Incêndio que lavra na Madeira há 10 dias mais próximo das casas em Ponta do Sol

Avião Canadair executa uma descarga de água sobre focos de incêndio no sítio da Lombada no Concelho da Ponta do Sol, na Ponta do Sol, 23 de agosto de 2024, O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana. HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Da Redação com Lusa

 

O incêndio que lavra na Madeira há 10 dias continua ativo na Lombada, concelho da Ponta do Sol, “numa zona mais próxima das casas”, disse nesta sexta-feira a presidente do município, considerando, no entanto, que há meios suficientes perto das habitações.

“Onde está a lavrar com mais alguma intensidade é no lado da Lombada, já numa zona mais próxima das casas, mas, como sempre fui afirmando, […] nos arredores das habitações as viaturas inclusive estavam paradas já próximo às casas porque é nessa encosta que está a ser combatido o fogo”, afirmou Célia Pessegueiro, em declarações à agência Lusa, cerca das 16h (hora local).

Caso as chamas se propaguem para mais perto das residências, “qualquer intervenção é relativamente fácil”, assegurou a autarca, considerando que estão “bastantes meios” no terreno.

“Em caso de necessidade e de salvaguardar as casas e os bens das pessoas, é possível deslocar todos os meios que estão alocados àquele sítio para junto às habitações”, reforçou.

Questionada pela Lusa, Célia Pessegueiro disse ainda que o concelho nunca esteve sem focos de incêndio ativos, ao contrário do que afirmou o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, em declarações aos jornalistas, às 11:00, no Pico do Areeiro.

“É estranho uma afirmação desse tipo quando os meios aéreos inclusive foram deslocados para cá”, apontou, referindo que tanto o helicóptero do Serviço Regional da Proteção Civil como os dois aviões Candair têm operado no município.

Segundo a presidente da Câmara, “notou-se uma diferença na intensidade do fogo durante algum tempo” numa zona, mas nos locais onde a vegetação é muito mais densa continuou a lavrar.

“Não dá a percepção de ser um fogo descontrolado, no entanto, o facto de estar junto de uma zona de vegetação mais densa e, apesar de à distancia percebermos que há ali combate, […] há momentos em que o fogo leva vantagem e faz chama”, descreveu.

Relativamente a uma eventual retirada de pessoas das habitações, atendendo às características do local, não deverá ser preciso, mas se a situação se agravar “é só deslocar momentaneamente as pessoas para uma outra posição”.

“Os bombeiros estão mesmo junto à última habitação do sítio, as casas estão todas junto à estrada, portanto a intervenção é muito rápida e eu tenho a convicção de que não chegará mesmo junto às casas”, sustentou Célia Pessegueiro.

Às 11:00 de hoje Miguel Albuquerque afirmou que o incêndio registava apenas uma frente ativa, a norte do Pico Ruivo, sublinhando que a situação estava “mais calma”.

“Só temos neste momento um pequeno foco na zona norte do Pico Ruivo [concelho de Santana], na zona alta do Caldeirão do Inferno, e o que estamos a averiguar é se existem condições para o helicóptero atacar esse núcleo de fogo”, afirmou então.

O presidente do Governo Regional acrescentou que na zona da Lombada, concelho da Ponta do Sol, tinham sido efetuadas de manhã descargas de água “para arrefecer a zona, para não haver reacendimentos, não havendo por isso focos ativos.

O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana. Entretanto, vários focos foram sendo extintos.

As autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção dos da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos. O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infraestruturas essenciais.

Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.

Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.002 hectares de área ardida.

A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas Miguel Albuquerque disse tratar-se de fogo posto.

Parlamento

Em Lisboa, o PS pediu hoje a audição urgente da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, no parlamento para esclarecer a \”gestão política do combate ao grande incêndio na Madeira\”.

Num requerimento entregue no parlamento, o Grupo Parlamentar do PS pede também a audição do presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, Tiago Oliveira, do presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, brigadeiro-general Duarte da Costa, e do secretário-geral do Sindicato Nacional da Proteção Civil, José Costa Velho.

Os socialistas querem ainda ouvir o presidente da Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil, o presidente do Conselho Executivo da Liga dos Bombeiros de Portugal, António Nunes, e o diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, Domingos Xavier Viegas, na comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

O PS pretende \”esclarecer com rigor o que se passou quanto à mobilização dos meios nacionais para combate aos gravíssimos incêndios que persistem na Madeira, designadamente a forma como ocorreu a articulação entre as autoridades nacionais e o Governo Regional, quer nas operações de combate, quer na adoção de medidas preventivas\”.

\”Os incêndios que continuam a alastrar nas serras da região abrangem uma área superior a 8.000 hectares, consumindo cerca de 14% da área florestal do território e colocando em causa a milenária floresta Laurissilva, património natural da UNESCO, sendo o maior incêndio rural em Portugal no ano de 2024. Nos últimos 20 anos arderam mais de 40 mil hectares\”, refere o grupo parlamentar socialista.

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