Mundo Lusíada
Com Lusa
A economia do setor da hotelaria, comércio e restauração de Fátima está a enfrentar uma retoma “muito lenta” e assente no mercado nacional, que representa pouco mais de 30%, segundo a presidente da Aciso – Associação Empresarial Ourém-Fátima.
“A retoma ainda é muito residual. Começa a verificar-se aqui e ali algumas reservas, mas há um número significativo de hotéis que ainda não reabriram. Está tudo muito lento nesta área do turismo religioso”, contou à Lusa a presidente da Aciso, Purificação Reis.
De acordo com esta dirigente, os turistas que estão chegando a Fátima são do mercado interno, o que representa “pouco mais de 30%”.
“As pessoas ainda têm muitos receios, estão a tentar proteger-se e não querem correr riscos, por isso, ainda não estão a fazer as suas saídas normais. A expectativa é que os portugueses façam férias dentro do país e que [isto] possa vir a mexer um pouco, embora lentamente”, reforçou Purificação Reis.
A presidente da Aciso admite que o regresso das celebrações presenciais poderá ajudar a retoma, mas nada do que se compare “às grandes peregrinações, que continuam canceladas”.
Segundo explicou, a situação econômica neste setor “ainda não é rentável, para que se possa sair do ‘lay off'”, já que “o movimento que existe não o justifica”.
“O próprio comércio não está a abrir. Alguns abrem a porta num dia e depois fecham no dia seguinte, por falta de clientes”, revelou, alertando que todo o setor se preparou e adotou as medidas que garantem a segurança de todos.
Purificação Reis adiantou que “houve um investimento no pós-estado de emergência para estarem preparados para receber os turistas em segurança, mas falta o dinamismo para estabilizar a situação rapidamente”.
No primeiro fim de semana de celebrações presenciais, as ruas de Fátima ainda não estão cheias e as lojas permanecem praticamente vazias. Nas esplanadas e restaurantes há movimento, mas longe da procura habitual nesta época.
A poucos metros do Santuário de Fátima, o restaurante Panorama estava hoje longe da procura a que se habitou nos últimos tempos. “Enquanto as pessoas não ganharem confiança e perderem o medo as coisas não vão evoluir. Já se nota qualquer coisa, mas é muito pouquinho”, afirmou à Lusa Alcides Amado.
O responsável pelo restaurante sublinhou que “a casa vive do turismo e se não há aviões nem grupos, é uma retoma lenta”.
Os clientes nacionais frequentam o espaço, mas “não são suficientes”. Por isso, “se a situação se mantiver, esta será uma das regiões mais afetadas do país”.
Alcides Amado ainda tem funcionários em ‘lay off’. “Não despedi ninguém e gostava de não ter de o fazer, mas a continuar assim não sei como vai ser. Em janeiro perspetivava que este seria um ano maravilhoso. Veio o bicho… É importante que o Governo ajude. Não é só aumentar a dívida, mas são necessários apoios a fundo perdido. Sem clientes não posso fazer nada”, reforçou.
Nas lojas são os turistas estrangeiros que mais compram. “Estivemos abertos durante esta semana e praticamente não vendemos nada. Estamos a abrir mais tarde e a fechar mais cedo. A nossa época é entre maio e outubro, sem voos a retoma é muito lenta e difícil”, afirmou a lojista Rosa Rodrigues.
“Temos perfeita noção de que vai haver alguma movimentação do mercado nacional, mas as pessoas vêm e vão no próprio dia. Por isso, a retoma notar-se-á, primeiro, no comércio e restauração”, constatou ainda Purificação Reis.
Peregrinos de volta a Fátima
As celebrações presenciais recomeçaram neste sábado no Santuário de Fátima, onde mais de um milhar de fiéis circulava pelo recinto, de máscara na cara e com a fé inabalável a acompanhá-los.
Vieram de vários locais do país e alguns fizeram o caminho a pé. Consigo transportaram a crença, a vontade de se reunirem de novo com Nossa Senhora de Fátima, de cumprirem promessas, dar graças e de receberem a paz e o conforto que procuravam.
O reitor do Santuário de Fátima, admitindo que este “será um ano com menos peregrinos”, constata que “vai demorar até se recuperar de novo aquilo que era o afluxo normal de peregrinos ao Santuário”.
“Há algum medo, não em relação a Fátima. É um medo genérico em relação àquilo que possa ser o espaço de contaminação com o novo coronavírus e demora algum tempo a recuperar essa confiança, mas penso que a pouco a pouco ela se vai recuperando. Mas, não tenho dúvidas de que este ano vai ser um ano com muito menos peregrinos em Fátima”, diz.
O padre acredita que, lentamente, seja possível recuperar a confiança dos peregrinos nacionais, mas “em relação aos grupos de estrangeiros será muito difícil”.
“Viagens e peregrinações foram canceladas. Reorganizar tudo para quem tem de vir em viagem de avião e de prever alojamento, vai ser um processo de retoma muito lento”, acrescenta.
“Para todas as igrejas cristãs, mas para o Santuário, que vive da presença dos peregrinos, este foi um tempo particularmente doloroso, por vermos este espaço vazio, sem peregrinos, mas também um grande estímulo, porque nos obrigou a sermos criativos e a procurar irmos ao encontro daqueles que não podiam vir até nós”, afirma Carlos Cabecinhas.
O padre admite que presidir a uma missa num espaço sem aglomerados de pessoas “é uma sensação de alguma estranheza”, mas que “se conjuga com a responsabilidade necessária”.
Explicando que nos espaços fechados estão assinalados os lugares onde é possível sentar com o devido distanciamento de segurança, o reitor diz que a preocupação que o Santuário tem transmitido se deve à “responsabilidade”.
“Não queremos, de forma alguma, que quem vem possa sentir o Santuário como uma ameaça para si”, conclui.
Em Portugal, morreram 1.396 pessoas das 32.203 confirmadas como infectadas, e há 19.186 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.