Guiné-Bissau manifesta interesse formal em suceder a Angola na presidência da CPLP

Guiné-Bissau, General Umaro Sissoco Embaló

Da redação com Lusa

A Guiné-Bissau manifestou interesse formal em presidir à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a partir de 2023, já depois da cimeira de Luanda, em julho.

O embaixador guineense em Portugal afirmou que a Guiné-Bissau quer presidir à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para mostrar ao mundo a estabilidade do país e reforçar a agenda da organização na economia e mobilidade.

Em entrevista à Lusa, Hélder Vaz explicou que a Guiné-Bissau “tem neste momento toda as quotas da CPLP pagas e, pela primeira vez, tem um remanescente que sobra para o ano de 2022”, o que mostra também “a importância” que o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, “dá à dignidade do Estado da Guiné-Bissau nas organizações em que participa”.

A continuação da agenda da mobilidade e a aposta da economia como vetor da organização, já reforçadas na cimeira em Luanda por Angola, são as prioridades da Guiné-Bissau na sua presidência a partir de 2023, explicou o diplomata

A Guiné-Bissau gostaria de assumir a Presidência da organização num biénio (2023-2025) em que terá duas celebrações nacionais “importantes”, salientou Helder Vaz. Em 2023, a Guiné-Bissau celebra os 50 anos da proclamação da independência e, em 2024, “o centésimo aniversário do nascimento de Amílcar Cabral, o pai da nacionalidade”.

Em entrevista à Lusa, o embaixador considerou que o seu país mudou e uma das provas disso é que tem vindo a pôr as contas em ordem nas organizações internacionais a que pertence, entre as quais a União Africana ou a CPLP, que tinha quotas em atraso desde 2018.

Helder Vaz recordou que quando o Presidente da República da Guiné-Bissau visitou aquela organização, em outubro de 2020, assumiu o compromisso de que a Guiné-Bissau iria regularizar as suas quotas. “E assim o fez”.

Neste contexto, “a Guiné-Bissau, através do seu chefe de Estado, manifestou o interesse do país em acolher a próxima cimeira [da CPLP]. Manifestou em Luanda, com base, sobretudo, num conjunto de pressupostos que nos parecem ser válidos e importantes para a comunidade e prestigiantes para a Guiné-Bissau. Trata-se da agenda nacional para a CPLP”, afirmou.

Dessa agenda, “além da questão importante da mobilidade e da sua concretização (…) entendemos que a edificação do pilar da cooperação econômica, que é o tema da presidência angolana, deverá ser objeto de continuidade”, referiu.

Mas a cidadania é para a Guiné-Bissau um “aspecto importante da sua agenda para a CPLP”, realçou.

Um instrumento que “basicamente pretende reconhecer direitos iguais, políticos, econômicos e sociais, aos cidadãos de um Estado-membro da CPLP num outro Estado-membro da comunidade”.

Outra “questão importante” está relacionada com “a cooperação a nível local, a nível dos municípios e autoridades locais”, no espaço da CPLP, indicou.

Por último, a Guiné-Bissau entende que “a criação de um espaço permanente de concertação e de cooperação ao nível do setor social” é outro dos aspetos prioritários na comunidade.

“Achamos que concretizados estes aspetos nós teremos uma CPLP diferente. E esta é a agenda nacional que faz com que a Guiné-Bissau tenha muito interesse em ter a próxima presidência da CPLP para dar este impulso”, frisou o embaixador.

Já sobre uma eventual manifestação de interesse de São Tomé e Príncipe na Presidência da CPLP, a concorrer com a da Guiné-Bissau, Helder Vaz considerou que “é salutar, muito saudável”.

“O conjunto da comunidade avaliará da pertinência do momento de cada um dos Estados-membros exercer a Presidência. Não é qualquer fator de crispação. A Guiné-Bissau e São Tomé têm as melhores relações possíveis. Aliás, somos povos muito parecidos” e “não será por aí que deixaremos de ser muito irmãos e parentes”, frisou.

Mas quando questionado sobre os motivos de ainda não ter havido uma decisão sobre a escolha do país que acolherá a próxima Cimeira, Helder Vaz escuda-se na condição de embaixador e não se quer pronunciar “sobre as razões que animam as decisões dos chefes de Estado.”

“Eles terão a sabedoria necessária para conseguirem encontrar uma decisão que vá ao encontro daquilo que se pretendia nos 15 dias subsequentes à cimeira de Luanda, que é efetivamente indicar o país que acolherá a cimeira seguinte, que é fundamental”, comentou.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP, organização que celebrou este ano o seu 25º aniversário.

No final da Cimeira de Luanda, o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa justificou a não indicação de um novo país para presidir à CPLP, uma decisão que rompe com a tradição da organização que comemora 25 anos: “Há um Estado concretamente que tem um ato eleitoral iminente e na pendência do ato eleitoral e da assunção de responsabilidades emergentes por parte dos governantes desse Estado, pareceu aos chefes de Estado e de Governo que era sensato esperar”.

Mais recentemente, após a segunda volta das presidenciais, o Presidente eleito de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, disse, numa entrevista à Lusa, que “gostaria imenso” que o país “assumisse a presidência que por direito de alguma maneira lhe cabe” e considerou que este é um dos “dossiês prioritários” quando ocupar o Palácio do Povo, a partir de 04 de outubro.

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