Da Redação
Com Lusa
“O que damos não nos faz falta” é um dos lemas do Tacho Solidário, iniciativa que todos os dias garante uma refeição a mais de uma centena de pessoas, de famílias carenciadas e sem-abrigo, em Setúbal.
“As pessoas de Setúbal, quando há um apelo à solidariedade, são muito unidas. Quando começamos com o Tacho Solidário, em maio do ano passado, pensei que só íamos conseguir fazer isto durante um ou dois meses”, disse à agência Lusa Cristina Augusto, que deu o pontapé de saída desta iniciativa de solidariedade social.
“Inicialmente fazíamos refeições para cerca de 25 pessoas sem-abrigo e cerca de 20 famílias, mas hoje são muito mais – 90 pessoas sem-abrigo e 25 famílias”, acrescentou Cristina Augusto, que também dinamizou um projeto solidário de ajuda ao Hospital de São Bernardo – fornecendo máscaras, fatos e outros artigos – na fase inicial da pandemia de covid-19.
Foi o trabalho desenvolvido na ajuda ao Hospital de São Bernardo que levou uma colaboradora do CASA (Centro de Apoio aos Sem-Abrigo) de Setúbal a lançar o repto a Cristina Augusto para fazer refeições para os mais necessitados, projeto que se mantém desde maio de 2020, já com mais de 240 tachos solidários confeccionados por diversos grupos de voluntários.
Segundo Cristina Augusto, os voluntários que fazem as refeições inscrevem-se previamente, através de um contato pessoal ou no grupo aberto na rede social Facebook, processo que tem sido seguido desde o primeiro Tacho Solidário, que foi confeccionado nas instalações de uma coletividade, o Grupo Desportivo Independente, de Setúbal.
“A verdade é que, desde então, garantimos uma refeição diária, de domingo a sexta-feira – só não há Tacho Solidário ao sábado. E este ano já temos garantidos diversos grupos para fazerem o tacho solidário, em espaço próprio ou nas instalações do CASA, pelo menos, até final de abril”, acrescentou.
“Os voluntários também asseguram os ingredientes necessários para confeccionar a sopa e o prato principal, que depois é entregue nas instalações do CASA, na Rua Ladislau Parreira, em Setúbal”, sublinhou Natália Abreu, também voluntária, que colabora na gestão das equipas que se disponibilizam para fazer o Tacho Solidário.
A coordenadora da delegação de Setúbal do CASA, Susana Marques, reconhece a importância da ajuda do Tacho Solidário e não tem dúvidas de que a instituição já não teria capacidade de resposta face ao aumento do número de pessoas que todos os dias pedem ajuda alimentar.
“As pessoas que recorrem à nossa ajuda recebem a refeição que inclui uma sopa, prato principal e uma sobremesa, um bolo ou fruta. Antes podiam tomar a refeição no nosso espaço, que funcionava num regime de restaurante social, mas a pandemia tornou essa possibilidade impraticável”, disse Susana Marques.
Se, por um lado, reconhece a importância do trabalho dos voluntários do Tacho Solidário, a coordenadora do CASA lamenta a falta de apoio do poder local.
“A Câmara Municipal de Setúbal, apesar de já termos informado o município do trabalho desenvolvido e do apoio que damos diariamente a dezenas de famílias e pessoas sem-abrigo, deu-nos apenas embalagens para acondicionar as refeições e ofereceu-nos produtos alimentares no Natal do ano passado. Recebemos mais apoio da União de Freguesias de Setúbal do que da Câmara Municipal”, disse.
De acordo com a coordenadora do CASA de Setúbal, se os apoios do poder local são poucos e insuficientes, do poder central é que ainda não chegou qualquer tipo de ajuda.
“Algumas delegações do CASA, que tem o estatuto de IPSS [Instituição Particular de Solidariedade Social], recebem algum apoio, através de protocolos que celebraram com o Estado, mas na delegação de Setúbal não recebemos qualquer tipo de ajuda do poder central”, sublinhou Susana Marques.