Da Redação
Com Lusa
O secretário-geral das Nações Unidas afirmou nesta segunda-feira que a pandemia de covid-19 pôs em evidência a “enorme fragilidade e interdependência”, reconhecendo que a colaboração e a solidariedade entre os Estados “não têm estado ao nível que as circunstâncias exigem”.
As palavras de António Guterres foram proferidas numa mensagem vídeo de cerca de três minutos enviada à Assembleia da República portuguesa, por ocasião dos 65 anos da adesão de Portugal às Nações Unidas (14 de dezembro de 1955), integrada nas comemorações do 75.º aniversário da fundação da própria ONU.
“As Nações Unidas têm desenvolvido significativos esforços para salvar vidas, combater a transmissão do vírus e precaver os impactos negativos duradouros gerados por esta crise. Porém, é forçoso reconhecer que a colaboração e a solidariedade entre os Estados não têm estado ao nível que as circunstâncias exigem”, sublinhou.
Guterres deu como “um bom exemplo” o caso da extensão, em Portugal, dos cuidados de saúde a migrantes e refugiados, salientando, contudo, que, no quadro global, “a cooperação é muito insatisfatória”.
“A crise provocada pela covid-19 demonstrou a necessidade de mais multilateralismo, um dotado de maior eficácia, ambição e impacto. Precisamos de mais cooperação internacional e de instituições internacionais mais fortes”, afirmou, lembrando que os subscritores da Carta das Nações Unidas desenharam, há 75 anos, a arquitetura institucional internacional das décadas que se seguiram.
“As decisões que tomarmos nos próximos meses terão também um impacto determinante e duradouro”, acrescentou o antigo primeiro-ministro português (1995/2002).
O secretário-geral da ONU lembrou que o mundo vive atualmente “tempos conturbados”.
“A pandemia veio agravar um contexto já anteriormente marcado por persistentes tensões geopolíticas, desigualdades gritantes, uma não equitativa distribuição dos benefícios da globalização, ameaças climáticas, desconfianças face às instituições e os riscos associados à utilização mal-intencionada das novas tecnologias”, lembrou.
Sobre os 65 anos de presença da diplomacia portuguesa na ONU, Guterres destacou que a defesa do papel das Nações Unidas é do interesse próprio de países com o perfil de Portugal, “pelo relevo que a organização atribui ao direito internacional, pelo facto de assentar em princípios subscritos por todos os Estados membros e por desenvolver a sua ação através de métodos e mecanismos previsíveis e previamente acordados”.
“Ao longo das últimas décadas, a participação de Portugal conheceu várias fases, mas em todas elas pautou-se por um desempenho efetivo no trabalho da organização, nomeadamente através da presença em operações de manutenção da paz, no papel de destaque assumido em termos de interessa global, como seja os oceanos, a participação nos esforços coletivos destinados a enfrentar os grandes desafios do nosso tempo, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as alterações climáticas”, sintetizou.
O antigo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) lembrou também o papel “central” desempenhado pelas Nações Unidas que, com o apoio de Portugal, permitiu chegar à independência de Timor-Leste, (20 de maio de 2002)
“As Nações Unidas contam com o continuado apoio de Portugal”, terminou o secretário-geral da ONU.