Da Redação com Lusa
O primeiro-ministro disse hoje que o apoio do Governo português a António Costa, no quadro de um pré-acordo global sobre os cargos de topo da União Europeia, foi decidido “a olhar sobretudo para o interesse da Europa”.
No debate preparatório do Conselho Europeu de quinta e sexta-feira, Luís Montenegro recordou que, no dia 09 de junho (na noite das eleições europeias), anunciou que o Governo português iria apoiar uma candidatura de António Costa a presidente do Conselho Europeu, se se viesse a consumar no quadro de um acordo entre as maiores famílias políticas do Parlamento Europeu.
“No Governo tomámos esta posição a olhar para o interesse do Estado português, mas a olhar sobretudo para o interesse da Europa, para o que podem ser as melhores decisões e os melhores equilíbrios, para podermos ter eficácia nos trabalhos das instituições europeias nos próximos anos”, defendeu.
A cimeira europeia de quinta e sexta-feira, em Bruxelas, tem no centro da discussão os altos cargos das instituições da UE no próximo ciclo institucional (2024-2029) na sequência das eleições europeias, havendo já um aval político preliminar entre o centro-direita, os socialistas e os liberais ao nome do ex-primeiro-ministro português António Costa para a liderança do Conselho Europeu, ao de Ursula von der Leyen para um segundo mandato na Comissão Europeia e ao da primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, para chefe da diplomacia comunitária.
“Continuando a ser expectável a manutenção de um pré-acordo que foi tornado público, é nossa convicção que a candidatura de António Costa a presidente do Conselho Europeu se irá consumar amanhã mesmo”, afirmou Montenegro.
Do Conselho Europeu dos próximos dois dias, o primeiro-ministro disse esperar o reforço das medidas de apoio à Ucrânia. “Não nos cansaremos na Europa de poder lançar mão de todos os mecanismos para garantir o apoio político, econômico, militar e humanitário à Ucrânia”, assegurou.
Na cimeira, acrescentou, será também expectável que a Europa debata o aumento do investimento na área da segurança e defesa e que o desenvolvimento das políticas de competitividade econômica.
“Infelizmente, nos últimos anos não se conseguiu não concluir a União Bancária e a União de Mercado de Capitais, instrumentos fundamentais para a diversificação de financiamento das empresas”, afirmou.
Sobre outro dos pontos na ordem de trabalhos do Conselho Europeu, a Agenda Estratégica para 2024-2029, Montenegro disse esperar que possa “sair reforçada” desta cimeira de forma a aumentar a prosperidade econômica da UE que garante e “o modo de vida europeu”.
“Em muitas ocasiões nós diminuímos a importância que as políticas públicas, à escala individual dos Estados Membros e da União Europeia, provocam na qualidade de vida das pessoas. Se compararmos com o que acontece noutras geografias e noutros blocos comerciais, ainda continua a ser claramente um privilégio ser português e ser europeu”, defendeu.
Na fase de perguntas das várias bancadas, o deputado do Livre Rui Tavares elogiou Portugal por ter sido capaz de “ocupar lugares de topo” na União Europeia, mas, ao mesmo tempo, lamentou que o país tenha perdido influência nos lugares intermédios e desafiou o Governo a implementar uma proposta do partido incluída no Orçamento deste ano para criar um instituto europeu de formação.
O primeiro-ministro manifestou concordância com as preocupações do Livre, e prometeu tudo fazer para “inverter esta situação”, sem se comprometer, contudo, com a criação deste instituto para já.
O debate preparatório do Conselho Europeu terminou meia hora antes do jogo da seleção nacional de Portugal contra a Geórgia, o que serviu de argumento ao presidente da Assembleia da República, Aguiar-Branco, para pedir serenidade nos trabalhos.
“Portugal está quase a entrar em campo”, avisou, com o primeiro-ministro a manifestar o desejo de que, também no Europeu de futebol, Portugal possa estar na linha da frente.
Vergonha
Luís Montenegro, considerou que António Costa é “o melhor socialista” para presidir ao Conselho Europeu não por ser português, mas pelas suas características.
“Eu considero que António Costa é mesmo o melhor socialista daqueles que estão com condições de ser candidatos à presidência do Conselho Europeu para o exercício daquela função em concreto. Não é só por ser português, é pelas suas próprias características”, enfatizou o primeiro-ministro.
Já o presidente do Chega acrescentou que existem “outros que se hoje olhassem para o líder do PSD” e o ouvissem dizer que o antigo primeiro-ministro socialista “tem grandes qualidades de governo e de governação corariam de vergonha”.
“A história registará que liberais, socialistas e sociais-democratas se uniram para apoiar António Costa quando aqui o quiseram derrubar”, afirmou.
Na resposta, o primeiro-ministro salientou que fez oposição aos governos de António Costa “do primeiro ao último dia”, primeiro enquanto líder parlamentar do PSD, entre 2015 e 2017, e mais recentemente como presidente do PSD.
“Significa isso que eu não tenho condições para reconhecer as suas características enquanto político, que não tenho condições para reconhecer as suas capacidades para estar à altura de uma função que é de conciliação, de agregação de famílias políticas diferentes”, questionou.
Luís Montenegro disse também a André Ventura que enquanto “não tiver capacidade para perceber isto, não percebe nada e não vai conseguir o objetivo que quer para o seu percurso político”.