos territórios de baixa densidade, reconheceu que a tarefa é difícil, mas sublinhou que tal não significa que vá baixar os braços, “bem pelo contrário”.

Ana Abrunhosa lembrou que a receita nos territórios que sobressaem no Interior passou por encontrar lideranças e estratégias de desenvolvimento implementadas numa parceria entre todos, desde o público ao privado, passando pelas instituições, associações culturais, instituições de ensino superior, empresas, associações comerciais, entre outros.

A governante sublinhou igualmente o papel que as entidades locais têm ao nível da coesão territorial e defendeu a ideia de que essa coesão é, em primeiro lugar, responsabilidade dos que estão nos territórios e exige “um trabalho de partilha, colaborativo, inclusivo e em rede”.

“Não adianta estarmos a pedir ao Governo apoios iniciativas e recursos, se essa coesão não for feita, em primeiro lugar, localmente”, afirmou.

Segundo a governante, o centro de ‘cloud computing’ é um bom modelo do que deve ser feito por agregar entidades diferentes, por conseguir a captação de fundos e por promover a investigação científica de excelência, que será transferida para as empresas e para a economia local e nacional.

Apesar das dificuldades iniciais, lembrou, o centro já conta com profissionais de várias nacionalidades e isso mostra que “é possível” atrair pessoas, ainda que demore mais tempo.

Processo Regionalização

Abrunhosa ainda afirmou que a regionalização é um processo que tem de ser amadurecido, mas assumiu que gostaria que pudesse ser concretizado nesta legislatura.

“Portanto, se é um processo que ainda divide os portugueses – e nós sabemos que ainda divide -, é um processo que tem de ser amadurecido e ponderado”, afirmou.

Ana Abrunhosa referiu que “é legítimo” que os autarcas que todos os dias “sentem o preso da centralidade” reclamem a concretização do processo, mas também ressalvou que tem de ser primeiramente consolidado”, dado que “é um tema que ainda divide muito” os portugueses.

Assumindo que é “defensora da regionalização”, Ana Abrunhosa salientou que o processo tem de ser “coletivo e que deve ser agregador dos portugueses”.

Por isso, disse, é preciso “acautelar os receios de muitas pessoas” e esse trabalho começa com a consolidação da descentralização, quer ao nível dos municípios, quer das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional.

“O Estado desconcentrado é uma maneira de consolidar essa descentralização, de permitir perceber as vantagens dessa descentralização e de se passar para a regionalização acautelando os receios que muitas pessoas ainda têm em relação à regionalização”, fundamentou.

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