Da Redação
Com Lusa
A Economist Intelligence Unit (EIU) considerou que a greve dos trabalhadores petrolíferos da Petrobras pode pôr em causa a exploração das reservas de petróleo em águas ultraprofundas, dificultando ainda mais a recuperação econômica da empresa.
“A Petrobras, já a braços com a maior dívida da indústria petrolífera global, descida dos preços, paralisia, escândalo de corrupção que pode custar milhões e a perda da recomendação de investimento [pelas agências de ‘rating’], tem agora um novo problema, uma greve, que, além de afetar a empresa, põe também em causa o desenvolvimento das enormes reservas no pré-sal”, diz a EIU.
De acordo com uma nota enviada aos investidores pela unidade de análise econômica da revista The Economist, a que a Lusa teve acesso, estas dificuldades podem inclusivamente fazer adiar o próximo leilão de exploração das reservas, “que não deverá provavelmente realizar-se antes de 2017”.
Os trabalhadores, que começaram a greve no princípio deste mês, exigiam não apenas as tradicionais reivindicações de maiores salários, melhores condições de trabalho e maior partilha dos lucros, querem também reverter o plano de corte de 15 mil milhões de dólares (14,1 mil milhões de euros) na despesa que a empresa traçou para os próximos anos, e que é encarado pelos analistas como vital para que a Petrobras consiga equilibrar o orçamento e gerir a dívida de mais de 130 mil milhões de dólares (122,8 mil milhões de euros).
A greve, que começou no início deste mês, já teve uma resposta da Petrobras, que ofereceu um aumento salarial de mais de 9,5% e abertura para discutir mais compensações, desde que os trabalhos fossem retomados.
De acordo com a imprensa local, dois dias depois desta proposta, a principal estrutura sindical do setor, a Federação Única dos Petroleiros, recomendou o fim da greve, que atualmente já não tem expressão.
A Petrobras, envolvida num complexo esquema de corrupção e ramificações políticas ao mais alto nível político no Brasil, com perdas de mais de 10,5 mil milhões de dólares (9,1 mil milhões de euros), está também numa difícil situação financeira: apresentou perdas de cerca de mil milhões de dólares (944 milhões de euros) só no terceiro trimestre, as ações caíram 20% desde o início do ano e valem agora mais ou menos 6% do que valiam no pico, atingido em maio de 2008.
Além de ter perdido o ‘rating’ de investimento pelas principais agências de notação financeira, a Petrobras cortou o plano de investimento para os próximos cinco anos em mais de um terço e baixou também as metas de produção em mais de 30%, antecipando agora uma produção de 2,8 milhões de barris por dia em 2020, o que representa uma descida face à meta anterior de 4,2 milhões.
No total do país, escreve a EIU, “a produção de petróleo deve também ser significativamente mais baixa”, até porque a Agência Nacional do Petróleo, o regulador local, também reviu em baixa as previsões para 2020, de 5 milhões para 3,6 milhões de barris por dia.