Ao declinar de tépida tarde de Estio, em anos de juventude, entrei em “ O Comércio do Porto”, a entregar ao Sr. Manuel Filipe, fotografias para a “Reportagem Gráfica”.
Encaminharam-me a exígua salinha, de altas paredes, com janela para saguão, onde havia, pesada mesa de pé de galo, de madeira maciça, e sólidas cadeiras, também de madeira.
Ao sair, perpassei por varandim, onde dois gentis sujeitos, galhofavam animadamente, comentando, entre frouxos risos, o facto de certo jornalista, ateu confesso, ser indicado a cobrir cerimónia religiosa.
Lembrei-me da caricata cena, hoje, estando a ler o “ Jornal de Notícias”, da cidade do Porto, na confeitaria onde costumo merendar, ao deparar a seguinte informação.
Cátia Palhinha é evangélica e lê o Bíblia em casa.
A auxiliar de acção médica e a mãe tornaram-se evangélicas há cerca de um ano. A mãe da algarvia diz que a filha “ tem muita fé”
Cátia trocou há um ano a fé cristã pela evangélica (….)
“JN”, pág.31-07/12/2011
Estava a comentar, em alta voz, a notícia, quando senhora, envolta em falso casaco de peles e dedos cobertos de anéis, tão falsos como o casaco e os brincos, esclareceu meu espanto de: “ trocar a fé cristã pela evangélica”:
– O que a mãe quis dizer: é que trocou a Igreja de Cristo pela de Deus. Era católica, agora é evangélica.
Empenhadíssimo, agradeci a elucidativa explicação, da gentil senhora, que pelo porte, fez-me recordar recuadas épocas em que haviam Senhoras, no trajo e em espírito.
Não finei de riso, como fizeram os da comitiva de Frei Bartolomeu dos Mártires, ao chegarem a terras de Barroso, mas pasmei pela ignorância religiosa que grassa pela nossa terra, e queira Deus que seja apenas religiosa, não vá a ignorância entrar, também, nas universidades, que são as “fábricas” de políticos, porque então não há santa que nos valha.
Por Humberto Pinho da Silva
De Portugal