Governo perplexo com “falsas mensagens e informação manipulada” em Convenção do Chega

RUI MINDERICO/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto alertou neste dia 14 para as propostas do Chega que traduzem “o princípio do desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde” e que “as falsas mensagens e a informação manipulada são balas apontadas à democracia”.

Comentando a intervenção do líder do Chega no encerramento da 6.ª convenção do partido, que terminou em Viana do Castelo, João Paulo Correia mostrou-se incomodado não só com os ataques à imigração e à igualdade de gênero, mas também como a “bomba atômica nas contas públicas” lançada por Ventura no decorrer da reunião, através de propostas que “não foram explicadas”, mas que representariam um encargo de mais de 11 mil milhões de euros anuais para o Estado.

João Paulo Correia, que esteve na convenção a representar o Governo, apontou o exemplo da “revitalização das parcerias público-privadas na área da saúde” proposta por Ventura que, se fosse para a frente, significaria “o princípio do desmantelamento” do SNS.

“Ficámos mais uma vez perplexos”, disse, repudiando a “mensagem de ódio divisionista” e as “promessas impossíveis de concretizar”, que, em sua opinião, traduzem apenas “uma demagogia para caçar votos” por parte de André Ventura.

O secretário de Estado deu o exemplo do “ataque à imigração”, lembrou que os imigrantes deixam um saldo positivo de 1.800 milhões de euros, mas também do “ataque à igualdade de gênero”, visando medidas como “proteger a mulher na gravidez” e que, a avançarem, “fariam com que Portugal regredisse em matéria de direitos sociais”.

Para contrariar estas tendências, disse que “o voto mais seguro e que oferece mais condições é o voto no PS”.

Também dia 14 o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, afirmou que metade das propostas do Chega são impossíveis de concretizar e “a outra metade é impossível aceitar”, acusando o partido de mentir aos portugueses.

“O Chega apresenta-se perante os portugueses com a mentira, com a manipulação, com o único objetivo de seduzir aqueles que estão descontentes, aqueles que estão zangados. Mas a pergunta que nós temos de colocar e todos têm de colocar é se têm soluções”, declarou Pedro Nuno Santos, no encerramento do XXI Congresso do PS/Madeira, no Funchal.

“Não, o Chega não tem soluções para os problemas do país. Grita, fala alto, mas não tem solução para nenhum problema nacional”, considerou o secretário-geral socialista, acrescentando que o Congresso do Chega “é o congresso da mentira”.

A Convenção

Fortes ataques ao PS e críticas à AD, à imigração e à igualdade de gênero marcaram a 6ª convenção do Chega, na qual se fez ouvir também a reivindicação do partido como segunda força política e o objetivo de ganhar as eleições.

A reivindicação do legado de Sá Carneiro foi outra das linhas-chave da convenção, com André Ventura a citá-lo várias vezes no seu discurso de encerramento.

“‘Não posso, porque não tenho esse direito, calar-me perante a injustiça’”, citou, para enfatizar o papel do Chega como alternativa ao Partido Socialista, uma vez que “outros desistiram de ser oposição”, disse, referindo-se ao PSD, mas cujo líder nunca mencionou.

“Para politicamente correto já temos o PSD, não precisamos de mais”, afirmou a dado passo Ventura, a propósito do que chama “a subsidiodependência”.

“Desde o dia 01 do nosso governo a fiscalização à subsidiodependência vai ser uma realidade em Portugal”, garantiu o líder do Chega reiterando um tema que lhe é caro, o do fim do rendimento social de inserção (RSI).

Dirigindo-se “às centenas de milhares de subsidiodependentes”, André Ventura prometeu que estes só o terão se dele precisarem, “senão trabalhem como toda a gente tem que trabalhar”.

André Ventura, que foi reeleito presidente com 98,8% dos votos, garantiu que este é “o tempo do Chega” e que está “preparado para ser primeiro-ministro de Portugal”. “Sinto me tão pronto hoje, como sei que Sá Carneiro se sentia para ser primeiro-ministro em 1979”, salientou.

Já no início da convenção, o líder do Chega galvanizara a plateia ao afirmar que o partido tem de deixar de ser um partido de protesto, para passar a ser “um partido de governo e de apresentação de soluções”.

A sessão de encerramento, com uma coreografia que incluiu a agitação de bandeiras a cada passo do discurso de André Ventura, foi também assinalada pelo lançamento de confetes, pirotecnia e fumo, tudo embalado pelo som ensurdecedor da música dos anos oitenta dos Fire Inc., “Nowhere fast”.

Na convenção, foram também anunciadas as primeiras medidas eleitorais, como a nivelação das pensões mínimas pelo salário mínimo em seis anos, a equiparação dos subsídios das forças de segurança aos da Polícia Judiciária e o fim das ajudas para promover a igualdade e a ideologia de gênero.

Outras, como a reversão da extinção do SEF e da lei da nacionalidade “para que ninguém possa entrar sem saber falar a língua e conhecer a cultura portuguesa”, a recuperação em quatro anos do tempo integral de serviço dos professores e o lançamento de uma taxa sobre os lucros da banca “para pagar os créditos de habitação” já tinham sido referidas pelo partido anteriormente.

Quanto à promessa repetida antes da convenção de serem ali serem divulgados os candidatos captados a outros partidos, o anúncio ficou por cinco nomes, feito por André Ventura no discurso final: o ex-secretário de Estado da Defesa do PSD Henrique de Freitas, Miguel Matos Chaves, do CDS, Diogo Prates e Simões de Melo, da IL, e o advogado que esteve no processo da Casa Pia António Pinto Pereira.

Neste contexto, elegeu como principal alvo o PS e Pedro Nuno Santos, que acusou de querer trazer de volta o “Portugal de 1974” e, com o PCP e o BE, ser um “trio de horrores”.

O mote do ataque ao PS e ao socialismo foi secundado por sucessivos delegados que subiram ao palco, com o deputado Bruno Nunes a dizer que se o PS ganhasse as eleições, os que nele votaram “deviam ser colocados dentro de um frasco e enviados para a NASA para serem estudados”.

Um outro, Manuel Matias, pai da deputada Rita Matias e mandatária nacional da campanha, propôs um minuto de silêncio – cumprido pelos delegados – pelas “vítimas da corrupção e do socialismo que matou milhares de pessoas porque não há hospitais, não há saúde, não há ambulâncias”.

Comum também a muitos os ataques à AD, cujo “espírito reformista de Sá Carneiro” consideraram estar no Chega e não na “suposta nova AD”, sobre a qual o adjunto da Direção Diogo Pacheco de Amorim disse ser “’fake’ [falsa], feita na Tailândia”, nascida “para lutar contra a direita”.

Também o vice-presidente Tanger Corrêa recolheu fortes aplausos da sala ao dizer que o Chega é a “representação daquilo que é a Aliança Democrática verdadeira e única, não é esta imbecilidade e esta estupidez que criaram agora”.

Os temas que, todavia, arrancaram sempre forte entusiasmo na plateia foi o da igualdade e identidade de gênero, cujas politicas governamentais o Chega promete abolir, e o combate à imigração.

Aos apelos à família tradicional juntaram-se os ataques aos imigrantes que, segundo o próprio Ventura, “vêm obrigar as nossas mulheres a usar burcas” e “mudar a bandeira e história” de Portugal.

Além das promessas dirigidas às forças policiais, outras anunciadas na convenção foram a equiparação faseada das pensões mínimas ao salário mínimo nacional até 2030, o corte das verbas orçamentais relativas à igualdade e identidade de género, o fim do IMI (imposto sobre os imóveis), e do IUC (imposto de circulação), bem como a aplicação do IVA zero aos produtos essenciais e a “todos os produtos portugueses” e do IVA a 6% para a restauração.

No seu primeiro discurso, André Ventura havia ainda de anunciar a intenção – sempre se viesse a ser governo – de acabar com a contribuição do Estado para a constituição de um Museu sobre a guerra colonial em Angola.

Os dirigentes do Chega não chegaram a explicitar como seriam encontradas verbas para as medidas propostas, as quais, do ponto de vista orçamental, equivaleriam a mais de 11 mil milhões de euros a mais, de acordo com o secretário de Estado para a Juventude e Desporto João Paulo Correia, presente na sessão de encerramento.

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