Da redação
Com agencias
Milhares de australianos manifestaram-se neste dia 10 em várias cidades do país para pedir a demissão do primeiro-ministro, Scott Morrison, devido à sua inação em relação aos incêndios florestais e à falta de compromisso com o clima.
“Estamos a protestar porque estes incêndios não têm precedentes, estão ativos desde setembro e precisamos de ações urgentes para os combater e para lutar contra as alterações climáticas”, defendeu à agência Efe Anneke De Manuel, uma das organizadoras do protesto realizado pelo grupo de estudantes universitários ecologistas ‘Students for Climate Justice’ e o movimento ‘Extinction Rebellion’.
O protesto visa conseguir que seja feita “a transição imediata e a 100% dos combustíveis fósseis para energias renováveis e a demissão de ScoMo (alcunha dada ao primeiro-ministro Scott Morrison)”, sublinhou Anneke De Manuel.
Climate change protesters gather in cities across Australia, with the first Friday climate rallies of 2020 taking place against the continuing bushfire crisis. https://t.co/cQE5c9DAQS pic.twitter.com/HjeInOepy6
— ABC News (@ABC) January 10, 2020
Os incêndios florestais que ardem na Austrália desde setembro passado já provocaram a morte de 26 pessoas, destruíram mais de 2.000 casas e queimaram uma área superior ao dobro da superfície da Bélgica, estimando-se ainda que tenham matado ou deixado sem habitat mais de mil milhões de animais selvagens.
A polícia de Victoria, cuja capital é Melbourne, admitiu não ter efetivos suficientes para a segurança da cidade porque quase todos estão a ser usados no combate aos incêndios florestais, que afetam principalmente o sudeste do país.
O primeiro-ministro tem-se recusado a relacionar o agravamento dos incêndios com a crise do clima, apesar de o próprio instituto australiano de meteorologia já ter confirmado a ligação.
“As mudanças climáticas estão a influenciar a frequência e severidade dos incêndios na Austrália e em outras partes do mundo”, referiu o instituto.
A Austrália é o maior exportador mundial de carvão e Morrison é um dos protagonistas na defesa dessa indústria.
Antes de chegar a primeiro-ministro, Scott Morrison apareceu no parlamento com um pedaço desse mineral como forma simbólica de defender as empresas de mineração numa altura em que aumentavam as críticas e os pedidos para reduzir a extração.
Os manifestantes que estão hoje em protesto em várias cidades do país também exigem que os subsídios às indústrias poluidoras sejam cancelados e alocados ao financiamento dos bombeiros e do combate aos incêndios, assim como a ajudar as comunidades afetadas pelos fogos.
Para muitos australianos, a ‘gota de água’ em relação ao primeiro-ministro aconteceu quando Scott Morrison resolveu ir de férias para o Havai (nos Estados Unidos) no meio da crise dos incêndios, situação pela qual foi forçado a pedir desculpas públicas.
Situação
O número de mortos nos incêndios da Austrália aumentou para 27, e 2.131 casas foram destruídas. O balanço pode piorar com novas avaliações nas áreas mais afetadas.
“Temos a confirmação de 27 mortes e de 2.131 casas destruídas, mas estimamos que com mais avaliações dos danos, especialmente no estado de Victoria, esses números continuarão a aumentar”, afirmou Morrison na quinta-feira.
“Estamos muito longe do fim desta crise e deste desastre”, disse o governante, que anunciou apoio financeiro direto a 42 áreas.
O primeiro-ministro concedeu entrevista em Camberra, depois de uma reunião do Conselho de Ministros para analisar a questão dos incêndios e a tensão entre os Estados Unidos e o Irã.
Morrison citou medidas que estão sendo tomadas em vários pontos do país, com o envolvimento das Forças de Defesa, dos serviços de emergência e dos governos locais, estaduais e federal.
Lembrando que o risco climático deve aumentar nos próximos dias, o primeiro-ministro explicou que atualmente 1.600 reservistas trabalham em operação da Força de Defesa Australiana (ADF), que mantém dois navios, o HMAS Adelaide e o HMAS Chules, no Sul e Sudeste do país.
“Temos equipes trabalhando para restabelecer a energia elétrica em milhares de casas e estabelecimentos comerciais. Há ainda muitos locais sem serviço. Estamos ainda dando apoio emergencial nas áreas mais afetadas, procurando melhorar a infraestrutura”.
Os navios, explicou, podem não só apoiar na retirada de populações, mas ajudar com todo tipo de operação, com helicópteros, equipes médicas e de engenharia capazes de intervir de imediato.
A Austrália conta ainda com o apoio de efetivos dos Estados Unidos, da Nova Zelândia e da Canadá e de vários países da “família do Pacífico”. “Ter esses ativos é muito importante. São navios com capacidade significativa para dar toda a assistência necessária”, disse.
Os serviços de emergência e os governos estaduais estão aumentando os recursos humanos em vários pontos.
O objetivo, segundo Morrison, é tentar o acesso a algumas comunidades que continuam isoladas, reabrindo estradas e permitindo a chegada de serviços de emergência.
O primeiro-ministro informou que o governo vai começar a distribuir, a partir desta sexta-feira (10), pacotes financeiros de, no mínimo,US$ 1 milhão (618,5 mil euros) a 42 regiões.
“É uma assistência financeira imediata que estará nas contas amanhã [sexta-feira] e que permitirá a essas áreas responder de forma imediata às carências mais urgentes”, destacou. O governo estuda medidas adicionais para setores como turismo, agricultura e pequenas e médias empresas.
Além da população, os incêndios tem abatido milhares de animais no país, tendo sido confirmado que o governo autorizou o abate de 10 mil camelos selvagens que sofreram com os incêndios e têm fugido em direção a comunidades próximas em busca de água. Segundo estimativas oficiais, a Austrália tem mais de um milhão desses animais nas áreas centrais do deserto, a maior população de camelos selvagens do mundo.
Os ecologistas estimam que cerca de 25 mil coalas morreram nos incêndios. O número representa metade da população de marsupiais que habita a ilha Kangaroo.
Os incêndios na Austrália já destruíram cerca de 7,3 milhões de hectares e mataram cerca de 500 bilhões de animais em Nova Gales do Sul, informou a Universidade de Sydney, citada pela CNN.
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Heartbreaking habitat devastation in Australia. Grateful for all firefighters and first responders helping! #PrayForAustralia#Australia #AustralianFires #AustraliaBurns #PrayForAustralia #AustraliaOnFire #Koalas pic.twitter.com/kFNAFByUu0— Feliz Worldwide News (@felizworldwide) January 6, 2020