Dias atrás a ONU através do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento lançou mais um estudo que classifica as nações dentro do chamado IDH, isto é, Índice de Desenvolvimento Humano. Nesta última edição, o Brasil não conseguiu se desligar da posição 85º no ranking, posto apresentado desde 2007.
Apesar da estagnação e da consequente frustração, os técnicos da ONU fizeram elogios ao desempenho do país nas últimas décadas. O IDH é calculado com base em indicadores de renda, educação e longevidade, quer dizer, saúde. Nesta edição, apesar do posto ocupado sem avançar, o Brasil aparece 137 vezes nos textos, gráficos e tabelas do relatório, representando um recorde de destaques. Inclusive, ajudou a criar o título do próprio relatório: “A ascensão do Sul – progresso humano em um mundo diverso”. É verdade que entre 1990 e 2012 muitos dos países pesquisados tiveram melhoras em seu IDH, mas o Brasil aparece em um grupo de 40 nações que, no período, apresentaram desempenho “significativamente superior” ao previsto, conforme o texto, dada sua condição ainda em 1990. Em 12 anos o IDH nacional vivenciou um aumento de 24%. Essa taxa de crescimento no período é maior que Chile (40ª posição), Argentina (45ª) e México (61ª), entre outros. Um dos 15 de melhor desempenho. Clique aqui para baixar o relatório do PNUD/ONU http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=3704
Fatores como “Estado desenvolvimentista proativo, aproveitamento dos mercados mundiais e inovações em políticas sociais” foram enfatizados. Dentre os itens mais evidentes para os estudiosos, o país teve melhoras significativas mais na educação e na saúde que na renda média de sua população. Ainda assim, foram jogadas luzes sobre os programas de redução da pobreza. O relatório aponta o fato de o Bolsa Família – “versão otimizada do Bolsa Escola”, programa criado em 2001 – ter alcançado mais de 97% de sua população-alvo em 2009. Como resultado, além da redução da pobreza, observou-se um fenômeno de “maior poder das mulheres”, já que elas têm prioridade no recebimento dos cartões para a retirada do benefício. Aliás, estas circunstâncias ajudam a entender também a popularidade da presidente Dilma Rousseff, que bateu novo recorde e atingiu 79% no mês de março de 2013, conforme mostra a pesquisa CNI/Ibope, num contraponto ao baixo crescimento do PIB/2012 e a pressão da inflação.
E mais provas de que há melhoras sensíveis, além do documentado pela ONU, pode também ser constatado pelo DataPopular, instituto que pesquisa a polêmica ‘nova classe média C’. Em que pese, aqui, muita gente questionar a veracidade da nomenclatura ‘classe média’ para um grupo de pessoas que recebem per capita entre R$ 292,00 até R$ 1019,00 ou como renda familiar mensal entre R$ 1110,00 até R$ 3875,00. O fato é que a vida dessa gente, desse grupo de pessoas, vai melhorando.
Com base no IBGE, dados atualizados mostram que nota-se uma frequência aos bancos escolares maior entre a população de 25 até 44 anos, se comparada com a geração seguinte, de 45 até 64 anos. E ainda na relação com os mais idosos. Os jovens possuem 50% mais anos de estudo que os brasileiros de faixa etária intermediária, e três vezes a quantidade de anos de estudo das pessoas idosas. Desta forma, com melhor escolaridade, as possibilidades no mercado se abrem. Assim, enquanto para os mais velhos as atividades estão vinculadas ao trabalho doméstico, para os mais jovens cargos de maior especialização são ocupados devido aos estudos, o que representa melhor remuneração. Portanto, em termos quantitativos, saem as empregadas domésticas e entram as vendedoras e atendentes em lojas especializadas e supermercados ou saem as pessoas da limpeza para ganhar espaço os auxiliares administrativos. Isso é positivo e exige melhoras nas readequações das relações capital x trabalho.
Sem dúvidas que ainda temos muito a avançar para melhorarmos o nosso IDH. Para pularmos do incômodo 85º para uma situação mais privilegiada, entre as melhores nações para se viver, considerando inclusive nossa posição entre as 10 maiores economias do mundo e a propagação do número de bilionários (46, segundo a Forbes, 10 a mais que em 2012). E esta aí a PEC – Proposta de Emenda à Constituição 66/2012, a PEC das Domésticas, como mostra disso. Quando de sua aprovação, para as profissionais, isto equivalerá segundo suas palavras ao ‘fim da escravidão’, pelos direitos que passaram a ser adquiridos. É um exemplo entre tantos a serem conquistados, em pleno século XXI.
Há muitos desequilíbrios dentro do país, seja entre as regiões, seja entre as categorias de trabalhadores etc. Há muita gente com seus direitos básicos vilipendiados. Por isso, por maior que seja o avanço, o passivo de séculos de atraso e descaso com a população e seus direitos é muito grande e precisa de muita energia e realizações para ultrapassá-lo.
A sociedade deve manter-se com suas entidades mobilizadas para que a justiça social seja menos um sonho e mais uma realidade a se viver. São Paulo, 22 de março de 2013, Outono na cidade.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.