Da Redação com Lusa
Com casa cheia e a situação financeira a aliviar “ligeiramente”, empresários de bares e discotecas do Porto apostam em segurança privada para, da porta para dentro, colmatarem a insegurança que se vive na rua e protegerem clientes e funcionários.
Neste verão, em que “praticamente já não se sente a pandemia”, a afluência de clientes portugueses e estrangeiros no Moreclub, discoteca na Rua da Galeria de Paris, tem sido “maior do que em 2019”, contou à Lusa António Brandão, um dos sócios-gerentes do espaço que abriu portas em 2010.
O negócio “está a correr bem” e, lá dentro, os clientes usufruem da noite, do ócio e da diversão com “segurança”.
“É preciso que o público em geral perceba que os espaços de diversão noturna oferecem muita segurança no interior”, observou o empresário.
É, no entanto, na via pública envolvente aos espaços de diversão noturna da cidade, maioritariamente localizados na baixa e zona da Movida, que existe “insegurança”, assegurou António Brandão.
“Mas, isso é uma questão que pode facilmente ser corrigida e assegurada pelo policiamento. As forças de autoridade podem, com facilidade, criar segurança na via pública”, referiu.
Com a “insegurança” na rua, os hábitos dos clientes mudaram: “apesar de gostarem imenso das esplanadas, hoje, os clientes facilmente procuram mais cedo os espaços interiores para dançarem e ouvir música”.
“Talvez, por sentirem que dentro há mais segurança do que fora dos espaços”, acrescentou António Brandão.
Para colmatar a insegurança que se vive na via pública, e “garantir aos clientes uma segurança efetiva”, o empresárioreforçou a segurança privada no Moreclub.
“A segurança privada é um instrumento muito caro, mas o retorno é a segurança e o ‘feedback’ dos clientes é que se sentem realmente seguros dentro dos espaços”, reforçou António Brandão, lembrando que é “obrigação” do Estado manter a segurança na via pública.
Com capacidade para acolher 300 clientes, a discoteca tem tido, nestes dias, uma lotação de “100%”, permitindo “recuperar gradualmente” os danos financeiros causados pela pandemia da covid-19.
“Estamos agora a conseguir recuperar gradualmente e sentimos que as pessoas usam de forma civilizada os espaços. O público em geral sai para se divertir e não para criar conflitos”, disse o empresário.
Os conflitos que decorrem na via pública já “afastam alguns clientes”, garante Carlos Machado, responsável por dois estabelecimentos na zona da Movida do Porto, o Romanoff, na rua de José Falcão, e o Griffon’s, na rua Conde Vizela.
“Há clientes que já vão quase diretamente para o estabelecimento e que evitam andar ali nas ruas, ou então, já não vão mesmo para aquela zona mais problemática”, observou o empresário, acrescentando que “não há policiamento e, quando há, o que é raro, é para inglês ver”.
“Os clientes evitam ir para os locais onde há mais violência e outras coisas desagradáveis. Não é só violência que existe na Movida, existem outras coisas desagradáveis”, acrescentou.
À semelhança de António Brandão, também Carlos Machado reforçou a segurança privada num dos estabelecimentos para “reconfortar os clientes e os funcionários”, mas também para fazer face à falta de policiamento na rua.
“Isso vê-se em todas as grandes cidades e principalmente onde há um aglomerado de bares e discotecas, acho que só aqui no Porto é que não se vê”, referiu, acrescentando que se a insegurança vivida não for, atempadamente, colmatada “pode ser, a médio prazo, prejudicial”.
Tanto no Romanoff como no Griffon’s, o negócio tem estado “calmo”, ainda que nos dias que abrem portas ao público, os espaços se encham de clientela.
Apesar da afluência de clientes, a recuperação dos danos financeiros provocados pela pandemia “ainda vai demorar muito tempo”, garante o empresário.
“Vai demorar a recuperar, porque há coisas que não deixamos de pagar, como a renda e as moratórias”, acrescentou Carlos Machado.
Também o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, Nuno Cruz, afirmou hoje à Lusa que a segurança na cidade foi “abandonada” pelo Governo e defendeu mais “polícias na rua” da Movida, onde se concentram os estabelecimentos de diversão noturna.
À semelhança de Nuno Cruz, também as associações de bares e discotecas do Porto defenderam hoje o reforço de policiamento permanente na zona da baixa e do centro histórico, temendo que a insegurança afaste os turistas e locais que têm promovido a retoma econômica do setor.
Abandono pelo governo
O presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto afirmou que a segurança na cidade foi “abandonada” pelo Governo e defendeu mais “policias na rua” da Movida, onde se concentram os estabelecimentos de diversão noturna.
“O Porto está a ficar abandonado pelo Ministério da Administração Interna no que diz respeito a segurança. Não temos segurança e uma maneira de prejudicar o Porto é transmitir às pessoas que não há segurança”, afirmou à Lusa Nuno Cruz.
Considerando que a falta de elementos de segurança é “visível em todo o lado”, e em particular nas zonas onde se concentram a maioria dos estabelecimentos de diversão noturna, o presidente da junta do centro histórico defendeu que cabe ao Governo “garantir” serviços como o policiamento gratificado.
“Esse serviço deveria ser garantido pelo Governo, mas não há elementos que cheguem e não há polícias na rua”, observou o presidente da união de freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, S. Nicolau e Vitória.
Lembrando que as pessoas passaram dois anos e meio “fechadas”, devido à pandemia da covid-19, e que agora se querem “divertir em segurança”, Nuno Cruz salientou que o sentimento nas ruas é “de medo”.
“Há um sentimento de impunidade muito grande. As pessoas acham que podem tudo porque simplesmente não há polícia na rua”, acrescentou.
A falta de agentes de segurança na rua tem originado “várias queixas”, tanto por parte de moradores, como de empresários do setor da diversão noturna, que recorrem à junta na tentativa de solucionar o problema.
O ruído é um dos “rastos” que a noite deixa e fenômenos como o ‘botellón’ e festas na rua propagam.
“Estamos na união de freguesias onde tudo acontece”, destacou Nuno Cruz.
Lembrando que o turismo “sustenta grande parte da atividade econômica” da cidade, o presidente da junta considera que a insegurança poderá levar os estrangeiros a escolher outros destinos.
“Não é isso que queremos”, disse.
A par do ruído, o lixo urbano é outro dos rastos que a noite deixa na cidade do Porto, mas Nuno Cruz defende que a limpeza é assegurada pelos serviços municipais, que diariamente combatem a “falta de civismo”, fazendo um “trabalho exemplar”.
“Precisamos de autoridade na rua. Precisamos de perceber que há leis, há regras, mas que, se não houver autoridade e coesividade, as leis, regras e regulamentos não servem para nada”, acrescentou.
À semelhança de Nuno Cruz, também as associações de bares e discotecas do Porto defenderam hoje o reforço de policiamento permanente na zona da baixa e do centro histórico, temendo que a insegurança afaste os turistas e locais que têm promovido a retoma econômica do setor.
“O que devia ser devidamente acautelado pelas forças policiais e, nomeadamente, pelo Ministério da Administração Interna (MAI) é a presença policial permanente e em períodos longos durante a noite”, afirmou à Lusa o presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, António Fonseca.
Já o presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto, Miguel Camões, garantiu que “da porta para dentro”, os estabelecimentos de diversão noturna são “seguros”, dizendo que o grande problema está “na rua”, onde é notória a “falta de policiamento”.
“Devido à afluência que temos de clientes nestas ruas da Movida do Porto, precisamos de um policiamento presente e permanente, de forma que situações menos agradáveis possam acontecer”, disse Miguel Camões.
Contactada pela Lusa, a PSP do Porto remeteu esclarecimentos para a próxima segunda-feira.
1 comentário em “Insegurança no Porto: Empresários apostam em segurança privada”
Com isso as portas para vigia/vigilantes/segurança privada, estão colaborando para novas contratações. Eu sou estrangeiro e quero ir para Portugal exercer essa atividade.