Da Redação com Lusa
O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Nuno Gomes Nabiam, afirmou hoje que está “aberto o caminho” para se iniciarem as negociações de um programa financeiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Conselho de Administração do FMI aprovou hoje a terceira e última avaliação ao Programa Monitorado pelo Corpo Técnico e a concluiu a consulta do Artigo IV de 2022 com a Guiné-Bissau.
“Com este passo, está aberto o caminho para se iniciarem as negociações para o Programa Financeiro com o FMI ao abrigo de Facilidade de Crédito Alargado, cuja solicitação foi feita por carta do Governo em 13 de maio último e que já teve a resposta favorável, manifestada por carta endereçada em 20 de maio de 2022, da diretora-geral do Fundo, Kristalina Georgieva”, afirmou o primeiro-ministro guineense.
Nuno Gomes Nabiam falava à imprensa, no Palácio do Governo, em Bissau, após a divulgação dos resultados da reunião do Conselho de Administração do FMI.
“Estamos todos de parabéns, pois o sacrifício valeu a pena, porque só assim é que se pode gerir o país, numa perspetiva de longo prazo”, disse.
Nuno Gomes Nabiam salientou o “papel de auditor econômico-financeiro internacional” do FMI, cuja “opinião sobre a gestão macroeconômica é essencial” para “garantir a confiança e apoio dos parceiros de quanto precisa a Guiné-Bissau”.
“A partir deste momento, estão lançadas as bases para o país seguir na sua senda do desenvolvimento de forma estável e sustentada, pois logo que forem concluídas as negociações do programa financeiro e aprovado pelo Conselho de Administração do Fundo, que será ainda no decurso deste ano, o país receberá apoios importantes e necessários para financiar o seu desenvolvimento”, sublinhou o primeiro-ministro.
O primeiro-ministro guineense destacou também que o Governo está a aguardar um “financiamento eminente do Banco Mundial”, no valor de 70 milhões de dólares (cerca de 66,4 milhões de euros), para reabilitar a estrada entre Safim e Mpack, na fronteira do Senegal com a Guiné-Bissau.
O FMI anunciou hoje a aprovação da terceira e última revisão do programa de assistência técnica na Guiné-Bissau, a última ao abrigo deste acordo para apoiar as autoridades a equilibrarem a economia do país.
“A economia da Guiné-Bissau recuperou bem da pandemia de covid-19; o crescimento deverá chegar aos 3,8% este ano, apoiado por um contínuo bom desempenho do setor do caju e uma situação política relativamente estável”, lê-se no comunicado divulgado hoje pelo FMI, que dá também conta da conclusão da análise anual à economia do país, ao abrigo do Artigo IV.
A conclusão do Programa Monitorado pelo Corpo Técnico do FMI “reflete os esforços das autoridades para sustentar uma forte gestão orçamental e construir uma base sólida para a Facilidade de Crédito Alargado (ECF, na sigla em inglês)”, que as autoridades de Bissau pretendem.
Inflação
O ministro das Finanças da Guiné-Bissau, João Fadiá, disse hoje que a inflação é um problema mundial e que o país não foge à regra e vai ter de lidar com isso.
“Isto é um problema mundial está a transferir-se para as economias o problema que existe no leste europeu e que está traduzido no aumento de preços e não se sabe onde vamos parar”, afirmou o ministro das Finanças, quando questionado sobre o impacto da guerra na Ucrânia na inflação.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê, na análise anual da economia da Guiné-Bissau, um abrandamento da economia para 3,8% este ano e uma subida da inflação para 5,5%.
“A Guiné-Bissau não foge à regra e vamos ter que ir ajustando e enfrentando a situação à medida que vai prevalecendo”, disse João Fadiá, lembrando os valores da inflação nos Estados Unidos, Inglaterra e União Europeia.
“Não sei dizer hoje qual o impacto final de toda esta situação, porque tem um custo social mundial, e a Guiné-Bissau não é exceção, vai ter de ser assumido e vamos ter de lidar com isso”, salientou.
Apesar do abrandamento do crescimento da economia para 3,8% em 2022 – o crescimento do Produto Interno Bruto em 2021 foi de 5% -, João Fadiá disse que as perspetivas econômicas são boas.
“Temos indicadores de que a campanha de caju está a correr normalmente, conseguimos um financiamento do Banco Mundial de 70 milhões de dólares [cerca de 66,5 milhões de euros] para a estrada e isso vai ter o seu impacto na economia”, afirmou.
A castanha de caju é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau, do qual dependem direta e indiretamente 80% dos guineenses.
O ministro referiu também que há sinais de que este ano vai chover bastante e que, sendo assim, “também a produção agrícola vai atingir níveis mais importantes e isso tudo assegura uma perspetiva positiva e boa para o crescimento econômico, não obstante este problema da inflação”.
Questionado sobre a despesa extraordinária que o Governo terá de fazer por causa das eleições legislativas antecipadas, marcadas para 18 de dezembro, o ministro das Finanças disse que os únicos gastos não esperados é o financiamento das eleições.
“Vamos ter de assumir todo o processo de recenseamento que vai custar cerca de 4,5 mil milhões de francos cfa [cerca de 6,7 milhões de euros], mas está a ser encarado pelo Governo. Tudo o que o Governo vai assumir neste processo é a despesa com o processo eleitoral, mas espero contar com algum apoio dos parceiros”, afirmou.