Indústrias do granito recorrem a imigrantes para colmatar falta de mão de obra em Portugal

Da Redação com Lusa

Empresas de extração de granito em Portugal estão a recorrer a imigrantes para colmatar a falta de mão de obra no distrito de Vila Real, onde alguns trabalhadores chegaram provenientes do Sul do país após deixarem o trabalho agrícola.

Rafaqat Alia, do Paquistão, e Rashpal Singh, da Índia, trabalharam na agricultura, nas zonas de Odemira e Faro, e estão agora na empresa ASG Construções e Granitos, em Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real.

Rafaqat Alia, 44 anos, está há um ano e oito meses em Portugal. Trabalhava na agricultura no país natal e foi também neste setor que começou por trabalhar, em Odemira, no Sul de Portugal. Está agora no Norte.

Aos jornalistas explicou que se mudou porque nas pedreiras o trabalho “é contínuo”, enquanto na agricultura era sazonal.

“Eu gosto de trabalhar aqui”, afirmou. O imigrante, que comunica em inglês, disse também que o salário na pedreira “é melhor”, onde à remuneração base acrescem as horas extra e ainda o trabalho no dia de sábado.

A empresa disponibiliza casa, paga eletricidade, água e ainda Internet, que os imigrantes usam para falar diariamente com a família. Um objetivo comum aos dois é trazerem a família dos países de origem. Rafaqat Alia tem quatro filhos e Rashpal Singh dois.

Com 45 anos, Rashpal também trabalhava na agricultura na Índia e está há dois anos e meio em Portugal, onde trabalhou em Faro.

“Aqui é muito bom”, salientou, referindo que gosta do trabalho, apesar de duro, e que o salário mínimo na Índia é o “equivalente a 350 euros”.

São ambos operários, trabalham com máquinas que cortam a pedra em cubos, as quais estavam paradas antes da chegada destes imigrantes.

“Tinha encomendas atrasadas há mais de um ano”, afirmou Mauro Gonçalves, responsável pela ASG Construções e Granitos e presidente da Associação dos Industriais do Granito (AIGRA), que há muito tempo alerta para a falta de mão de obra neste setor.

O responsável explicou que, durante a crise de 2010/11, muitos jovens emigraram e que, quando o setor começou a sentir uma retoma a partir de 2015, foi necessário “voltar a contratar”.

“Quando fomos ao mercado não encontramos pessoas para executar esse trabalho e foi a partir daí que nós pensamos em recrutar mão de obra estrangeira”, referiu.

Em julho de 2020 foi anunciado um projeto-piloto para o concelho de Vila Pouca de Aguiar que tinha como objetivo a integração de famílias de refugiados para dar resposta à falta de mão de obra na indústria de extração e transformação de granito.

Para operacionalizar este projeto decorreu, naquela altura, uma reunião de trabalho que juntou a AIGRA, o município de Vila Pouca de Aguiar, as secretárias de Estado para a Integração e as Migrações e a da Valorização do Interior e o Alto Comissariado para as Migrações.

No entanto, segundo Mauro Gonçalves, até hoje “nada foi feito” no âmbito desse protocolo.

“Eu cheguei a estas pessoas através da Internet, do passa a palavra, de pessoas que já conheciam outras pessoas e, aos bocadinhos, fomos trazendo estes trabalhadores para o nosso território e a maioria veio de Odemira”, referiu.

Mauro Gonçalves garantiu que aqui encontram “boas condições” de trabalho e de habitabilidade.

Na sua empresa estão agora oito imigrantes do Paquistão, Índia e Brasil. No concelho de Vila Pouca de Aguiar há cerca de 30 estrangeiros na indústria do granito e à volta de 100 no distrito.

O empresário disse que, para já, com as dificuldades que o setor atravessa também devido também à crise dos combustíveis, não pensa em contratar mais pessoas. A sua empresa tem um total de 70 empregados.

Em Boticas, a Granidias tem um trabalhador paquistanês e aguarda a chegada de mais dois.

“Tem sido bastante difícil. Neste ramo a mão de obra está cada vez mais escassa, apesar de ter cada vez mais procura, mas com esta escassez torna-se complicado e, por isso, tivemos que recorrer a outros mercados”, afirmou o empresário Luís Dias.

Na empresa já trabalharam outros imigrantes, alguns do Uzbequistão, que se traduziram “numa boa experiência” e com quem Luís Dias vai mantendo o contacto depois de regressarem à terra natal.

“A experiência diz-nos que a adaptação é fácil”, referiu, salientando que se pretende a fixação destes estrangeiros, juntamente com as suas famílias, para ajudar também a combater o despovoamento destes territórios.

Sultan Ahmad, 42 anos, está há sete meses em Portugal, depois de ter passado pela Alemanha. Em território nacional esteve também em Odemira e chegou a Boticas há duas semanas para um trabalho que não é sazonal e que diz ser “melhor” e com “mais dinheiro”.

Saiu há sete anos do Paquistão onde deixou quatro filhas.

No distrito de Vila Real existe uma centena de empresas ligadas ao granito, que empregam cerca de 750 pessoas e representam um volume de negócios na ordem dos 100 milhões de euros por ano. Cerca de 60% da produção é destinada à exportação.

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