Neste período de vésperas de Natal o mundo ganhou de presente uma notícia bastante auspiciosa para a melhora nas futuras relações internacionais: Cuba e EUA iniciam o reatamento de relações, rompidas que foram em 1961. De acordo com Barack Obama, que conversou por quase uma hora com Raúl Castro via telefone na terça feira, dia 16/12, a postura dos EUA com relação a Cuba, utilizando-se de isolamento, ‘fracassou’. Segundo o norte-americano, foram “décadas de uma abordagem antiquada que não avançou nos interesses do país”. A reaproximação, a seu ver, “iniciará um novo capítulo entre as nações nas Américas”. Recentemente, uma pesquisa entre os norte-americanos mostrava que 56% defendem uma normalização das relações e este percentual sobe para 63% se considerada apenas a Flórida, que concentra muitos latinos. Um importante passo para que o embargo econômico também seja encerrado, embora isto deva ser objeto de discussão no Congresso estadunidense.
Não podemos esquecer que, para as negociações terem progredido, foram essenciais as intermediações de Canadá, que impulsionou a questão secretamente, e também do Papa Francisco. O Sumo Pontífice, pessoalmente, conversou com Obama em março no Vaticano. Tanto Obama quanto o presidente Raúl Castro elogiaram a postura do líder religioso. Em nota, a Santa Sé afirmou que o Papa ficou ‘fortemente satisfeito’ com a decisão anunciada pelos dois Estados. Diz o texto que “A Santa Sé continuará apoiando as iniciativas que as duas nações empreenderão para crescer nas relações bilaterais e favorecer o bem-estar de seus respectivos cidadãos.”
A história mostra que após a revolução cubana, desenvolvida entre 1956 e 59 pela liderança de Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos, os Estados Unidos ofereceram suporte logístico para uma invasão de milicianos cubanos à Cuba em 1961. Mas, foram derrotados. Em maio daquele ano o país caribenho aliou-se à URSS. Em 1962, uma forte tensão aconteceu quando os EUA descobriram que os soviéticos tinham mísseis instalados com ogivas nucleares em várias localidades da ilha. O mundo ficou em suspense diante da possibilidade de um holocausto nuclear. Existem pouco mais de 100 km de distancia entre suas fronteiras. Dos mais críticos momentos da Guerra Fria. Houve, então, um acordo. E foram postos ‘panos quentes’ naquele instante. Apesar disso, fala-se em várias tentativas de eliminação de Fidel Castro ao longo do tempo pela CIA. No meio deste universo da alta espionagem conta-se que o próprio assassinato de John F. Kennedy, em novembro de 1963, teria vínculos com a questão cubana, em uma somatória de interesses entre direitistas fanáticos, mafiosos e anti-castristas que se sentiram traídos por Kennedy, pois, aparentemente, desistira de invadir a ilha para meramente avançar através de negociações, conforme relata o estudioso Moniz Bandeira. A revolução levou ao fim da ditadura de Fulgencio Batista e a perda do ‘quintal cubano’, com cassinos, prostituição, bebidas e exploração de mão de obra barata no cultivo da cana por interesses dos EUA.
Vale também lembrar que a ONU, em outubro deste ano, em reunião com 193 países, realizou uma votação onde 188 deles optaram – a maioria pela 23ª vez – contra permanência do bloqueio econômico dos EUA contra Cuba, país que conta hoje com 11 milhões de habitantes. Pela manutenção apenas os EUA e Israel foram a favor. Milhões de cubanos sofreram com este isolamento imposto ao longo de 53 anos e, especialmente, após a quebra do sistema soviético, entre 1989 e 91. Agora, com o inicio da reaproximação, a próxima Cúpula das Américas será um evento histórico.
Ainda não é a liberdade que o Estado cubano merece viver em suas relações internacionais, mas é um começo de arejamento. Tomara que o futuro traga para a ilha prosperidade econômica aliada a qualidade de vida para sua sociedade que, mesmo com todas as dificuldades deste sufoco de meio século frente a maior potência do planeta, mantém um IDH 2014 no 44º lugar, classificado como “muito elevado desenvolvimento” pela ONU. Brasil é o 79º colocado, para se ter uma idéia. É, enfim, um cenário bom para todo mundo. Uma região tensa a menos no planeta! São Paulo, 18 de dezembro de 2014
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo