Igreja Universal diz que acredita na “seriedade e idoneidade” das autoridades portuguesas

Manifestantes durante a concentração organizada pelo movimento de mães contra adoções da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), na Assembleia da República, Lisboa 20 de janeiro. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) voltou a afirmar que não cometeu “qualquer ilegalidade” nos processos de adoção ocorridos na década de 1990, acreditando na “seriedade e idoneidade” das autoridades portuguesas.

Cerca de duas centenas de pessoas juntaram-se, em 20 de janeiro, em frente à Assembleia da República, em Lisboa, para exigir a criação de uma comissão parlamentar de inquérito isenta sobre os casos de adoções alegadamente ilegais envolvendo a IURD, tendo recolhido cerca de 3.400 assinaturas ‘online’ até às 19:00.

Num comunicado enviado à agência Lusa, a IURD diz que a acusação de ilegalidade feita pelo Movimento da Verdade, que organizou a vigília em cinco cidades do país, “não corresponde à verdade e, por isso, é lesivo do bom nome” da igreja.

“Começamos a ver que as instituições não estavam a dar respostas objetivas e eficazes a estas famílias”, disse à Lusa Ana Piedade, uma das fundadoras do movimento, defendendo a criação de uma comissão independente e isenta, porque “não faz sentido a Santa Casa da Misericórdia investigar-se a si própria e o Ministério Público investigar-se a si próprio”.

“Pretendemos que haja uma investigação eficaz e que as instituições tenham uma postura muito mais clara perante estes casos de adoções”, que levaram ao desaparecimento do lar ilegal da IURD de “dezenas de crianças que foram roubadas às mães biológicas com relatórios da Santa Casa com informação falsa e difamatória”.

Durante a vigília em Lisboa, o advogado Garcia Pereira considerou que “o Estado falhou em toda a linha”, manifestando dúvidas se os crimes prescreveram, uma vez que, se estiver “perante condutas continuadas no tempo, esse caso está sempre em aberto”, prosseguiu o advogado.

Garcia Pereira afirmou que “há a responsabilidade de averiguar como essas coisas foram possíveis”.

“Como é que documentos completamente falsos puderam funcionar como bases de decisões judiciais, como é que temos tribunais que proferem decisões que transitam em julgado e não são executadas, e podem obter-se decisões contraditórias como essas. Como são elaborados os relatórios pela Segurança Social, como é que o Estado envia crianças para um estabelecimento que está em condições de total ilegalidade, durante sete anos?”, questiona.

Em comunicado, a IURD afirma que “acredita na seriedade e idoneidade dos organismos públicos que intervieram naqueles processos e acredita que tudo foi feito dentro da lei”.

A TVI exibiu uma série de reportagens denominadas “O Segredo dos Deuses”, na qual noticiou que a IURD esteve alegadamente relacionada com o rapto e tráfico de crianças nascidas em Portugal.

Os supostos crimes teriam acontecido na década de 1990, com crianças levadas de um lar em Lisboa, que teria alimentado um esquema de adoções ilegais em benefício de famílias ligadas à IURD que moravam no Brasil e nos Estados Unidos.

A IURD tem vindo a refutar as acusações de rapto e de um esquema de adoção ilegal de crianças portuguesas e considera-as fruto de “uma campanha difamatória e mentirosa”.

Segundo informações avançadas pela TVI, a IURD tem atualmente nove milhões de fiéis, espalhados por 182 países, 320 bispos e cerca de 14 mil pastores.

Movimento Verdade
Foi o movimento cívico formado por um grupo de mães que promoveu concentração em seis cidades portuguesas para “exigir respostas” sobre os casos.

Revoltadas com as adoções ilegais denunciadas pela TVI e inspiradas pela campanha ‘#Não adoto este silêncio”, oito mulheres decidiram unir-se e criar o “Movimento Verdade”.

“Quisemos fazer alguma coisa. Começámos a ver que as instituições não estavam a dar respostas objetivas e eficazes a estas famílias e achámos que tínhamos que criar um movimento para ajudar estas pessoas”, disse à agência Lusa Ana Piedade, uma das fundadoras do movimento.

“Estamos à espera que os portugueses se mobilizem por esta causa” e que “haja uma grande adesão. Estamos a fazer por isso porque achamos que é uma causa muito nobre”, disse Ana Piedade. “Não há causa mais nobre do que apoiar uma mãe a quem roubaram um filho”.

Em resposta, a IURD refutou as acusações de ilegalidades feitas pelo movimento no comunicado enviado à Lusa.

“Em prol da manutenção do bom nome da Igreja, alerta-se para a referência feita à nossa instituição no título da petição “movimento da verdade”, pecando esta por fazer à IURD uma acusação de ilegalidade que não corresponde à verdade e por isso é lesivo ao nosso bom nome e do qual nós não abdicamos. A IURD quer a verdade! A IURD exige a verdade!”, lê-se no comunicado, no qual a igreja reafirma a convicção de não ter cometido qualquer ilegalidade e a crença na “seriedade e idoneidade dos organismos públicos que intervieram naqueles processos”.

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