Incontestavelmente as perspectivas para o segundo governo de Dilma Rousseff não vão indo bem. O tempo passa e o cenário não dá sinais de melhora. Ao contrário, recente pesquisa de opinião realizada pelo DataFolha aponta que ela tem um índice de rejeição de 71% pelos entrevistados, pior do que a situação de Fernando Collor, antes de sua queda em 1992. São apenas 8% os que consideram seu governo bom ou ótimo. Na região Centro-Oeste, foi registrada a maior taxa de reprovação, chegando a 77%. Um pouco menos, mas também mal, no Sudeste e no Sul, 73% dos entrevistados disseram que o governo é ruim ou péssimo. No nordeste, 66% entendem que a administração é ruim ou péssima. Está difícil.
Dilma no final de seu primeiro mandato sofreu muito com as repercussões das manifestações sociais que aconteceram nas grandes cidades em 2013. A princípio, as pessoas saíram às ruas para reivindicar redução na tarifa e melhora nas condições de transporte. Mas, o movimento foi se ampliando e outras pautas sendo agregadas. A oposição, tomada de surpresa pelos acontecimentos, soube com rapidez aproveitar muito bem a ocasião e conseguiu ampliar a crítica dirigindo-a contra o governo federal, apoiada de forma intensa pela grande mídia comercial, com claras intenções de roubar energia da candidata às vésperas das eleições. O páreo foi, então, inevitavelmente muito duro. Porém, 54 milhões de votos fizeram de Dilma a vencedora para um novo mandato. No entanto, as condições de governabilidade passaram a ficar mais debilitadas.
Um Congresso bastante conservador surgiu das urnas e lideranças hostis ao governo conseguiram ocupar cargos importantes nas duas casas. E não houve mais, daí adiante, um momento de tranqüilidade para o governo. Foi uma espécie de terceiro turno que se decretou.
Sucessivas denúncias de corrupção se multiplicaram, com grande destaque midiático para as ações da Polícia Federal e a atuação do juiz Moro, de Curitiba, na chamada ‘Operação Lava Jato’. Ela fora iniciada no primeiro trimestre de 2014, pretendendo apurar um esquema de lavagem de dinheiro e favorecimentos que atingia gestores e parceiros da Petrobrás. As investigações caminharam até atingir diretorias de poderosas construtoras do país, várias delas atuando há décadas em grandes obras públicas. E as ameaças de envolvimento da Presidenta com os esquemas são permanentemente lembradas, apesar de até aqui não terem sido provadas. Vale lembrar que a Polícia Federal e o judiciário decidiram um corte nas investigações com foco a partir de 2003, Governo Lula, isolando as ações dos antecessores. Assim, há um grande estrago político evidenciado. E que impõe sobre a presidência fortes reveses, especialmente contando entre seus aliados com políticos oportunistas, dificultando, por exemplo, os ajustes fiscais pretendidos para reorganização econômica, conforme o ministro da Fazenda. Uma oposição generalizada que se estrutura, incluindo setores extremamente reacionários que são detectáveis em organizações nas redes sociais ou em agressões a estrangeiros, como os haitianos baleados em São Paulo, por ‘roubarem os empregos’ dos locais. Democracia em risco.
Com o mercado internacional não vivenciando um momento favorável, a economia brasileira patina por falta de exportações adequadas e pelo mercado interno estar pouco aquecido devido aos baixos investimentos, às altíssimas taxas de juros, pela inflação resistindo e o desejo do governo de fazer cortes nos gastos. Tudo isto, unido às sombrias perspectivas políticas, com sucessivos pedidos de impeachment e envolvimento de empresários nos processos policiais, se constrói assim um ambiente turbulento para a nação. A taxa de desocupação chegou a 8,1% em maio. O PIB já andava baixo nos últimos anos e, em 2015, não deverá ser diferente. O FMI projeta que a economia brasileira sofrerá uma queda de 1,5%, prevendo uma recuperação do PIB a partir de 2016, mas em ritmo mais lento: de 0,7%.
O governo Dilma não soube catalisar a vitória nas eleições. Tomou decisões desagradáveis aos movimentos sociais e apertou os trabalhadores, seus aliados, em um momento de dificuldades econômicas para o país, enquanto os rentistas e especuladores aproveitam os enormes benefícios do lucrativo mercado financeiro. Uma intensa preocupação atinge as conquistas sociais, tanto pelo cerco dos conservadores quanto pelo desempenho da economia. Cresce, por exemplo, o fantasma das terceirizações ou a redução da maioridade penal e, ao mesmo tempo, há perda na renda devido ao desemprego. A ampliação do número de postos de trabalho com carteira assinada, uma conquista dos anos recentes, sofreu retrocesso. Os grupos sociais menos abastados são mais fragilizados e os primeiros a sentir os efeitos da crise. As pesquisas são, assim, reflexo do inferno vivido pela atual gestão Dilma, que mal começou. Todavia, não se enganem: não há do outro lado saídas justas, apontadas por um liderança segura, coerente, honesta, democrata e patriota. A lógica é a do mero revanchismo devido nova derrota recente nas urnas com a estratégia desestabilizadora do ‘quanto pior melhor’. Preço triste que paga esta nação por um governo fraco e uma oposição inconseqüente. São Paulo, 6 de agosto de 2015.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo