Graça Castanho: A União Europeia em ziguezague

Nunca a União Europeia enfrentou um problema tão grave como este que agora vivemos, fruto da insistência da Grécia em manter as suas propostas e projeto para o seu país. Já todos percebemos que a Grécia não está liberta de duras críticas pelos sucessivos incumprimentos. Mas a verdade é que a União Europeia também não tem estado no seu melhor porque é igualmente culpada por esta crise e por muitas outras que pulverizam os estados membros.

A UE tem demonstrado uma preocupante impreparação para enfrentar problemas com esta dimensão. Habituada a reinar a seu belo prazer, com os olhos postos em superficialidades e emaranhada em mordomias, altos salários e pouco trabalho, a máquina da União Europeia nunca se preparou para diferentes cenários, nem nunca colocou no terreno ao serviço dos povos que devia servir uma fiscalização apertada do uso dado aos dinheiros que a própria União Europeia foi atribuíndo ao longo de décadas, nem se deu ao trabalho de ir acompanhando a implementação de políticas, por si emanadas, nos diferentes países. A impunidade que tem imperado e o abandono a que têm sido votados os países da zona Euro, sem acompanhamento sustentável da aplicação das leis vindas de Estrasburgo, levaram a este descalabro total. Estamos num impasse, com milhares de ziguezagues no decorrer desta longa caminhada.

A União Europeia necessita urgentemente de uma reforma, começando pelo controle, fiscalização e acompanhamento que deve fazer nos países da zona euro. O cumprimento da regulamentação europeia tem de ser mais apertado, sob pena de os países não receberem os respetivos apoios. Se assim a União Europeia tivesse procedido com a Grécia há décadas, a crise não seria tão profunda e tão imprevisível para toda a zona euro. Se assim a União Europeia tivesse procedido com Portugal, muita corrupção teria sido evitada. Por tudo isto, é tempo de a União Europeia criar novas formas de atuar, novas formas de atribuir apoios, novas formas de fiscalizar as bancas nacionais e os governos, novas formas de trabalhar, novas formas de punir quem não respeita as leis, as orientações e a regulamentação europeia.

Sabemos que para tal acontecer a própria União Europeia tem de se reinventar, constituindo-se como um modelo de virtudes, dando o exemplo e impondo-se pela sua competência e eficácia. Neste contexto, cabe à máquina da União Europeia reequacionar um conjunto vasto de setores, com vista ao rigor, à transparência e à contenção de despesas, nomeadamente diminuindo os salários e as mordomias dos seus funcionários (desde os mais altos cargos), criando novas formas de seleção dos eurodeputados (é urgente acabar com eleições europeias assentes em partidos. O eleitorado deve eleger os seus deputados, nominalmente apresentados); fazendo exigências quanto ao perfil académico e profissional dos eurodeputados e restantes funcionários (a UE precisa de gente altamente qualificada nas diferentes áreas de intervenção); colocando os eurodeputados ao serviço das suas populações e dando contas públicas do seu trabalho em prol dos seus países; obrigando ao cumprimento de um horário de trabalho digno; criando mecanismos de controle e fiscalização dos dinheiros cedidos pela União Europeia e da atividade bancária e dos governos.

A União Europeia está cansada do amadorismo que tem caracterizado as práticas dos responsáveis europeus e daqueles/as que nos representam. Andamos aos ziguezagues há anos, num desnorte imenso, no seio de uma União Europeia incapaz de se governar, colocando-nos perante riscos difíceis de avaliar no momento histórico. Fazem-nos crer que a União Europeia pode subsistir sem a Grécia. Será assim tão líquido com a ameaça da Rússia tão perto, com os problemas dos Balcãs, com a Turquia e o avançar do Estado Islâmico? Será que os Estados Unidos, antigos aliados da Europa, vão encarar com bons olhos a possibilidade da saída da Grécia da Zona Euro, deixando toda aquela área geográfica, já de si conturbada, exposta a novas ameaças?

Estamos a brincar com o fogo e este não tem uma única direção, pois vem aos ziguezagues e muita destruição trará se não nos acautelarmos e se não formos à origem dos problemas. Basta de remendos e políticas avulsas e inconsequentes.

Na construção desta nova União Europeia, a futura Chefe de Estado de Portugal, Graça Castanho, colocar-se-á ao serviço deste desígnio europeu para o bem de Portugal, da Europa e do mundo.

 

Por Graça Castanho
Ponta Delgada, Açores- 28 de junho de 2015

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